O grupo de extrema-direita Habeas Corpus apelou, nas redes sociais, à comparência dos seus simpatizantes na apresentação de um livro da Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género (AMPLOS). Só quatro membros apareceram à porta da livraria Buchholz, em Lisboa, esta quinta-feira, e foram impedidos de entrar. O evento de promoção do livro “Dar e Receber Amor em Todas as Suas Formas”, que “tem como objeto ajudar famílias a melhor relacionar-se com filhos LGBT”, começou por volta das 18h50 e a PSP foi obrigada a intervir.
Antes do início da apresentação, um grupo de apoiantes da AMPLOS fez um cordão à porta da livraria Buchholz para impedir a entrada dos quatro elementos do Habeas Corpus e garantir que só passava quem fosse assistir à apresentação. Depois disto, os agentes da PSP que estavam no local acabaram por tirar à força as pessoas que estavam a fazer o cordão.
No local, estavam sete agentes da PSP e pouco depois do início da apresentação chegou uma Equipa de Intervenção Rápida da PSP.
Amanhã dia 10 no âmbito das comemorações do 15° aniversário da associação homossexual AMPLOS ( financiada com fundos públicos ) irá ocorrer na livraria Buchholz ( fundada por um judeu alemão ) em Lisboa a apresentação do livro:
Dar e receber amor em todas as suas formas. pic.twitter.com/GvUhMItiOq— habeascorpus.hc (@HabeasCorpus_PT) October 9, 2024
“A associação tem recebido ameaças por parte do grupo Habeas Corpus, que quer interromper a apresentação”, informa a editora LeYa num comunicado de imprensa. Na publicação no X, o grupo movimento disponibiliza a gravação de uma chamada feita à livraria Buchholz pelo representante da Habeas Corpus, Djalme dos Santos, a perguntar se é necessário algum tipo de registo para comparecer na apresentação.
As mensagens partilhadas na conta oficial do Habeas Corpus no Telegram atentam especialmente contra a AMPLOS por receber financiamento público (“o dinheiro dos portugueses está a patrocinar a extinção do nosso povo”) e acusam o conteúdo do livro de querer “normalizar a degeneração e estigmatizar a família”. Referem ainda que a livraria Buchholz foi “fundada por um judeu alemão”.
[Já saiu o segundo episódio de “A Grande Provocadora”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de Vera Lagoa, a mulher que afrontou Salazar, desafiou os militares de Abril e ridicularizou os que se achavam donos do país. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. E pode ouvir aqui o primeiro episódio.]
Num vídeo mais recente no Telegram, um membro do grupo confirmou a presença de Djalme dos Santos e de José Pinto-Coelho, presidente do partido Ergue-te no evento, afirmando: “não pretendemos boicotar coisa nenhuma, pretendemos apenas fazer perguntas”. Afirmou que aguardarão até ao momento em que estas devem oficialmente ser feitas, querendo “ouvir respostas que ainda não nos foram dadas”.
Nas suas redes sociais como o Instagram e X, a AMPLOS já disse que “não se deixará coagir” e que o evento se vai realizar e apelou à presença de todos.
Hoje, 18h30, na Livraria Bucholz, em Lisboa. Apareçam ???? https://t.co/V3V48oNkXv
— Maria do Carmo ???? (@mcpascoa) October 10, 2024
No início da semana, o grupo Habeas Corpus reinvindicou um ato de vandalismo na loja da AIMA do Porto, na madrugada da passada segunda-feira. Num vídeo publicado no X, o antigo juiz negacionista Rui Fonseca e Castro aparece em frente às instalações a dizer “estar na Avenida de França, no Porto, para proceder ao encerramento das instalações (…) por determinação nossa e por tempo indefinido enquanto os portugueses forem cidadãos de segunda na sua própria terra”.
ENCERRAMENTO DA AIMA DO PORTO
Por determinação da Habeas Corpus, a AIMA do Porto permanecerá encerrada enquanto os Portugueses forem cidadãos de segunda na sua própria terra.
Porto, 7 de Outubro de 2024.
Rui da Fonseca e Castro pic.twitter.com/NrY9woIzXt— habeascorpus.hc (@HabeasCorpus_PT) October 7, 2024