“A conversa sobre o Orçamento de Estado, das últimas semanas, é simplesmente trágica”, afirmou João Pedro Oliveira e Costa, presidente do BPI, numa mesa-redonda de uma conferência organizada pela Associação Portuguesa de Bancos (APB) cuja intervenção de encerramento esteve a cargo do ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento.
Muito crítico, o presidente do BPI criticou a negociação orçamental entre os vários partidos: “Temos um governo, que foi eleito, que tem um orçamento que não é muito diferente do outro, e andamos a discutir quem é que se reuniu com quem, à noite, de manhã”, criticou.
Temos de nos indignar e não continuar a dar para este peditório, que é uma tristeza franciscana… Temos uma oportunidade de ouro para dar um salto em frente”, argumentou o presidente do BPI.
Os comentários de João Pedro Oliveira e Costa foram feitos minutos antes de Joaquim Miranda Sarmento tomar o palco para encerrar os trabalhos. O ministro das Finanças teve no discurso de encerramento poucos comentários sobre o setor bancário, trazendo, ao invés, uma revisão das principais medidas e indicadores que estão na proposta de Orçamento de Estado e do plano plurianual entregue na sexta-feira a Bruxelas.
“Portugal continua a ter níveis de dívida pública muito elevados mas estamos numa posição muito mais confortável” do que outros países europeus, afirmou Joaquim Miranda Sarmento, salientando que alguns “países grandes” da UE podem vir a ter problemas nos mercados de dívida devido aos seus problemas orçamentais “muito difíceis”.
Num balanço sobre os seis meses de Governo, Miranda Sarmento foi sintético: “Nestes seis meses podemos ser acusados de muita coisa, mas não podemos ser acusados de não ter tomado medidas – concorde-se ou não com elas“, afirmou Miranda Sarmento, garantindo que “a prioridade do Governo é o crescimento económico”.
A trave mestra do programa do Governo passa por pôr a economia a crescer e a crescer bastante mais do que cresceu nas últimas décadas e meia”, disse o ministro das Finanças.
Caixa Geral de Depósitos terá lucros “inferiores” no próximo ano
Também Paulo Macedo participou no encontro da APB. O líder do banco público afirmou que a Caixa Geral de Depósitos vai voltar a ter “resultados significativos” no ano em curso, mas no próximo ano serão lucros “inferiores”, num contexto de descida das taxas de juro. Paulo Macedo acrescentou que 2025 será um ano “difícil”, já se notando que há uma “menor procura por crédito”.
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O líder da CGD disse que a menor procura de crédito, em parte, “é virtuosa”, porque está ligada à desalavancagem das empresas e das famílias: “temos um nível de endividamento ao nível da UE, quando sempre foi historicamente muitíssimo superior”.
Depois, as empresas têm aumentado a sua autonomia financeira. Continua a haver muitas empresas subcapitalizadas, esse problema não se resolveu, mas as empresas estão mais autónomas”.
A parte “menos virtuosa”, disse Paulo Macedo, é que precisávamos de mais investimento. “Os bancos financiam quando há bons projetos e é preciso que haja mais projetos”, afirmou o banqueiro, acrescentando que “o país tem necessidade de mais investimento público e privado”.
“A banca está preparada para financiar e quer financiar”, rematou Paulo Macedo, presidente do banco que no ano passado fechou o ano com um lucro recorde de 1.291 milhões de euros.
No crédito à habitação, a banca tem dado o seu contributo, o financiamento à habitação subiu significativamente, mas é preciso que haja mais oferta. Os preços vão continuar a subir até que haja uma injeção de oferta.
Paulo Macedo diz que os bancos estão “disponíveis não só para financiar compras individuais de habitação mas, também, para financiar projetos de construção que serão essenciais”.
Na mesma mesa-redonda, o líder do segundo maior banco em Portugal, o Millennium BCP, considerou que há um “equívoco” que é a ideia de que os lucros da banca foram conseguidos “à boleia da subida dos taxas de juro”. “A anormalidade foi as taxas de juro muito baixas ou negativas”, na década anterior, sustentou Miguel Maya.
A rendibilidade da banca vai continuar acima do custo do capital, uma rendibilidade adequada. Vamos assistir à compressão da margem [financeira] mas é possível compensá-la, por aumento dos volumes, acho que os bancos vão conseguir”, disse Miguel Maya.
“O que foi verdadeiramente importante foi o trabalho que os bancos fizeram na década anterior ao nível da eficiência operativa”, argumentou, repetindo que “não há resultados caídos do céu”: “em Portugal temos uma série de fardos pesados com camadas de regulação e contribuições específicas”.
“Estamos a falar de baixar o IRC e ainda não acabámos com as contribuições extraordinárias suportadas pelos bancos”, rematou.
No final, o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, acrescentou que “o setor bancário é fundamental” para dinamizar o crescimento económico. Hoje “temos um setor bancário muito mais resiliente, muito mais bem gerido e muito mais moderno, com regras de regulação que terão os seus excessos – concordo com o Dr. Miguel Maya – mas que são muito diferentes, para melhor, do que havia há 10 ou 15 anos”.