Sobretudo, “aliviado”. Foi isso que Matt Kufta sentiu quando soube que Donald Trump seria o próximo Presidente dos Estados Unidos. Matt vive em Carcavelos, no concelho de Cascais, há cerca de dois anos. Mas os mais de seis mil quilómetros que o separam de casa, no Michigan, não o impediram de acompanhar atentamente a última noite eleitoral norte-americana, uma corrida em que Trump tentava o regresso à Casa Branca e que Kamala Harris procurava segurar o lugar para os Democratas. Ao Observador, o gestor de vendas conta que bebeu mais de seis “cafés americanos” e tomou, no total, três duches para se manter acordado noite fora. O gestor de vendas admite que ficou “chocado porque achava que ia ser uma eleição mais renhida”.

Entre goles de café conta que, em 2016, chegou a votar em Hillary Clinton por ter medo de algumas políticas internacionais de Donald Trump: “Depois do primeiro mandato percebi que podia confiar mais nele e acho que ele pode resolver problemas importantes dos Estados Unidos”, afirma Matt. Apesar de ter ficado aliviado com a vitória republicana, Matt admite ter receio que a liderança de Trump se encoste “demasiado à direita”, nomeadamente em temas como o aborto, que considera ser um “direito humano”.  No entanto, acredita que o republicano pode fazer um bom trabalho a melhorar a economia, a ajudar a travar a imigração ilegal e também a prevenir futuros conflitos internacionais. Matt Kufta considera ainda preponderante que os EUA continuem a apoiar a Ucrânia na guerra contra a Rússia. Já sobre a estratégia que Donald Trump vai tomar nos próximos anos, Matt considera que “o foco nos primeiros tempos vão ser as questões nacionais”.

Foi na sua casa em Carcavelos, ainda pouco mobilada — porque se mudou há pouco tempo — que Matt acompanhou, estado a estado, a evolução da contagem dos votos em Donald Trump. O norte-americano explica que não votou nem em Joe Biden nem em Kamala Harris porque considera que o Partido Democrata está cada vez mais à esquerda e lamenta que o país esteja polarizado: “Os Estados Unidos estão muito divididos politicamente, espero que Donald Trump una o país e seja o Presidente de todos e não apenas dos eleitores republicanos”, disse.

Já perto das 9h da manhã, e com várias horas de sono em falta, Matt ainda fala com a família e com os amigos por WhatsApp: “Está tudo surpreendido e entusiasmado, ninguém esperava uma vitória tão rápida”, salientou. Nas últimas eleições norte-americanas, foram precisos vários dias até os resultados oficiais serem divulgados e darem a vitória a Joe Biden.

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Apesar da vitória de Donald Trump, Matt Kufta admite que não imagina voltar a viver nos Estados Unidos. Diz ter encontrado em Portugal um sítio seguro e estável, onde quer ficar até “aos 80 anos”. E diz mesmo que “Portugal é o seu sonho americano”.

Ouça aqui a reportagem com o republicano Matt Kufta:

Como reagiram os republicanos à vitória de Trump?

“Foi quando Donald Trump entrou na cena política que me tornei democrata”.

A alguns quilómetros, em Benfica, Lisboa, a família de Maile Colbert torcia pelo Partido Democrata.

Numa casa que junta tradições portuguesas e norte-americanas — o marido é português e Maile nasceu no Houston —, o dia amanheceu com alguma deceção: “Não tinha um bom pressentimento”, afirma Maile Colbert que ontem foi dormir cedo para não se “irritar” com o tema.

Maile Colbert, de 46 anos, nasceu em Houston, no Texas, mas desde 2008 que vive em Portugal. Lisboa é, aliás, o sítio onde residiu durante mais tempo até agora.

Antes de deixar os Estados Unidos, a professora de Belas Artes passou por vários locais. Esteve em estados tradicionalmente democratas como a Califórnia, o Maine, ou Massachussets, além do Texas e do Ohio, dois pilares da vitória republicana. O marido português fê-la abdicar da América, mas é um passo do qual não se arrepende. Não tenciona voltar e espera que os pais venham também para Portugal.

Esta manhã, quando acordou, na casa ainda repleta de decorações de Halloween, Maile estava receosa. No fundo esperava o pior, e explica que, “apesar de àquela hora os resultados ainda não serem definitivos, era bem claro o rumo que iam tomar”.

Como não queria que a filha de 10 anos percebesse o incómodo com as notícias que chegavam dos Estados Unidos, tentou manter as rotinas normais de uma manhã de quarta-feira. Só que a “revolta” não passa. Para Maile, Donald Trump na Casa Branca é sinónimo de alerta — não só para os Estados Unidos, mas para todo o mundo. As principais preocupações dizem respeito aos direitos dos imigrantes, das mulheres e a questões ambientais.

Enquanto vai fazendo festas a Kuka — a cadela que adotou depois de chegar a Portugal —, Maile explica com alguma mágoa como as intenções de Donald Trump para as questões ambientais podem pôr em causa milhares de hectares de áreas florestais. As deportações em massa e os ataques aos direitos dos imigrantes é outro dos temas que faz Maile temer mais quatro anos de Trump na Casa Branca: “Não sou uma grande fã da NATO”, admite, mas as ideias já defendidas pelo republicano para a Aliança Atlântica “são assustadoras”.

O desconforto perante as políticas do republicano levam a professora a admitir: “Foi precisamente quando Donald Trump entrou na cena política que me tornei Democrata.” Apesar de, desde então, os seus princípios se alinharem com os do Partido Democrata, a norte-americana reconhece que Kamala Harris não seria a sua primeira escolha para candidata à Casa Branca. Ainda assim, questionada sobre se Joe Biden seria uma opção mais acertada, Maile é clara: “Definitivamente não.”

Apesar da tristeza e angústia que admite ter sentido quando soube do resultado das eleições, Maile prefere olhar para as consequências positivas de um regresso de Trump. Com a vitória do republicano, os pais da norte-americana equacionam agora também vir viver para Portugal. Uma decisão que já estava tomada, caso Donald Trump voltasse à Casa Branca.