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O porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF) reconheceu que a “hora era tardia” ao anunciar aos cidadãos israelitas que este sábado se iniciara a muito aguardada retaliação do país contra o Irão, depois dos ataques lançados a 1 de outubro. Já passava da meia noite em Lisboa (2h00, no horário local) e foram ouvidas em Teerão as primeiras explosões. Pouco depois chegava um comunicado assinado por Daniel Hagari: “As IDF estão agora a atacar alvos militares no Irão“.

“Isto é uma resposta aos ataques contínuos do regime do Irão ao Estado de Israel nos últimos meses“, começou por explicar o porta-voz israelita. “O regime do Irão e os seus representantes na região têm atacado Israel implacavelmente desde 7 de outubro — em sete frentes — incluindo ataques diretos de solo iraniano. Como qualquer outro país soberano no mundo, o Estado de Israel tem o direito e o dever de responder“, sublinhou.

Em resposta ao que Israel descreve como “ataques precisos”, o Irão sublinhou que “reserva o direito de responder a atos de agressão”, segundo notou uma fonte iraniana à agência noticiosa Tasnim. Repetindo afirmações que várias vozes iranianas já deixaram noutras ocasiões, a mesma fonte acrescentou que “não há dúvidas” de que Teerão vai responder de forma “apropriada, dura, proporcional e bem calculada”.

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Depois de o Irão indicar que houve apenas “danos limitados”, já na manhã de sábado o exército iraniano confirmou que os ataques israelitas mataram dois soldados. A imprensa local, incluindo a agência noticiosa pública iraniana, a Tasnim, o ataque israelita pode ser considerado “fraco” – porém, um comunicado oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Teerão sublinhou que o Irão tem “uma obrigação” de se defender face a estas “agressões”.

Um ataque tardio a alvos militares iranianas

Um repórter do The New York Times em Jerusalém citou dois oficiais israelitas que garantiram que, durante as três horas de ataque, foram atingidos 20 alvos. A operação decorreu em três vagas: uma primeira focou-se nos sistemas de defesa anti-aérea iranianos, enquanto as duas seguintes visaram bases de drones e mísseis e complexos de produção de armamento, detalharam oficiais norte-americanos e israelitas à Axios.

Num primeiro momento, vários jornalistas iranianos, citados pelo New York Times, descreveram cinco explosões na direção de Teerão e Karaj — cidade a oeste da capital. Relatos posteriores de residentes de Teerão à Al Jazeera já falavam em pelo menos sete explosões. A resposta de Teerão não tardou e, segundo o jornalista iraniano Reza Rashidpour, jatos da Força Aérea rapidamente levantaram voo de uma base no oeste do país. Agentes dos serviços secretos iranianos admitiram na televisão estatal que algumas das explosões posteriores podem mesmo “ter sido provocadas pela ativação dos sistemas de defesa aérea”.

Entre os alvos do ataque de Telavive estariam bases militares da Guarda Revolucionária, no oeste do Irão, segundo avança a agência noticiosa Fars, alinhado com o grupo das forças armadas iranianas. Já o Haaretz garantiu que não há sinais de que tenham sido atacadas complexos nucleares ou de petróleo.

O ataque contra o Irão foi ordenado a partir do campus militar da Força Aérea em Kirya, na cidade de Telavive. Foi coordenado pelo comandante das IDF, Herzi Halevi, e o comandante da Força Aérea, Tomer Bar. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e o seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, também estiveram presentes em Kirya.

Durante a madrugada de sábado também chegaram notícias sobre explosões no centro e sul da Síria. Segundo a agência estatal nacional (SANA), as defesas aéreas sírias abateram alguns dos mísseis israelitas, mas os danos totais do ataque das IDF ainda estão a ser avaliados.

EUA foram informados da ofensiva israelita minutos antes de avançar

Minutos antes da ofensiva, os Estados Unidos da América (EUA) foram avisados por Israel de que a retaliação estava iminente, uma informação que foi avançada pela Fox News. Washington não está, contudo, envolvida nos ataques, segundo garantiu uma fonte sénior da administração norte-americana à CNN.

A primeira reação oficial dos EUA partiu do porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA. “Sabemos que Israel está a conduzir ataques direcionados contra alvos militares no Irão como um exercício de autodefesa e em resposta ao ataque de mísseis balísticos do Irão contra Israel no dia 1 de outubro”, referia um comunicado do porta-voz Sean Savett. Washington remetia esclarecimentos adicionais para o governo israelita.

Israel anunciou que as operações da madrugada de sexta-feira são uma retaliação face aos ataques iranianos de 1 de outubro. Nesse dia foram lançados cerca de 200 mísseis balísticos pelo Irão, tendo as autoridades israelitas garantido que a maior parte deles foram intercetados. Esse foi a segunda ofensiva de Teerão contra o território israelita, depois de um primeiro ataque em abril, no qual foram lançados quase 300 mísseis.

As Forças de Defesa de Israel disseram que várias bases da força aérea ficaram danificadas, mas que nenhuma aeronave foi danificada. “Apenas edifícios administrativos e componentes periféricos foram atingidos”, disse o exército, acrescentando que os danos em áreas civis foram “pequenos” e provavelmente resultado ​​de estilhaços de mísseis intercetados.

Fotogaleria. Ataque de Teerão a Israel celebrado celebrado nas ruas do Irão, Líbano e Cisjordânia

Na altura o Irão descreveu as suas ações como uma retaliação pelos ataques israelitas que, em julho, provocaram a morte do líder do Hamas Ismail Haniyeh em Teerão, e, em setembro, a morte do líder do Hezbollah Hassan Nasrallah em Beirute.

No espaço de 24 horas já se falava sobre uma possível retaliação israelita e o Presidente norte-americano expressava a sua oposição a eventuais ataques a infraestruturas nucleares iranianas. No dia 2 de outubro, altos funcionários do governo de Joe Biden disseram que estavam em discussões com Israel sobre sua resposta, mas o próprio líder notava que apenas podia “aconselhar Israel.”

Mais recentemente, a 18 de outubro, Biden disse acreditar numa oportunidade para “lidar com Israel e o Irão” numa forma que fosse possível pôr fim ao conflito, pelo menos por um tempo. Com o ataque desta sexta-feira, não parece que isso seja possível.