O Comité norueguês do Nobel decidiu atribuir o Nobel da Paz de 2024 à organização japonesa Nihon Hidankyo, que representa sobreviventes dos ataques nucleares de Hiroshima e Nagasaki, que, “através do testemunho pessoal”, têm contribuído para que “as armas nucleares nunca voltem a ser usadas”.
No anúncio da manhã desta sexta-feira, em Oslo, o Comité destacou os “esforços extraordinários” da organização e de outros sobreviventes das bombas nucleares norte-americanas lançadas em 1945 para ajudar a estabelecer “o tabu nuclear” — ou seja, a ideia entre a comunidade internacional de que tal armamento nunca pode voltar a ser usado. O organismo alertou ainda que decidiu atribuir o Prémio neste momento a esta organização por ser “alarmante que, hoje em dia, este tabu contra o uso de armas nucleares esteja sob pressão”.
“Escolha do Nobel da Paz é aviso contra o uso de armamento nuclear”
O Comité relembrou ainda que, no futuro, os Hibakusha (expressão japonesa que retrata os sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki) “já não estarão entre nós como testemunhas da História”, justificando assim a decisão de atribuir o Prémio em vida. “Mas, através de uma forte cultura de memória e compromisso continuado, novas gerações no Japão continuarão a relembrar a experiência e mensagem das testemunhas”, acrescentou responsável que anunciou o Prémio. Apesar disso, o Comité explicou que ainda não conseguiu contactar os laureados.
Questionado pelos jornalistas presentes sobre o porquê desta atribuição, que “desafiou” o expectável, o responsável voltou a frisar o maior risco de uso de armas nucleares no mundo no momento atual. “A ameaça das armas nucleares ameaça-nos a todos”, sublinhou, como principal mensagem que o Comité de Oslo quis deixar, numa altura em que países como a Rússia e a Coreia do Norte têm feito ameaças de que podem vir a usar armamento nuclear e em que o Irão continua a desenvolver um programa de armamento nuclear.
A pressão dos Hibakusha para que Hiroshima e Nagasaki não se repitam
O Hibakusha — sobreviventes das bombas largadas sobre Hiroshima e Nagasaki a 6 e 9 de agosto de 1945, pelos Estados Unidos da América, a fim de provocar a rendição do Japão e por termo à II Guerra Mundial — têm-se multiplicado em esforços para pressionar a comunidade internacional a abolir o armamento nuclear.
Numa reunião em julho deste ano do Comité Preparatório da Revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear que ocorrerá em 2026, em Genebra, uma das sobreviventes e membro da Nihon Hidankyo, Michiko Kodama, partilhou a sua experiência em Hiroshima, quando tinha 7 anos, como assinalou o jornal Japan Times: “Estava na escola quando uma tremenda luz e explosão estilhaçaram os vidros das janelas”.
Kodama, de 86 anos (a médida de idades dos sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki é neste momento de 84 anos), notou ainda a morte dos seus pais, irmão e filha por cancro, que suspeita estarem ligadas à exposição à radiação que sofreram e deixou como pedido “que nunca mais sejam criadas vítimas de bombas atómicas”.
No mesmo encontro, os autarcas das cidades de Hiroshima e Nagasaki deixaram um apelo para que sejam usados esforços diplomáticos para garantir que “Nagasaki seja o último local bombardeado atomicamente em tempos de guerra”.