Não era propriamente expectável, tornou-se a surpresa do dia: cerca de mês de meio depois do final do Euro 2024, Cristiano Ronaldo foi o primeiro elemento da Seleção Nacional a surgir nas conferências de imprensa diárias antes dos jogos contra a Croácia e a Escócia, a contar para a Liga das Nações. Visivelmente bem disposto, com sentido de humor e muitas piadas pelo meio, falou de futebol, da integração dos mais novos e até de Fórmula 1. 

De forma natural, as primeiras perguntas prenderam-se com a eliminação do Euro 2024, contra França e nos quartos de final, e sobre o possível fim da carreira internacional. Sucinto, Cristiano Ronaldo garantiu que “nunca lhe passou pela cabeça” deixar a Seleção depois do Europeu e que a saída precoce da competição até lhe deu “mais motivação para continuar”. “Isso foi tudo da imprensa. A motivação para continuar a vir é ganhar a Liga das Nações. Preparar os treinos e encarar esta prova para ganhar. Não penso a longo prazo, é sempre a curto prazo”, começou por dizer, acrescentando que o Euro 2024 não foi “um fracasso”.

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“Na vida de um futebolista há bons e maus momentos. Quando as coisas vão bem, é difícil evoluir e tiramos ilações, no futebol e na vida. Temos de saber encarar os maus momentos com otimismo e leveza, a vida é assim. A expectativa que as pessoas colocaram na Seleção no Europeu foi demasiado alta e acabaram por se perder nisso. A meu ver não foi uma desilusão, foi parte do crescimento de uma Seleção que tem de ter o seu tempo. Foi positivo. Ninguém gosta de perder, mas para mim não foi um fracasso, acho que foi uma vitória”, explicou o avançado do Al Nassr, que saiu de França sem qualquer golo marcado.

Mais à frente, sobre a possibilidade de continuar a ser convocado para a Seleção Nacional, mas perder a titularidade, Cristiano Ronaldo deu à volta à questão e sublinhou que terá sempre “o pensamento de que será titular”. “Respeitando sempre o treinador. Sempre que existir ética profissional, respeitarei os treinadores. Se fugir da ética, aí sim, pode haver controvérsia. Quando sentir que não sou uma mais-valia, sou o primeiro a ir embora. Sei o que posso fazer e vou continuar a fazê-lo. Encaro o presente de forma muito positiva. Sinto-me feliz. Quando chegar esse momento, darei o passo em frente. É escusado as pessoas opinarem. Não será uma decisão difícil de tomar”, atirou.

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“A crítica é ótima, se não existir crítica não há evolução. Tento ajudar a Seleção e o clube, não só com golos, mas com assistências, disciplina, sendo um exemplo. O futebol vai mais além de golos e assistências. As pessoas nunca estiveram num balneário. Como é que vou opinar sobre Fórmula 1 se nunca estive dentro de um carro, se não percebo de pneumáticos, de jantes, do peso do carro? Mas é normal. A crítica é normal, continuem!”, acrescentou, comentando ainda que “não vive obcecado” com a marca dos 1.000 golos na carreira e que a marca atual, 899, não lhe “parece nada má”.

A conferência de imprensa abordou ainda o atual momento da Seleção Nacional, entre os jogadores mais experientes da geração anterior e os muito jovens das novas gerações que foram convocados por Roberto Martínez para o próximo duplo compromisso, e Cristiano Ronaldo aproveitou para revelar um momento curioso com Geovany Quenda, ala de 17 anos do Sporting.

“Sempre fez parte da Seleção integrar os mais novos. Sempre foi assim e para mim é normal. Desde o tempo em que eu estou na Seleção que os mais novos têm sido sempre bem recebidos. O meu papel será sempre o mesmo, ajudar quem vem, mas muitos na equipa têm cumprido esse papel muito bem. Muitos deles têm vergonha de falar comigo! Há bocado estava a subir para o quarto e vi o miúdo de 17 anos, o Quenda, e fui ter com ele e disse: ‘Então, jogador, estás recuperado do jogo [Clássico com o FC Porto]?’. E ele ficou envergonhado. Na Seleção sou um irmão mais velho, pai pode ser para alguns”, terminou.

Por fim, sobre a possibilidade de ainda estar presente no Mundial 2026 — onde terá 41 anos –, Cristiano Ronaldo atirou a decisão para o futuro. “Sinto-me bem, quase em forma. Mas é em 2026 e não posso responder a essa pergunta. O momento é bom e é viver neste momento, que é muito positivo. É tentar entrar bem na Liga das Nações. 2026? Há muita história pelo meio”, disse.