O terceiro lugar no Mundial 2018, quatro anos depois dos quartos de final no Mundial 2014, deixaram a ideia de que a Bélgica poderia mesmo surpreender os tubarões e chegar a patamares impensáveis. Com Roberto Martínez ao leme, a geração de ouro belga incluía alguns dos melhores jogadores do mundo, que atuavam em alguns dos melhores clubes do mundo – mas nunca chegou a dar o salto.

A eliminação na fase de grupos do Mundial do Qatar, no final de 2022, acabou por marcar o fim da futurologia. A saída de Roberto Martínez assinalou de forma mais vincada o ponto final de uma era, mas os passos seguintes têm vindo a deixar claro que os problemas da Bélgica se estendem bem para lá do que se passa em campo. E as notícias desta quarta-feira só sublinham isso mesmo.

De acordo com o jornal Le Soir, Kevin de Bruyne e Lukaku decidiram renunciar à convocatória para os jogos contra Itália e França, a contar para a Liga das Nações, já neste mês de outubro. A notícia acrescenta que os dois jogadores não abandonaram a seleção em definitivo e que pretendem estar no Mundial 2026, mas que o atual momento de instabilidade dentro do balneário e as desavenças com Domenico Tedesco levaram ao afastamento temporário.

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Lukaku já não tinha estado na convocatória para os jogos de setembro, contra Israel e França, mas na altura justificou a ausência com o facto de ainda estar a resolver a transferência do Chelsea para o Nápoles. Já De Bruyne protagonizou um momento que ilustrou a fase difícil que se vive na Bélgica: durante a derrota contra os franceses, aproximou-se do banco de suplentes para falar com o diretor técnico Franky Vercauteren e disse repetidamente “ik stop”, algo como “desisto”. Mais tarde, na conferência de imprensa, sublinhou o descontentamento.

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“Posso aceitar que não somos tão bons como em 2018, sou o primeiro a admitir isso, mas vi outras coisas que são inaceitáveis, não posso tolerar a forma como jogámos esta noite. Não vou dizer o quê. Somos demasiados na defesa. Se ficarmos com seis atrás, não há ligação. É o que é. Não se trata de transição, mas de pessoas que não cumprem as suas tarefas”, atirou De Bruyne, que ainda acrescentou que não podia “repetir nos meios de comunicação social” o que tinha dito aos colegas durante o intervalo.

Com esta decisão, De Bruyne e Lukaku juntam-se a Courtois no lote de jogadores atualmente afastados das convocatórias de Domenico Tedesco. O caso do guarda-redes do Real Madrid, porém, é mais complexo. Tudo começou em junho de 2023, quando o selecionador decidiu retirar a braçadeira de capitão a Courtois durante um jogo contra a Áustria, na qualificação para o Euro 2024. No dia seguinte, o guarda-redes acabou por abandonar a concentração, justificando-se com dores no joelho a que tinha sido operado no ano anterior — mas Tedesco acusou-o de fingir a lesão e de deixar a Bélgica desprovida de um dos seus elementos mais importantes na partida seguinte.

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Já no passado mês de agosto, através das redes sociais, Courtois anunciou que iria afastar-se temporariamente da seleção, visando diretamente o selecionador. “Tendo em conta o que aconteceu com o treinador e depois de muita reflexão, decidiu não voltar à seleção da Bélgica sob a sua orientação. Olhando em frente, a minha falta de confiança no seu trabalho não iria contribuir para manter o necessário ambiente de cordialidade. A Federação, com quem mantive várias conversações, aceita a minha posição e as razões que me levaram a esta decisão dolorosa, mas coerente”, escreveu o jogador do Real Madrid.

Certo é que, de forma clara, a Bélgica precisa de virar a página e abrir a porta a um novo capítulo. Ainda antes do Euro 2024, Mignolet, Kompany, Alderweireld, Vermaelen, Mertens, Fellaini, Mirallas, Dembélé, Defour, Chadli, Origi, Januzaj, Eden Hazard e Batshuayi deixaram todos a seleção. Depois do Euro 2024, Courtois, Lukaku, Trossard, Witsel, Carrasco e Vertonghen não voltaram a ser convocados. Em resumo, da surpreendente equipa que ficou no terceiro lugar do Mundial 2018, só sobra mesmo Thomas Meunier.