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Há mais de um mês que as tropas ucranianas estão em território russo. Foi a primeira incursão terrestre no país invasor desde que a guerra começou há mais de dois anos e meio e foi visto como um volte-face na estratégia de Zelensky. Mas agora parece que a Ucrânia está a perder terreno em Kursk. Ou não.
Para o Presidente ucraniano, a contraofensiva russa na região de Kursk segue o plano traçado por Kiev. Mas o que se passa nesta zona fronteiriça?
O ministério da Defesa da Rússia alega que as ações ofensivas dos últimos dias lhe valeram a libertação de dez povoações e, mesmo com Volodymyr Zelensky a reconhecer a existência de um contra-ataque, o Pentágono já desvalorizou a reação de Moscovo.
“O que temos visto são unidades russas que começam a tentar conduzir algum tipo de contraofensiva na região de Kursk. Nesta fase, diria que é marginal, mas é algo a que estamos obviamente atentos”, afirmou na quinta-feira Pat Ryder, major-general e porta-voz do Pentágono, em conferência de imprensa.
O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês) faz uma leitura mais fina. Avança que exército russo enviou militares mais experientes para a região ocupada pela Ucrânia e que se prepara para dividir a incursão inimiga antes de lançar um contraofensiva em larga escala.
O think tank sediado nos Estados Unidos da América recolheu imagens geolocalizadas, nos dias 10 e 11 de setembro, que permitem notar que as forças russas retomaram posições a leste de Zhuravli (a nordeste de Korenevo) e avançaram para norte e nordeste de Snagost (a sul de Korenevo). As áreas mencionadas estão assinaladas a vermelho num mapa interativo publicado pelo instituto.
“A dimensão, a escala e as potenciais perspetivas dos contra-ataques russos de 11 de setembro em Kursk não são claras e a situação permanece fluida à data do presente relatório. É prematuro tirar conclusões sobre os novos contra-ataques da Rússia e o ISW continuará a acompanhar a situação”, informa o instituto no seu mais recente relatório sobre a guerra na Ucrânia.
Segundo o ISW, apesar de várias fontes russas terem afirmado que tomaram completamente a cidade de Snagost, não foi observada “confirmação visual destas afirmações”. Além disso, alega que as forças ucranianas continuaram a contra-atacar em áreas onde as forças russas lançaram contraofensivas e fizeram ataques adicionais fora do território já ocupado, obtendo ganhos em Glushkovsky Raion.
As provas visuais recolhidas pelo instituto sugerem que as forças russas que contra-atacam em Kursk estão a “operar em unidades de tamanho de companhia e podem estar a utilizar elementos de unidades mais experientes em combate para conduzir contra-ataques”.
NEW: Russian forces continued counterattacking throughout the Ukrainian salient in Kursk Oblast on September 12 but made only marginal gains, likely due to continued Ukrainian offensive operations and defensive counterattacks in the area. ????(1/5) pic.twitter.com/yZbn5VcKrj
— Institute for the Study of War (@TheStudyofWar) September 13, 2024
De acordo com o mesmo relatório, as forças russas podem ter a “intenção de dividir temporariamente a conquista ucraniana em Kursk antes de iniciarem um esforço mais organizado e bem equipado para empurrar as forças ucranianas para fora do território russo”. Os locais onde as forças russas estão atualmente a conduzir contra-ataques, ao longo do limite ocidental da incursão ucraniana em Kursk, são “maioritariamente compostos por campos e pequenas povoações”, informa ainda o instituto.
Zelensky diz que tudo corre como planeado. Lavrov promete “empurrar para fora” os invasores
O Presidente da Ucrânia defende que a contraofensiva da Rússia estava nos seus planos. Desde 6 de agosto, quando as forças ucranianas entraram em Kursk, sempre pretenderam que Moscovo desviasse tropas de dentro do seu território, fazendo com que diminuísse a ofensiva da Rússia no Donbass e em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia.
Além disso, se Kiev mantivesse os territórios russos ocupados durante algum tempo, poderia usá-los como uma moeda de troca para eventuais negociações de paz. Ou seja, as autoridades ucranianas podem apenas libertar Kursk, e eventuais territórios que consiga conquistar, se a Rússia concordar em desocupar territórios ucranianos.
A Rússia, por seu turno, diz que os planos de Kiev falharam. Não só não baixou a intensidade dos ataques no Donbass, onde, segundo o ministro da Defesa, têm estado a conquistar terreno, como vão no sentido de retirar esta vantagem tática à Ucrânia. Sergey Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, garante que o exército russo começa agora, com a contraofensiva, a “empurrar” firmemente as forças ucranianas para fora da região de Kursk e que vai, sem dúvida, conseguir completar esta tarefa.
“O número de ataques dirigidos a instalações civis e de tiroteios contra civis está a aumentar acentuadamente todos os dias. Podemos ver tudo isto, incluindo no âmbito da invasão ucraniana de cariz terrorista na região de Kursk, de onde eles [os militares ucranianos] estão agora a ser empurrados para fora e serão empurrados para fora, sem qualquer dúvida”, sublinhou o principal diplomata russo, a participar numa mesa redonda de embaixadores russos, citado pela TASS.
Lavrov sublinhou ainda que “os ataques terroristas a infra-estruturas e a civis nas regiões de Belgorod e Bryansk, bem como o lançamento periódico de drones de ataque noutras regiões fronteiriças da Rússia, têm vindo a ocorrer há mais de um ano” e criticou o fornecimento de armas ofensivas pelo Ocidente à Ucrânia que as tornam possíveis.