A história recente da Premier League deixava antecipar que este era o confronto mais importante da temporada em Inglaterra. O Manchester City recebia o Arsenal no Etihad, num duelo entre as duas equipas que nos últimos dois anos lutaram pela conquista do Campeonato — sempre com os citizens a sorrir e sempre com os gunners a saírem desiludidos.

Este domingo, Manchester City e Arsenal recuperavam o chip da Premier League depois de sortes parecidas durante a semana na Liga dos Campeões, já que a equipa de Pep Guardiola empatou a zeros com o Inter Milão e a de Mikel Arteta teve exatamente o mesmo resultado com a Atalanta. Internamente, porém, a história tem sido diferente: o City levava quatro vitórias em quatro jornadas, sendo líder isolado, e o Arsenal já escorregou ao empatar em casa com o Brighton.

Uma escorregadela que não deixava Pep Guardiola menos cauteloso. “O Arsenal está mais forte de ano para ano, no que toca à profundidade da equipa. Estão melhores a cada ano. Tem sido sempre um jogo equilibrado nos últimos anos. Acho que somos uma boa equipa, mas eles também são. Fazem coisas muito boas, são uma equipa completa e é por isso que têm sido o nosso principal rival nas últimas duas temporadas. Não faço mind games, podem perguntar ao Mikel. Não sou bom com mind games“, disse o treinador espanhol, garantindo que estava a ser sincero na hora de elogiar o adversário.

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“O jogo com a Atalanta acabou por ser positivo. Claro que queríamos ganhar, mas se não consegues ganhar, pelo menos não perdes. Há coisas que temos de melhorar, mas estamos a mostrar muita consistência enquanto equipa. Claro que temos noção do calendário e sabemos que é extremamente raro jogar sempre bem com três jogos enormes fora de casa em seis dias, mas é o que temos e temos de estar preparados para isso. Fisicamente, mentalmente e taticamente. Queremos estar nesta posição. Sonhámos com isto nos últimos anos e agora estamos aqui. Temos de retirar o melhor de tudo isto e aproveitar”, atirou Mikel Arteta, que ainda não sabe quanto tempo vai estar sem o lesionado Martin Odegaard.

Assim, Guardiola lançava Gündoğan e Rodri no meio-campo, com Savinho e Jérémy Doku nas alas e Bernardo a surgir nas costas de Haaland, sendo que Jack Grealish e Phil Foden começavam no banco e Kevin De Bruyne era ausência por lesão. Do outro lado, Arteta deixava Ben White como suplente e apostava na primeira titularidade do reforço Riccardo Calafiori, com Gabriel Martinelli e Saka nos corredores e Trossard a fazer companhia a Havertz no ataque.

O jogo começou desde logo com um momento atípico: nos segundos iniciais, Havertz abalroou Rodri e o médio espanhol teve de ser assistido. Os primeiros minutos da partida deixaram bem claro que o Arsenal ia apostar muito na agressividade defensiva para dar pouco espaço ao ataque do City, com Gabriel a demonstrar isso mesmo num duelo muito duro com Haaland, mas a verdade é que a equipa de Pep Guardiola não demorou a contrariar tudo isso de forma muito eficaz.

Ainda dentro dos dez minutos iniciais, Savinho rasgou toda a defesa do Arsenal com um passe vertical e descobriu Haaland entre os dois centrais, com o avançado norueguês a abrir o marcador na cara de David Raya (9′). Haaland chegou aos 100 golos pelo Manchester City em 105 jogos, igualando precisamente os números de Cristiano Ronaldo pelo Real Madrid para se tornar também o mais rápido de sempre a chegar à centena de golos por um clube.

O Arsenal ia demonstrando muitas dificuldades para travar o City, que estava claramente por cima e que não permitiam que os gunners passassem sequer do meio-campo, mas tudo mudou pouco depois do quarto de hora inicial. Rodri lesionou-se na sequência de um duelo com Partey e teve mesmo de ser substituído por Kovacic, uma mudança inesperada nas dinâmicas de uma equipa de Pep Guardiola que não conseguiu adaptar-se da melhor maneira à ausência do médio espanhol.

Pouco depois, tudo ficou ainda mais complicado. Na primeira aproximação mais perigosa à baliza de Ederson, Martinelli descaiu na esquerda e colocou a bola à entrada da grande área, com Riccardo Calafiori a surgir a rematar de primeira e a estrear-se a marcar pelo Arsenal com um grande golo (22′). Os gunners aproveitaram a onda e o facto de o City ter baixado as linhas e carimbaram mesmo a reviravolta com recurso à arma do costume: a bola parada, um aspeto do jogo da equipa de Mikel Arteta que se tem tornado absolutamente decisivo.

Saka cobrou um canto na direita e Gabriel, vindo de trás e ao segundo poste, cabeceou para colocar o Arsenal a ganhar (45+1′), numa repetição exímia de um lance em que tinha cabeceado por cima instantes antes. O jogo arrefeceu na ponta final da primeira parte, tornando-se claro que as duas equipas estavam ansiosas pelo intervalo e por alguma interrupção da vertigem, mas os descontos ainda tinham mais para contar. Ao derrubar Bernardo, Trossard viu o segundo cartão amarelo e foi expulso, deixando os gunners em inferioridade numérica para todo o segundo tempo.

Mikel Arteta mexeu logo ao intervalo, de forma previsível, e sacrificou Saka para recuperar o equilíbrio da equipa e colocar Ben White. O City voltou melhor para a segunda parte, procurando aproveitar rapidamente a superioridade numérica, mas Raya continuou a mostrar que está a atravessar um ótimo momento e defendeu um cabeceamento perigoso de Haaland (58′). O Arsenal apresentava-se muito recuado e com os setores muito próximos, de forma compreensível, e a equipa de Pep Guardiola ia montando um autêntico cerco à baliza contrária.

O domínio do City era avassalador e permitido pelo Arsenal, com os citizens a chegarem aos 90% de posse de bola, e os gunners iam resistindo graças às defesas importantíssimas de Raya e a um autêntico bloqueio defensivo assente num sistema que era uma espécie de 6×3. Pep Guardiola mexeu a 20 minutos do fim, trocando Doku por Phil Foden, e Mikel Arteta lançou Jakub Kiwior para fazer face ao desgaste de Calafiori, com o relógio a andar e o City a perder a capacidade de sufocar o adversário.

Jack Grealish, John Stones, Gabriel Jesus e Myles Lewis-Skelly ainda entraram, mas foi preciso esperar até ao último instante para ver algo mudar. Praticamente na derradeira jogada do jogo, na sequência de um canto curto na direita e com muita confusão na área, a bola sobrou para Stones e o inglês desviou para empatar (90+8′). Manchester City e Arsenal empataram no Etihad e deixaram tudo na mesma na Premier League, com os citizens a manterem a liderança isolada e os gunners a terem menos dois pontos e ainda menos um do que Liverpool e Aston Villa.