Um ex-cirurgião francês de 73 anos foi acusado de violar e agredir sexualmente quase 300 jovens inconscientes no bloco operatório, muitos deles menores de idade. Joël Le Scouarnec vai ser julgado em 2025, depois de quatro anos de investigação, pelos crimes que alegadamente praticou entre 1989 e 2014, avança a imprensa francesa como a BFMTV ou o Le Fígaro.

Não é a primeira vez que o nome Joël Le Scouarnec surge nas notícias. Já tinha sido condenado a 15 anos de prisão por crimes sexuais contra menores (duas sobrinhas, uma vizinha de seis anos e outro menor), quando trabalhava no hospital de Jonzac, colocando-se então a hipótese de haver centenas de vítimas. Quatro anos de investigação comprovaram o que se receava. E para isso foram decisivos uns ficheiros de texto no seu computador com identidade das vítimas, assim como os abusos praticados.

E assim surge a nova acusação apresentada na segunda-feira no tribunal penal de Morbihan pelo procurador de Lorient, depois de um juiz de instrução ter decidido, a 27 de setembro, que o processo avançava para julgamento. Em conferência de imprensa, o procurador Stéphane Kellenberger detalhou que a idade média das vítimas — 158 de sexo masculino e 141 de sexo feminino — é de 11 anos, sendo que 256 tinham menos de 15 anos na altura em que os crimes foram praticados. “Não são estatísticas frias, ou tão só números”, disse o procurador, depois de referir que 285 vítimas tinham menos de 20 anos.

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Nos vários interrogatórios a que foi submetido, Le Scouarnec reconheceu parte dos factos e do seu ‘modus operandi’ no momento dos alegados crimes quando os seus doentes estavam anestesiados, maior parte para cirurgiaas ao apêndice, em vários hospitais (como por exemplo, Vannes, Lorient,  Quimperlé e Morbihan). Já as vítimas, por se encontrarem sedadas, não se lembravam dos abusos. Kellenberger diz que o acusado, que está detido na prisão de Morbihan, tem uma “personalidade atípica”.

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O ex-cirurgião gástrico incorre numa pena de 20 anos de prisão, sendo que 111 atos são susceptíveis de serem considerados violação agravada e 189 atos podem ser classificados como agressão sexual agravada.

O  jornal francês Le Parisien ressalva no entanto, que o julgamento ainda pode ser adiado. Dado o número de vítimas, nem todas foram ainda notificadas da acusação. E, tal como Le Scouarnec, ainda podem recorrer da decisão do juiz de instrução. Se não houver recurso o julgamento pode ocorrer no primeiro semestre de 2025.

Noutro caso paralelo que chocou a França, Dominique Pelicot está a ser julgado por violar e convidar mais de 80 estranhos para abusar da própria mulher, Gisèle Pelicot, enquanto esta permanecia sedada.

Violada 100 vezes por 80 homens a mando do marido. O caso de Gisèle Pelicot que está a chocar França