Um discurso com muitos aviso à navegação socialista. No discurso de encerramento da Festa do “Avante!”, Paulo Raimundo fez duras críticas ao Governo de Luís Montenegro, responsável de turno por continuar o “rumo desastroso” a que está votado o país, e deixou um recado sério a Pedro Nuno Santos, que continua por definir a sua posição em relação ao próximo Orçamento do Estado. “Não se pode ficar em cima do muro.”

“Cabe ao PSD e ao CDS o turno de governação e de execução deste rumo desastroso. Com os seus sucedâneos do Chega e da Iniciativa Liberal, que, para além de serem convictos apoiantes das opções em curso, são autênticas lebres de corrida das velhas receitas saudosistas e reacionárias a que Abril pôs termo. Se há coisa de que o país não precisa é das receitas à moda do Chile do Pinochet ou da Argentina do Milei”, começou por dizer Raimundo, antes de apontar baterias aos socialistas.

“Quanto ao PS, que se reclama da oposição, quando teve a oportunidade de inverter este caminho, e teve, não só não o fez, como lhes escancarou completamente as portas. Um PS que se prepara agora, a partir de serviços mínimos a que chamou linhas vermelhas, para justificar a viabilização de política que está em curso”, denunciou o comunista. “Não se pode ficar em cima do muro: ou se está com os que querem aprofundar a política de direita e concluir o processo contra-revolucionário, ou se está com as forças de Abril e da Constituição da República.”

Numa referência indireta a Marcelo Rebelo de Sousa, que tem feito repetidos apelos para que os partidos aprovem o Orçamento do Estado e evitem uma crise política, Raimundo garantiu que o partido não cede à “chantagem” dos que acenam com o papão da “instabilidade” e voltou a defender que agora é o tempo de todos, incluindo os socialistas, escolherem o respetivo lado. “Cada um que assuma as suas responsabilidades, sem jogos de sombras.”

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Antes, Paulo Raimundo já tinha criticado as decisões que conduziram à venda da TAP a David Neeleman, falando em “crime económico” e corresponsabilizando o PS e o Bloco de Esquerda por não terem permitido que a comissão parlamentar de inquérito tivesse ido mais longe. “É preciso parar e já a nova privatização em curso, garantido uma gestão pública que coloque a TAP, de uma vez por todas, a TAP ao serviço do país.”

Ao mesmo tempo, o comunista prometeu não deixar esquecer a venda da ANA. “Até quando PS e PSD vão continuar a travar a comissão parlamentar de inquérito a outro crime que foi a privatização da ANA? Não vamos desistir dessa batalha”, desafiou o líder do PCP.

“Genocídio” na Palestina e acusações à UE. Ucrânia não é referida

Na parte de discurso mais voltada para o plano internacional, e costuma servir de prelúdio à análise da situação política do país, Paulo Raimundo falou longamente sobre a situação que se vive na Palestina, fez duras acusações aos Estados Unidos e à União Europeia, saudou o povo cubano, a “Venezuela bolivariana” e o povo saaraui. Não houve, em nenhum momento, qualquer referência direta à Rússia ou à guerra na Ucrânia.

“Saudamos o corajoso povo palestiniano e reafirmamos a nossa solidariedade com a sua luta libertadora. Ao povo a ser massacrado por Israel aqui estamos nós a dizer ‘basta’. Aqui não calamos o genocídio do povo palestiniano às mãos da máquina de guerra de Israel com o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia, desses donde não surge uma iniciativa que vise o imediato cessar-fogo. Pelo contrário: o que vemos é o envio de armas e mais armas para prosseguir o genocídio. São todos hipócritas. São todos cúmplices e promotores do massacre em curso”, criticou Paulo Raimundo.

Mais à frente, o secretário-geral comunista voltaria a acusar Bruxelas e Washington de estarem a alimentar os conflitos globais, acusando a União Europeia de estar “cada vez mais às ordens dos Estados Unidos”, abrindo “as portas a conceções e forças reacionárias e fascistas.

“Os Estados Unidos e outras potências capitalistas não hesitam em recorrer ao seu braço armado, a NATO, e ao fascismo para intensificar as provocações, as chantagens, as sanções, golpes e guerras contra países que não se submetem às suas regras.  Não nos arrastam para a propaganda de guerra. Não nos arrastam para o discurso do ódio. Paz, sim; guerra, não”, rematou Raimundo.