A desigualdade entre países disparou em 2020 e a tendência que até então era lentamente decrescente não foi revertida, segundo o Relatório Social Mundial de 2024 do Departamento de Assuntos Económicos e Sociais (DESA) das Nações Unidas.

O diretor da divisão de política e análise económica da DESA, Shantanu Mukherjee, sublinhou na quinta-feira, na apresentação do relatório “Desenvolvimento Social em Tempos de Crises Convergentes: Um Apelo à Ação Global”, o “impacto persistente” das crises nos países mais pobres.

O relatório junta-se aos numerosos apelos da ONU para a reforma do sistema global de financiamento do desenvolvimento e estima que a perda de oportunidades de investimento nesta área, em resultado de múltiplas crises, significará uma perda cumulativa de 50 mil milhões de dólares entre 2020 e 2030.

A desigualdade entre os países, que seguiu uma tendência estável, mas lenta e decrescente, disparou realmente em 2020 e não foi revertida“, declarou o diplomata, repetindo que, em 2022, a maioria dos países regressou à pobreza extrema ao nível anterior à pandemia.

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Mukherjee explicou que o serviço da dívida nos países pobres, afetados por elevadas taxas de desemprego que aceleram as desigualdades, representa um fardo tão grande que excede a despesa pública na saúde, educação e infraestruturas, dificultando o seu progresso em direção aos objetivos de desenvolvimento social.

Além disso, face a novos ‘choques’, Mukherjee denunciou que o mundo está pior preparado, por exemplo, para responder a emergências sanitárias, uma vez que todas as regiões têm pior pontuação num índice-chave em 2023 em comparação com 2015, enquanto as proteções sociais mínimas estão concentradas nos países ricos.

Os autores do relatório sublinham que sistemas de proteção social fortes permitem uma melhor gestão das crises, mas “só metade do mundo tem acesso a pelo menos um benefício” deste tipo, razão pela qual os mercados de seguros precisam de ser melhor regulados para expandir a cobertura.

O relatório faz recomendações orientadas por uma premissa: que devem existir acordos internacionais para dar espaço de manobra aos países que necessitam de “aliviar o peso da sua dívida” e serem capazes de implementar políticas nacionais de desenvolvimento social.

Outra responsável da DESA, Wenyan Yang, disse esperar que os países “se ajudem uns aos outros” na implementação da Agenda 2030 na cimeira de desenvolvimento social que terá lugar no final do próximo ano no Qatar.

Destacou o recentemente adotado Pacto para o Futuro, que conclui que existe “investimento nas pessoas” para erradicar a pobreza e, por conseguinte, melhorar a “confiança e coesão social” depois de décadas de incerteza que levaram grande parte da população a duvidar da capacidade dos seus governos.

No entanto, alertou que os relatórios sociais relativos a 2025 preveem que a escala e a complexidade dos problemas globais “excederão a capacidade das políticas e instituições existentes” para os resolver.