A China iniciou esta segunda-feira exercícios militares em grande escala em torno de Taiwan e das suas ilhas periféricas, num “aviso” contra a independência do território, dias após Taipé ter reiterado a sua soberania. Entretanto, os militares de Taiwan entraram em “alerta máximo” depois de detetarem um porta-aviões chinês no sul da ilha.

O ministério da Defesa chinês afirmou que os exercícios são uma resposta às afirmações do líder de Taiwan, William Lai, que reiterou, recentemente, que a República Popular da China “não tem o direito de representar Taiwan”. Taipé considerou os exercícios como uma provocação e afirmou que as suas forças estão preparadas para reagir e em alerta máximo.

O porta-voz do Comando do Teatro Oriental do Exército de Libertação Popular da China, o capitão Li Xi, disse que a marinha, a força aérea do exército e o corpo de mísseis estavam todos mobilizados para os exercícios.

“É um aviso importante para aqueles que apoiam a independência de Taiwan e um sinal da nossa determinação em salvaguardar a nossa soberania”, disse Li numa declaração difundida pela imprensa oficial de Pequim.

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As manobras, designadas Joint Sword-2024B, envolvem forças terrestres, marítimas e aéreas, e são semelhantes às que a China realizou em maio passado, também no Estreito de Taiwan e em torno da ilha autónoma.

Li referiu que os exercícios incluem a aproximação de navios e aviões à ilha a partir de várias direções, bem como ataques executados conjuntamente por diferentes forças, com o objetivo de testar a prontidão de combate real.

Entretanto e perante a deteção de um porta-aviões chinês Liaoning nas imediações da costa sul da ilha (perto do Canal Bashi), o ministério da Defesa de Taiwan veio garantir que o exército está “em alerta máximo, pronto para responder se necessário”.

Líder de Taiwan promete “defender a democracia” contra “ameaças externas”

O líder de Taiwan afirmou esta segunda-feira que o seu governo “continuará a defender o sistema constitucional de liberdade e democracia de Taiwan” contra “ameaças externas”, horas depois de a China ter anunciado exercícios militares em torno da ilha.

“Os exercícios militares lançados pela China têm como objetivo minar o estado de paz e estabilidade na região e continuar a utilizar a coerção militar contra os países vizinhos, o que não está de acordo com as expectativas da comunidade internacional”, afirmou William Lai, através da sua conta oficial na rede social Facebook.

“Estamos empenhados em manter a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan e aguardamos com expectativa um diálogo e um intercâmbio igualitário, respeitoso, saudável e ordenado entre os dois lados do estreito. Esta é a nossa atitude constante e imutável”, acrescentou.

Lai, considerado um independentista e um agitador pelas autoridades de Pequim, convocou uma reunião sobre segurança nacional em que participaram o seu vice-presidente, Hsiao Bi-khim, o ministro da Defesa, Wellington Koo, e o secretário-geral do Conselho de Segurança Nacional, Joseph Wu, entre outros altos funcionários.

Na mensagem no Facebook, Lai afirmou que o governo de Taiwan segue os movimentos dos militares chineses “em tempo real” e mantém um “conhecimento completo” da situação, sublinhando que o governo irá “prestar atenção ao bem-estar público” e manter a “estabilidade social”.

O dirigente reiterou ainda que Taiwan “está disposta a cooperar com a China” para procurar “partilhar a paz e a prosperidade” e “proporcionar bem-estar às pessoas” de ambos os lados do Estreito.

Pequim diz que independência de Taiwan é “incompatível” com a paz 

A independência de Taiwan é “incompatível” com a paz, afirmou esta segunda-feira a diplomacia chinesa, numa altura em que o Exército chinês está a realizar exercícios militares de larga escala em torno da ilha.

A porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning, disse, em conferência de imprensa, que a China está empenhada na “paz e estabilidade na região”, algo que “todos os grandes países podem ver”.

“Se os EUA estão interessados na paz entre os dois lados do Estreito de Taiwan, devem respeitar o princípio ‘uma só China’, não enviar sinais errados às forças pró-independência e deixar de fornecer armamento a Taiwan”, acrescentou.

Mao respondeu assim a declarações do Governo dos EUA, que expressou esta segunda-feira a sua “preocupação” com a nova vaga de exercícios militares iniciada pelo Exército chinês, sublinhando que são “injustificados” e podem “escalar” a tensão na região.

Taiwan foi uma colónia japonesa antes de ser unificada com a China no final da Segunda Guerra Mundial. Os dois territórios vivem separados desde que em 1949 os nacionalistas de Chiang Kai-shek fugiram para a ilha, enquanto os comunistas de Mao Zedong assumiram o poder no continente chinês, no final da guerra civil.

Lai tomou posse em maio, dando continuidade a um governo de oito anos do Partido Democrático Progressista, que rejeita a exigência da China de reconhecer que Taiwan é uma província chinesa.

“A República da China [nome oficial de Taiwan] enraizou-se em Taiwan, Penghu, Kinmen e Matsu. A República da China e a República Popular da China não estão subordinadas uma à outra”, afirmou Lai, sob aplausos, durante um discurso, proferido em frente ao palácio presidencial de Taipé, nas celebrações do Dia Nacional, na semana passada.

A China afirma regularmente que a independência de Taiwan é um “beco sem saída” e que a anexação por Pequim é uma inevitabilidade histórica.