Um ataque do Hezbollah que matou quatro soldados israelitas e deixou 58 feridos numa base militar no norte de Israel está a deixar em evidência a principal fraqueza do célebre sistema de defesa aérea de Israel: a “Cúpula de Ferro” não está desenhada para lidar com drones. O ataque aconteceu no domingo, por volta das 19h locais (17h em Lisboa), quando um grande grupo de soldados pertencentes à Brigada Golani, uma unidade de elite do exército israelita, estavam a jantar na messe de um quartel no norte de Israel, perto da cidade de Binyamina.

Quatro mortos e sete soldados israelitas feridos com gravidade em ataque do Hezbollah a base militar. Sirenes não soaram

O drone foi disparado a partir do Líbano com precisão contra o edifício onde os soldados jantavam, matando quatro e deixando 58 feridos, alguns deles com gravidade. A base aérea encontra-se a mais de 60 quilómetros da fronteira com o Líbano — uma distância que o drone do Hezbollah conseguiu percorrer sem ser detetado pela “Cúpula de Ferro”, sistema de defesa aérea israelita considerado um dos mais sofisticados do mundo, capaz de intercetar a esmagadora maioria dos rockets e mísseis disparados contra o território israelita.

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Como explica a CNN, o simples facto de o Hezbollah ter lançado o drone especificamente contra o refeitório do quartel numa altura em que os soldados estavam a jantar é um indicador significativo da capacidade do grupo xiita para recolher informação de precisão e para levar a cabo ataques eficazes.

Em declarações àquela televisão norte-americana, a investigadora israelita Orna Mizrahi, do Instituto para os Estudos de Segurança Nacional de Telavive, explicou que os drones são “pequenos, muito leves e com uma baixa assinatura de radar”, o que faz com que sejam muito difíceis de detetar pela Cúpula de Ferro. O facto de voarem a uma altitude mais baixa, mais devagar e com maior capacidade de mudar subitamente de direção ajuda os drones a não acionar os alertas da defesa aérea e a escapar mais facilmente aos sistemas.

Segundo Orna Mizrahi, o Hezbollah já identificou esta “fraqueza” nos sistemas israelitas, pelo que tem recorrido cada vez mais aos drones. “Sempre que encontramos uma solução para algo, eles encontram outra forma de atacar”, disse a especialista.

Ao The Telegraph, James Patton Rogers, especialista em drones na universidade norte-americana de Cornell, explicou que esta falha é resultado de uma “negligência a nível de defesa aérea” ao longo de décadas. “Fazem [os drones] voar devagar e reduzem os seus componentes eletrónicos para reduzir a sua assinatura radar e a probabilidade de deteção, e têm cada vez mais usado materiais como fibra de carbono, que são mais difíceis de detetar”, destacou.

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Além de recorrer a drones por serem mais difíceis de detetar, o Hezbollah também estará a recorrer a uma tática específica para os ataques: a de lançar dois drones em simultâneo, a partir do mesmo lugar e para o mesmo destino, para que um deles seja detetado e abatido, mas o outro não.

Terá sido essa a técnica usada em julho quando os Houthis, grupo islâmico do Iémen também apoiado pelo Irão, conseguiram atingir um edifício em Telavive com um drone, matando um homem e deixando dez pessoas feridas. O drone conseguiu chegar à capital sem ativar quaisquer sirenes — depois de um outro drone, disparado em simultâneo, ter sido abatido.

Também agora o Hezbollah terá usado essa técnica em dois ataques consecutivos: um na sexta-feira (que apenas causou danos no edifício de um lar de idosos) e outro no domingo, o tal que provocou a morte a quatro soldados israelitas. Terão sido usados drones Sayyad 107.

Em declarações ao The Telegraph, um soldado que estava dentro do refeitório do quartel que foi atingido confirmou que o ataque apanhou os militares de surpresas. “A porta de ferro dobrou-se. Não sabíamos o que tinha acontecido e de repente alguma coisa entrou pelo telhado. Não ouvimos nada antes, só a enorme explosão. As sirenes não tocaram”, contou.

Para tentar resolver este problema, o setor empresarial israelita está a procurar desenvolver soluções capazes de aumentar a capacidade de deteção de drones, diz ainda o jornal britânico — dando o exemplo da startup israelita R2, que está a desenvolver uma rede de sensores capazes de identificar drones a baixas altitudes e de enviar essa informação de imediato para as forças armadas israelitas.