“Os apelos ocidentais para infligir uma derrota estratégica à Rússia, uma potência nuclear, demonstram um aventureirismo ultrajante”. Vladimir Putin acredita que o Ocidente tentou dar um “golpe esmagador na Rússia e afastá-la da política e da economia mundiais”, mas não conseguiu.
Em declarações a partir da conferência do Clube de Discussão de Valdai, em Sochi, o Presidente da Rússia, citado pela agência TASS, afirma que os Estados Unidos da América (EUA) têm uma política de exclusividade — “não deixar que mais ninguém o tenha” —, mas “ninguém garante que o Ocidente não vai utilizar armas nucleares”. Putin não vê o Ocidente como um inimigo e não considera que são mutuamente exclusivos. Contudo, acredita que “a fé cega das elites ocidentais na sua própria impunidade e excecionalismo poderá resultar numa tragédia global”.
Mencionou ainda as guerras na Jugoslávia e na Ucrânia, como um exemplo da “ganância geopolítica sem precedentes do Ocidente”, que diz ser a verdadeira fonte destes conflitos recentes. O Presidente russo sublinha que foram estas mesmas autoridades ocidentais que impulsionaram o golpe de Estado na Ucrânia em 2014, o que “forçou” a Rússia a lançar uma operação militar no país. “Nesse sentido, conseguiram o que queriam”, acrescenta Putin, sublinhando que o uso da força nunca é a sua primeira opção, mas que está sempre pronto a adotar as medidas necessárias para se defender.
“É inútil exercer pressão sobre a Rússia, o que é preciso é negociar“. Vladimir Putin acusa “a esmagadora maioria da população do planeta” de ter avançado com este conflito contra uma “minoria global”, pelo receio de perderem a sua “dominância”. Com isto, afirma que os ucranianos foram transformados em “carne para canhão” e continuam a ser “cinicamente treinados contra os russos”. De acordo com Putin, o Ocidente tem levado a cabo uma “intervenção rasteira” para humilhar ou destruir a Rússia, mas o Presidente mantém-se focado na missão que tem defendido ao longo dos seus anos no Kremlin : “Temos impedido repetidamente aqueles que procuram dominar o mundo e continuaremos a fazê-lo”.
Para Putin, o “liberalismo ocidental tornou-se numa intolerância extrema” a qualquer alternativa, a qualquer pensamento soberano e independente. “O mundo precisa da Rússia, apesar de todas as decisões tomadas por Washington e pelos chefes de Bruxelas”, reitera. O chefe de Estado russo confessa que antes do início dos conflitos atuais, muitos líderes europeus terão sido convencidos pelos EUA a mudar a sua perceção sobre a Rússia. “Porque não estão a assustar convosco? Não temos medo, não vemos qualquer ameaça”, recorda.
“O modelo de um país não deve ser tomado como universal e imposto a toda a gente”, é a ideia defendida por Vladimir Putin, deixando também críticas à NATO, “o único bloco ainda existente no mundo”, que descreve como sendo um “anacronismo absoluto”. De acordo com o Presidente da Rússia, o BRICS é o completo oposto da NATO, um “protótipo de um novo carácter, livre e não-bloco, das relações entre países”, e que existem países da NATO interessados em aprofundar as relações com os países integrantes.
Já em resposta aos jornalistas presentes no evento, Putin assegurou que existiu uma oportunidade para “superar a linha de pensamento em bloco” depois da Guerra Fria, mas que isso acabou por não acontecer porque os EUA tinham “medo de perder controlo sobre a Europa”, cita a agência TASS. Apesar de se revelar confiante de que a “subordinação vassala” do continente perante Washington irá enfraquecer, o Chefe de Estado acredita que a guerra na Ucrânia permitiu um crescimento do papel de líder que Washington desempenha atualmente. Porém, Vladimir Putin revelou que está disponível para retomar as relações com os EUA e espera que isso possa acontecer num futuro próximo, mas “a bola está do lado dos norte-americanos”.