Álvaro Beleza admite que a posição mais lógica seria a do PS a votar contra o Orçamento do Estado (OE), mas considera que o partido e o seu líder têm de sacrificar o seu papel de oposição perante uma direita, “em parte instável”, que não encontra uma solução entre si. “O PS, que já salvou a eleição do presidente da Assembleia da República, vai ter que salvar agora o Orçamento“, aponta o presidente da SEDES e dirigente socialista em entrevista ao programa Direto ao Assunto da Rádio Observador.
Sobre o apelo de Pedro Nuno Santos à existência de uma voz única no PS, Beleza entende que a questão, que levantou polémica, deve ser ultrapassada.”Os socialistas pensarem de maneira diferente não é notícia, sempre foi assim. Já Mário Soares e Manuel Alegre, que eram amicíssimos, discordavam imenso”, afirma.
“Os líderes do partido têm a tentação de dizer este tipo de coisas para que os membros do parido falem a uma só voz”, aponta Beleza, recordando, no entanto, que o PS é o “partido de Mário Soares e das liberdades”. “Há essa tradição de liberdade no partido, mas isso não implica que o partido deixe de estar unido e nas horas decisivas o PS une-se sempre”, acrescenta.
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Já em relação a Pedro Nuno Santos ter convocado a Comissão Política Nacional do PS na próxima segunda-feira para propor sentido de voto no OE, só depois do congresso do PSD, Álvaro Beleza entende que o momento escolhido é uma “questão menor”. “Gosto de ver o meu partido responsável a ajudar o país e acho que é esse o caminho que vai ser seguido. Podia ter sido anunciado antes, mas acontece mais tarde”, referiu, recordando que logo em agosto manifestou a sua opinião de que o PS devia viabilizar o documento orçamental sem negociar medidas com o PSD.
“O caminho que Pedro Nuno Santos está a seguir faz com que ganhe mais margem de manobra para todas as decisões”, nota Beleza, garantindo que não é por isso que a sua ação deixe de ter lógica ou legitimidade. A mesma legitimidade que, considera, “qualquer socialista tem de manifestar a sua opinião”. “Porque todos os que manifestaram a sua opinião o fizeram para bem do PS e do país. Os partidos não são fins em si mesmo, mas são instrumentos políticos que devem ter uma ideologia e que devem seguir causas e convicções para servir o país”, acrescenta.
“O líder do PS não está imune ao erro, mas está a fazer aquilo que a convicção dele e que o instinto lhe disseram para fazer e aquilo que a direção do partido entendeu que era o melhor caminho. O importante é que o país esteja num rumo certo”, afirmou ainda o dirigente socialista.
Álvaro Beleza considera que PS deve viabilizar Orçamento do Estado sem negociar medidas
Álvaro Beleza nega ainda um cenário em que o Orçamento acabe desvirtuado no fim do debate na especialidade. “O PS já fez declarações claras e públicas de que vai ter responsabilidade, como já teve enquanto Governo. Foi o PS que trouxe um superavit para as contas públicas”, recorda, notando que o PS “tem que ser parte da solução e não do problema”, elogiando a atitude do Governo em tentar chegar a um entendimento com a oposição.