Há um ano, a Start Campus foi um dos epicentros da Operação Influencer. A investigação judicial fez cair o Governo, com a demissão de António Costa, e teve danos colaterais nas empresas e projetos que estavam sob suspeita de alegado favorecimento nos licenciamentos, autorizações e aprovação de legislação “à medida”.

O raide da justiça visou vários projetos bandeira da transição energética — em particular as duas explorações de lítio autorizadas pelo Estado, em Montalegre e Boticas, e um investimento de hidrogénio em Sines que não avançou — mas foi o processo de desenvolvimento do data center que levou à constituição de vários arguidos entre membros de Governo, da administração pública e pessoas que tinham ligações ao projeto.

Start Campus, a empresa em Sines no meio da polémica que fez cair o governo de António Costa

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O investimento que o anterior Governo comparou à Autoeuropa pela sua dimensão, tremeu com a demissão do presidente executivo, Afonso Salema, um dos arguidos do processo Influencer. Para além de perder o principal gestor, a empresa teve também de prestar uma caução de 600 mil euros.

Com uma nova liderança, o australiano Rober Dunn, que já estava ligado à engenharia e conceção do projeto, a Start Campus obteve a devolução da caução em julho, na sequência de um pedido de revisão das medidas de coação apresentado pela empresa após um acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa ter entendido que não havia os indícios de crime apontados pela investigação do Ministério Público.

Um ano depois, pouco se sabe dos progressos da investigação do Ministério Público. Já o Start Campus iniciou operações em Outubro com uma unidade com capacidade de 14 megawatts que presta serviços a várias empresas de tecnologia, que, por seu turno, têm vários clientes internacionais. O investimento inicial foi de 275 milhões de euros e criou 60 postos de trabalho.

Este é o primeiro passo num projeto que ambiciona ser o maior centro de dados da Europa, com um investimento estimado de 8,5 mil milhões de euros, mais do dobro do inicialmente previsto, a desenvolver até 2030. O projeto instalado em terrenos da zona industrial de Sines contempla mais cinco edifícios de grande dimensão, para além do inicial. Prevê igualmente uma subestação para alimentação elétrica e uma central de arrefecimento que utiliza a água do mar que é trazida e devolvida através de um sistema de condutas. Outro fator chave é a ligação já assegurada a um cabo submarino que liga a Europa aos Estados Unidos.

A Start Campus quer ainda estar associada à produção de eletricidade por fontes renováveis de forma a garantir a neutralidade carbónica. Depois de receber a declaração de impacte ambiental favorável condicionada em 2023, a Start Campus está finalizar o RECAPE (relatório de conformidade ambiental da execução do projeto).

O reforço do investimento foi alavancado pela atribuição de uma potência de 1,2 megawatts, através de um processo excecional de ligação à rede elétrica para grandes consumidores. Este processo, cujo enquadramento legal se tornou conhecido como o “diploma do Bar Aberto” pelas referências a ele feitas nas investigações da justiça, iniciou-se com os socialistas no poder, mas teve a luz verde final já com o atual executivo.

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Super-reforço da rede elétrica aprovado para Sines pode ter custos para os consumidores se projetos industriais não avançarem

A potência concedida à Start Campus representa cerca de 15% do pacote total de 5,9 gigawatts, que corresponde a mais de metade do consumo nacional de eletricidade em horas de maior procura. O investimento no reforço total da rede será de mais de 500 milhões de euros e será realizado pela REN (Redes Energéticas Nacionais). Os promotores contemplados vão financiar parte da infraestrutura de ligação à rede e apresentaram caução como sinal de compromisso com o arranque do consumo.

Start Campus. Os dois fundos que investiram no polémico projeto de Sines (e que garantem que não vão desistir)

O investimento no centro de dados de Sines é suportado sobretudo pelo fundo de investimento americano Davidson Kempner e conta com o envolvimento como parceiro tecnológico da Pioneer Point. Apesar de ser um PIN (projeto de potencial interesse nacional), fonte da Start Campus indica ao Observador que o projeto não conta com fundos públicos nem incentivos fiscais.