Há muito que era aguardado, mas só esta terça-feira ganhou forma… em termos oficiais. Nuno Lobo, atual presidente da Associação de Futebol de Lisboa [AFL] é candidato à presidência da Federação Portuguesa de Futebol [FPF], procurando assim suceder a Fernando Gomes, que está no cargo desde 2011. Presidente da entidade que rege o futebol da capital até 2012, Lobo vai terminar o mandato no final do presente ano, altura em que se deverão realizar as eleições da FPF.

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Na apresentação da candidatura, que aconteceu durante a tarde desta terça-feira num hotel no centro de Lisboa, na zona do Marquês de Pombal, o dirigente licenciado em direito apresentou um discurso bastante crítico com a atual direção da Liga Portugal e o presidente Pedro Proença, que deverá ser o seu adversário nesta corrida federativa. Sob o mote de “compromisso: uma federação para todos”, Lobo começou por dizer que dedicou os últimos “12 anos ao futebol português” e é um homem de “compromissos”, cumprindo até ao fim o mandato no futebol lisboeta, algo que não acontecerá com o rival, caso este seja eleito.

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Relativamente ao potencial adversário, Lobo apresentou as linhas que distinguem os dois. “Não posso ficar em silêncio, esconder-me ou resignar-me perante alguém que representa uma ameaça de regressão. Esta candidatura parte da base para o topo e não o contrário. Esta candidatura não se esconde em calculismos e oportunismos, não se alimenta de favores e promessas, nem de prémios ou viagens indevidas. Não cometo o erro de prometer tudo a todos. A minha presidência não excluirá ninguém. Ninguém é dono do voto de ninguém”, partilhou.

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“A FPF serve para abrir caminhos, encontrar soluções e novos rumos para o futebol português. A FPF não é um ponto de partida nem uma escala para missões desmedidas e utópicas. Não é um trampolim para organizações internacionais. Este é o tempo de agir. A partir de agora e até ao dia das eleições, percorrerei todos os campos do país. Procurarei falar com todos, novos contributos e novas soluções. Quero debater com todos os 29 sócios ordinários da FPF e os 84 delegados”, partilhou o primeiro candidato oficial à presidência da FPF, num sufrágio que irá decorrer no início do próximo ano.

Recentemente, surgiu a informação de que Pedro Proença já teria conseguido juntar o apoio correspondente a 75% dos votos. Confrontado com isso, Nuno Lobo assumiu que a realidade é “muito diferente”. “Fiz contactos informais e formais com os clubes e os sócios ordinários. As conversas privado que tenho com os dirigentes e dirigentes não têm o eco propagado pelo presidente da Liga Portugal. Confirmo que tenho o apoio de alguns clubes profissionais, delegados a associações. Nunca concorri a nada para cumprir calendário. Vou a eleições para ganhar”, reiterou.

“A minha cadeira de sonho é a FPF. É o lugar de destino de qualquer dirigente do futebol português. Não faço deste lugar um trampolim para outros voos, designadamente para a UEFA e a FIFA. Esta eleição vai ser disputada até ao fim. Não se ganha uma maratona nos primeiros quilómetros, nem com notícias plantadas na comunicação social. Ganha-se com estratégia, ouvindo, apresentando propostas que protejam e promovam o futebol português. Sou candidato porque entendo ter as melhores condições para dar continuidade ao trabalho de Fernando Gomes”, acrescentou Lobo, novamente com referências a Proença.

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Sem apresentar o seu programa, Nuno Lobo aproveitou para revelar “três eixos basilares”, que passam pela “construção de uma delegação e de uma Cidade do Futebol descentralizada no norte do país”, essencialmente na zona de Porto e Braga e que poderá agregar as Seleções Nacionais, “reforçar significativamente o apoio à profissionalização dos 29 sócios ordinários da FPF”, sob o apoio de cinco milhões de euros”, e a “criação de um fundo de emergência ao futebol profissional e não profissional, de 15 milhões, com o intuito de reforçar a competitividade dos clubes e das SAD”.

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Quanto ao passado, o ainda presidente da AFL assumiu que, quando olha “para trás”, o que vê “não são os feitos passados, mas a preocupação com o futuro”, já que o futebol atual anda “a duas velocidades”: a da FPF e a da Liga Portugal. “O futebol [da FPF] é pujante, com Seleções respeitadas e temidas. Temos, infelizmente o outro lado da moeda: o que respeita ao futebol profissional. Perdemos competitividade a nível europeu, as sociedades desportivas estão descapitalizadas, com grandes dificuldades, dívidas recorrentes ao Estado, a atletas e a fornecedores, e os seus dirigentes estão no fio da navalha e entregues à sorte”, acrescentou Lobo, sublinhando que a “Segunda Liga é completamente inviável financeiramente e a Primeira Liga não distribui verbas que são dos clubes, gastando-as de forma incompreensível e irresponsável”.

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Noutro prisma, Nuno Lobo aproveitou para abordar a visão que tem referente à centralização dos direitos televisivos e voltou a “atacar” a Liga Portugal. “Neste primeiro ano pretendo encetar o diálogo com todos os intervenientes. Em Espanha, o processo de centralização dos direitos apoiou de uma forma única o futebol amador. Esta centralização é uma oportunidade para o futebol amador e por isso critico tanto a postura da Liga. Sei que estamos a três anos do fim do processo, mas esse é um prazo-limite. Temos uma mão cheia de nada. Não há nenhum clube ou sociedade desportiva que possa dizer como vai ser o processo e o que vai receber. É algo que não passa de estudos que não têm suporte financeiro. Em França a proposta final foi 50% do que foi pedido”, lembrou.

Quanto à arbitragem, o candidato referiu que pretende manter o setor no Conselho de Arbitragem da FPF e assegurou que só alterará “esse paradigma se houver um estudo muito completo que diga que é esse o caminho”. “Até agora, o que nos foi proposto foi um conjunto de ideias muito supérfluas. Se a arbitragem estiver melhor numa empresa, não tenho qualquer problema de alterar”, acrescentou. Questionado sobre a realidade atual do futebol português, que tem os clubes teoricamente mais pequenos a receberem os chamados grandes em casas emprestadas, Lobo garantiu que vai inverter esta tendência, “assumindo uma posição de força do futebol português”.