Francisco Assis e José Luís Carneiro entendem que Pedro Nuno Santos não tem alternativa a não ser viabilizar o Orçamento do Estado para 2025. Sem nunca o dizerem abertamente, os dois socialistas, tidos como de uma ala mais centrista do partido, e por entre muito elogios à “coragem” do líder do PS, vieram empurrar Pedro Nuno para que chegue a um compromisso com Luís Montenegro.
Num artigo de opinião publicado no Expresso, intitulado “Compromisso Democrático”, Francisco Assis recorda que “não há democracia pluralista que resista ao predomínio dos dogmas e à exaltação da pureza sectária”. “Quando, em nome de uma verdade salvífica de natureza religiosa ou ideológica, alguns grupos humanos se autoatribuem um estatuto superior no plano axiológico, as democracias ficam ameaçadas”, começa por lembrar.
O eurodeputado socialista continua depois o texto sob a premissa de que o entendimento entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro é praticamente um dado adquirido — coisa que está ainda por provar. Ora, nas entrelinhas, o texto pode ser interpretado como uma forma de pressão sobre Pedro Nuno Santos para que o líder socialista chegue a acordo com os sociais-democratas.
Francisco Assis diz acreditar que Pedro Nuno Santos será capaz de “não se enclausurar numa oposição irredutível e sectária” e de chegar a um entendimento com Luís Montenegro. O eurodeputado elogia ainda o facto de ter sabido estar à altura do momento, apesar da “incompreensão” de uma fação do partido.
“Pela minha parte quero saudar o secretário-geral do PS que, ao agir desta forma, está a prestar um grande serviço ao país. A qualidade de um líder da oposição percebe-se nestes momentos difíceis, quando é preciso tomar decisões e estabelecer compromissos em nome do interesse geral, da democracia e do país, mesmo que isso acarrete momentâneas incompreensões nalgumas bases de apoio mais propensas à proclamação do que à responsabilidade”, escreve Francisco Assis.
O eurodeputado socialista, que apoiou Pedro Nuno Santos nas últimas eleições internas, deixa também um elogio a Luís Montenegro, pelo facto de a direita democrática não ter cedido à “tentação de um entendimento com a extrema-direita“.
É uma observação em contra-ciclo atendendo àquela que tem sido a estratégia da direção nacional do PS. Como explicava aqui o Observador, a equipa de Pedro Nuno Santos sempre manteve a esperança de que Luís Montenegro resolvesse a “vida dele com o Chega” e libertassem o PS para assumir o papel de líder da oposição.
Na CNN, no seu habitual programa de comentário, José Luís Carneiro optou por uma formulação semelhante. Sempre partindo do princípio de que o acordo está iminente, o candidato derrotado nas últimas eleições internas do PS, elogiou a “coragem” demonstrada por “ambas as partes”, em especial por Pedro Nuno Santos.
Repetindo várias vezes que “imperou o diálogo e o compromisso”, o ex-ministro da Administração Interna defendeu que ninguém, do Governo à oposição, quer eleições antecipadas e que isso explica a aproximação entre as duas partes.
Ao mesmo tempo, José Luís Carneiro, tal como Francisco Assis, defendeu que o PS tem a grande responsabilidade de evitar que Luís Montenegro se encoste a André Ventura para governar — tese que está muito longe de ser dominante na linha oficial do partido.
Ainda antes de Assis e Carneiro, já Fernando Medina elogiava o “esforço sério de aproximação” do Governo face às exigências do PS. Ora, depois disso, Pedro Nuno Santos apresentou uma contraproposta a Luís Montenegro que os principais protagonistas do PSD (Paulo Rangel, Hugo Soares, Castro Almeida e Pedro Duarte) consideraram inaceitável.
“Parece estranho, mas Pedro Nuno prefere eleições a baixar 1 ponto percentual do IRC”