O chefe das Forças Armadas guineenses, Biaguê Na N’Tan, afastou o cenário de convulsões no país que ultrapassem a polícia ao ponto de os militares intervirem, mas exortou os políticos a melhor compreenderem a Constituição.
Numa longa entrevista à Lusa, sem restrições às perguntas, o general Na N’Tan disse que, ao contrário do que se especula no país, não está à espera de convulsões políticas que possam degenerar em violência.
“Não, eu acho que não. Eu acho que não. Eu não estou à espera dessa situação. Onde vai sair essa situação que pode ultrapassar a polícia até chegar às Forças Armadas? Não sei”, declarou o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas guineenses.
Na N’Tan, 74 anos, afirmou, contudo, que as Forças Armadas estão prevenidas e sempre alerta sobre o seu papel, no âmbito da Constituição, que lhes dá como missão a defesa da integridade territorial.
“Essa é a prioridade das prioridades. Mas eu continuo aqui a garantir a estabilidade da Guiné-Bissau, apesar do diz-que-diz, mas eu acho que a paz tem de prevalecer. A minha prioridade é a paz e a tranquilidade“, destacou.
O general, que está nas Forças Armadas desde 1963, aconselhou os políticos a estudarem melhor a Constituição – que jura não desrespeitar nunca – quando lhe pedem que seja mais enérgico com o Presidente da República.
“O Presidente da República é o Comandante Supremo das Forças Armadas. Em nenhum momento, o Chefe do Estado-Maior pode dizer ao Presidente da República que vou convocar uma reunião em que ele terá de participar. Afinal quem manda no outro?”, questionou.
Os opositores ao regime do Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, têm acusado as Forças Armadas, nomeadamente o general Na N’Tan, de “passividade” perante alegadas arbitrariedades e violações da Constituição por parte do chefe de Estado.
Os apelos no sentido de as Forças Armadas chamarem à razão os detentores do poder político são uma constante nos últimos anos na Guiné-Bissau.
A classe política acusa ainda as Forças Armadas de caucionar as proibições às liberdades de manifestação decretadas pelo Governo e ainda os raptos e espancamentos de opositores ao regime.
A estes, Biaguê Na N’Tan responde que as Forças Armadas só poderão intervir em questões de segurança pública em situação de estado de sítio e sob ordens diretas do Comandante Supremo, neste caso do Presidente.
Em situações de “normalidade”, no entender do general, cabe ao Ministério do Interior garantir a segurança das pessoas, inclusive na vigilância a residências de líderes políticos.
Biaguê Na N’Tan frisou, com insistência, que o chefe das Forças Armadas é nomeado pelo Presidente da República para cumprir com as regras estabelecidas na Constituição, mas, em nenhum momento, os militares podem intervir em questões de natureza política no país.
“Se eu estiver a intervir na política é porque não sou Chefe do Estado-Maior” das Forças Armadas, rematou.