A ideia propagou-se ao longo do verão, com a preocupação a ser manifestada pelos empresários do setor: o Algarve estava a perder turistas nacionais para outros destinos mais baratos. Mas agora, terminado o verão, o balanço que os hoteleiros fazem é diferente. “Desmistificando o que vinha sendo comunicado, o Algarve cresceu quer nos mercados internacionais quer no mercado nacional”, adiantou esta terça-feira Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), na apresentação dos resultados do inquérito conduzido junto do setor e que faz o balanço do verão.

Segundo os dados recolhidos pela AHP, a taxa de ocupação dos estabelecimentos hoteleiros a nível nacional (contando apenas com hotéis com mais de duas estrelas) foi de 81%, ligeiramente acima dos 80% registados no ano passado. O preço médio por quarto foi de 173 euros, uma subida expressiva face aos 156 euros registados em 2023. Já a estada média aumentou de 2,7 dias para 3,1. O Algarve ficou acima da média em todos os indicadores (assim como os Açores), tendo contado com o contributo dos turistas portugueses, assegura a AHP. A taxa de ocupação foi de 85%, o preço por quarto atingiu os 227 euros e a estada média foi de 4,8 dias.

Ano turístico vai ser melhor do que em 2023, mesmo com menor procura interna

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“O Algarve esteve sempre acima da média, o que contraria as notícias de que o Algarve teve um severo abrandamento na procura, no preço praticado e na estada média. Não é isso que os números revelam, o Algarve continuou a ser o campeão de vendas”, acrescentou Cristina Siza Vieira.

Também Bernardo Trindade, presidente da AHP, corroborou a ideia de que o Algarve não perdeu turistas portugueses por causa dos preços. “O que estamos a evidenciar é que os portugueses contribuíram para os bons números do Algarve, assim como contribuíram os ingleses, alemães e agora os americanos”, adiantou.

O crescimento do número de turistas provenientes dos EUA foi, aliás, um dos destaques da apresentação da AHP. “A presença do mercado norte-americano, que começou pelos meios urbanos de Lisboa e Porto mas hoje está espalhado” pelo país é “muito importante”, ressalvou o líder da AHP. “É um cliente com bastante poder aquisitivo e é um mercado com histórica relação com as cadeias hoteleiras e muitas vezes remove intermediários, o que faz com que os preços médios sejam maiores”, explicou.

De acordo com os dados recolhidos pela AHP, o mercado dos EUA foi, nos meses de verão, o terceiro mercado emissor de turistas para Portugal, tendo ultrapassado Espanha. Portugal e Reino Unido são os dois primeiros mercados referidos pelos hoteleiros quando questionados sobre a proveniência dos seus hóspedes. Seguem-se, após os EUA, Espanha, Alemanha e França. Brasil, Irlanda, Itália e Canadá completam o top 10. Cristina Siza Vieira deu conta de uma “quebra” do mercado francês, que se deverá às “dificuldades na economia”.

Outra das conclusões do inquérito da AHP é a “maior dispersão” de turistas no tempo, estando a ser esbatida alguma sazonalidade. Apesar de agosto continuar a ter a melhor performance relativa, junho e setembro cresceram face a 2023. A AHP notou, em setembro, o impacto de alguns eventos em Lisboa e no Porto. Na capital, por exemplo, a SBC Summit, um evento internacional dedicado ao gaming que teve lugar de 24 a 26 de setembro na FIL, trouxe 25 mil visitantes, o que ajuda a explicar os 90% de taxa de ocupação em Lisboa na segunda quinzena de setembro. “Estiveram representados 134 países”, mais 20 do que no ano anterior em Barcelona, e o evento terá contribuído com 100 milhões de euros para a economia nacional, segundo Cristina Siza Vieira. “Catapultou Lisboa na organização de eventos desta natureza”, sublinhou.

No Porto, o Happiness Camp, que aconteceu a 17 de setembro na Alfândega, captou 10 mil visitantes.

Bernardo Trindade quis ainda sublinhar que a associação dos hoteleiros “saúda” a anunciada aprovação do Orçamento do Estado para 2025 “porque o OE tem uma perspetiva de crescimento para o próximo ano de 2% e nós temos compromissos, no âmbito do acordo de concertação social, para valorização do fator trabalho, que no caso do salário mínimo é o triplo desse valor e para o salário médio é o dobro, que exige que esses instrumentos estejam aprovados e que compromissos que resultaram do acordo”, nomeadamente no que toca às tributações autónomas, “possam ser clarificados o mais rapidamente possível, porque foi criada uma expetativa às empresas, e para que este quadro de normalidade possa ser uma realidade”, concluiu.