A Start Campus, empresa arguida na investigação que culminou com a demissão do primeiro-ministro, é responsável pelo megacentro de armazenamento de dados informáticos em Sines, um investimento que poderá chegar a 3,5 mil milhões de euros.

O projeto de armazenamento de dados em Sines, classificado pelo Governo como o “maior investimento estrangeiro desde Autoeuropa”, aparece no centro da investigação do Ministério Público que levou à detenção na terça-feira de dois administradores desta sociedade (Afonso Salema e Rui Neves), de Vítor Escária, Diogo Lacerda Machado e Nuno Mascarenhas, presidente da Câmara de Sines.

O Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) revelou esta semana que está a investigar vários negócios, direta ou indiretamente, ligados às energias renováveis: as concessões de exploração de lítio nas minas em Montalegre e em Boticas, um projeto de central de produção de energia a partir de hidrogénio em Sines e ainda a construção pela Start Campos de um ‘data center’ na Zona Industrial e Logística de Sines.

Destas três linhas de investigação, apenas a relativa à Start Campus consta no despacho de indiciação dos arguidos detidos esta semana.

No despacho a que a agência Lusa teve acesso, os procuradores defendem a tese de que os arguidos procuraram alegadamente beneficiar, direta ou indiretamente, a Start Campus através de procedimentos administrativos e legislativos para facilitar a instalação e licenciamento do projeto Sines 4.0 nos terrenos contíguos à Central Termoelétrica a Carvão de Sines, que entretanto foi encerrada.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A Start Campus é uma empresa constituída em 2020 e é detida por dois gigantes da indústria financeira: os norte-americanos da Davidson Kempner e os britânicos da Pioneer Point Partners. E foi em abril de 2021 que anunciaram a intenção de instalar este megacentro de dados informáticos, num projeto que prevê investir até 3,5 mil milhões de euros.

Em março de 2021, o projeto recebeu a classificação de Projeto de Interesse Nacional (PIN) e em abril seguinte foi apresentado numa cerimónia em que participam, entre outros governantes, o primeiro-ministro, António Costa.

Foi nesse evento que o então secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, classificou o Sines 4.0 como “o maior investimento estrangeiro captado pelo país desde a Autoeuropa”. Os promotores deste investimento prometeram criar “1.200 postos de trabalho diretos altamente qualificados”, podendo vir a gerar ainda “8.000 novos empregos indiretos até 2025”.

A Start Campus prevê construir naquele complexo de Sines um total de cinco grandes edifícios que servirão para albergar empresas que armazenam e processam grandes quantidades de dados informáticos, desde fornecedoras de serviços de ‘streaming’, ‘social media’, ‘eCommerce’,’gaming’, educação online, videoconferência a empresas de ‘cloud computing’.

Parte do primeiro edifício já está erguido e em setembro deste ano começou a receber os primeiros clientes, entre os quais a EXA Infrastructure, a DE-CIX e a COLT, três empresas que fornecem serviços de internet.

As empresas que se vão instalar naquele complexo terão acesso a energia 100% verde produzida precisamente em Sines. Além de eletricidade, a água do mar de Sines também permitirá fazer a refrigeração dos sistemas de armazenamento de dados e na cidade alentejana estas grandes empresas também terão acesso à ligação a cabos de fibra ótica internacionais com a América do Norte, África e América do Sul.