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Dois dias depois de seis reféns israelitas terem sido encontrados mortos em Gaza, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, deu esta segunda-feira uma rara conferência de imprensa. Depois de pedir desculpas aos familiares das vítimas, Netanyahu focou-se em justificar a sua insistência em permanecer no Corredor de Filadélfia.

“Quero repetir o que prometi às famílias das vítimas: Israel não vai ficar em silêncio perante este massacre”, afirmou o chefe de Governo israelita logo à partida, definindo quatro objetivos concretos: a derrota do Hamas, o regresso dos reféns, o fim da “ameaça securitária” que Gaza representa para Israel e o regresso dos habitantes do norte do país às suas casas.

Apresentando um mapa da Faixa de Gaza, Netanyahu argumentou que a presença no Corredor de Filadélfia é “crucial” para cumprir os três primeiros objetivos. Uma vez que este território é a única fronteira do enclave palestiniano que não é controlada por Israel, o primeiro-ministro argumentou que é utilizada pelo “eixo do terror” — termo para definir o Irão e os seus aliados — para fornecer armamento ao Hamas.

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“O Corredor de Filadélfia não é um problema de agora, eu falei disto há 20 anos. Eu disse ‘se não o fizermos, vamos criar um monstro'”, relatou Netanyahu, numa referência à saída israelita de Gaza em 2005. “Não é só uma tática militar, é uma questão diplomática porque, se retirarmos vamos enfrentar uma enorme pressão internacional para não voltarmos a entrar”, argumentou, voltando a mencionar o passado.

Benjamin Netanyahu continuou, referindo-se diretamente às exigências para um acordo de cessar-fogo e defendendo que tem sido mais “flexível” e feito mais “concessões” que o Hamas e que o grupo se aproveita destas “fraquezas”. Porém, afirmou que esta flexibilidade acabou quando mataram os seis reféns. “Temos [o Hamas] preso pelo pescoço e não vamos cair nesta armadilha”, afirmou. “Que mensagem é que isto envia ao Hamas: matem reféns e nós fazemos concessões? É um incentivo ao terrorismo”, acrescentou.

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“Achei que depois do 7 de outubro tínhamos aprendido a ser mais cautelosos”: a resposta aos críticos

No seu discurso, Benjamin Netanyahu abordou aquela que tem sido a sugestão mais vezes feita pelos oficiais israelitas: sair do Corredor de Filadélfia agora e, caso seja necessário, voltar a entrar mais tarde. Sem rodeios, o primeiro-ministro argumentou que “já ouviu essa desculpa antes sobre o Líbano e, milhares de mísseis depois, não houve apoio internacional para reocupar o território”.

Sem mencionar diretamente nomes, Netanyahu deixou uma resposta pública a todos os que fizeram esta proposta, lista que inclui o comandante das IDF, Herzi Halevi, o líder da Mossad, David Barnea, o líder das Shin Bet, Ronen Bar, e o ministro da Defesa, Yoav Gallant. “Para todos os que dizem ‘depois voltamos a entrar’: achei que depois do 7 de outubro tínhamos aprendido a ser mais cautelosos”, afirmou.

“Está a abandonar os reféns”: as críticas exaltadas que Gallant deixou a Netanyahu durante o Gabinete de Guerra

O chefe do Governo mencionou ainda a divulgação das atas confidenciais da reunião do Gabinete de Guerra, que revelam uma discussão com Gallant. Garantindo que dá aos seus ministros liberdade para falar, explicou que lhes exige apoio público depois da medida ser aprovada. Contudo, questionado diretamente sobre se vai demitir o ministro da Defesa, Netanyahu não deu uma resposta inequívoca, criticando antes a divulgação de “informação interna”.

A desinformação como “instrumento de guerra para o Hamas”

Na mesma medida em que condenou a divulgação das atas, Netanyahu defendeu também que “quer deixar um elemento surpresa” nas suas ações tanto contra o Hezbollah, como contra o Hamas, recusando por isso apresentar uma linha temporal sobre o conflito na fronteira com o Líbano e garantindo apenas que “estão a ser tomadas ações”.

Argumentou ainda que estas divulgações beneficiam o Hamas tanto como a desinformação promovida pelos jornalistas, ao “porem palavras na sua boca”. Sobre o facto de ter aceite a proposta de cessar-fogo de maio — que não incluía a permanência em Filadélfia — Netanyahu afirmou que nunca tinha aceite “a diluição das tropas israelitas em Gaza”. “O que eu disse é que é importantes estarmos espalhados do mar até à passagem de Kerem Shalom, mas que não precisávamos de uma presença a cada metro”, argumentou.

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As críticas aos media estenderam-se, indiretamente, ao facto de não promoverem a união dos israelitas. “A nossa nação não vai ceder a esta pressão. A maior parte das pessoas percebe e concorda com isto, não interessa o que veem na televisão”, afirmou o chefe do governo, numa referência às imagens dos milhares de pessoas em manifestações por todo o país.

“Não vou criticar o que diz uma família em luto”

Questionado diretamente sobre as duras acusações que as famílias dos reféns — os que já morreram e os que ainda estão em Gaza — têm deixado nestes protestos, Netanyahu respondeu que não ia criticar “o que dizem as famílias quando estão de luto”.

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No início do seu discurso, o primeiro-ministro já tinha deixado um pedido de desculpas às famílias dos seis reféns mortos e reconhecido o erro de Telavive de não os ter conseguido trazer de volta. Contudo, quando foi confrontado com “a magnitude do seu erro”, que podia ter sido “evitado se tivesse ouvido aos seus conselheiros” e desistido de Filadélfia, Benjamin Netanyahu respondeu que “a morte dos reféns não aconteceu por causa desta decisão, mas por causa do Hamas”.

O final em inglês, pedindo pressão internacional sobre o Hamas

Durante a conferência de imprensa, Netanyahu admitiu que não tinha ouvido as declarações de Joe Biden horas antes, em que o acusava de não estar a fazer o suficiente para trazer os reféns para casa. “Não sei o que disse Biden”, afirmou simplesmente. Em vez disso, destacou os vários comentários positivos que Antony Blinken tem deixado sobre as negociações e argumentou que “pessoas sérias”, como os norte-americanos, reconhecem que Israel está mais disponível para o diálogo que o Hamas.

Esta resposta foi repetida no final, desta vez em inglês, ao único jornalista internacional que interveio. “A pressão internacional tem de ser dirigida ao Hamas e não a Israel”, rematou Benjamin Netanyahu, depois de insistir que está no caminho para atingir a “vitória total”.