Depois de ter provocado as inundações em Valência, no dia 29 de outubro, que causaram mais de 200 mortos, a partir de quarta-feira, uma nova DANA voltou a fazer sentir-se em Espanha. Málaga, a quarta maior cidade do país, foi a aglomeração urbana  que sofreu as primeiras consequências graves das chuvas intensas, onde 4.210 pessoas foram desalojadas.

A tempestade voltou à Comunidade Valenciana, sem ter, ainda assim, atingido especialmente as zonas mais afetadas pelas cheias de há duas semanas. Por volta das 7hoo locais (6h00, em Portugal) desta quinta-feira, a agência de meteorologia espanhola (Aemet) reduziu para laranja os alertas vermelhos que estiveram em vigor durante quarta-feira para as regiões de Málaga, Tarragona, na Catalunha, e Valência. No X, o canal da Aemet afirmou que na região: “O pior já passou”.

Desde a meia-noite de quinta-feira, a Comunidade Valencina recebeu 99 chamadas e geriu 80 incidentes provocados pela nova incursão da DANA. Em Aldana, município próximo do aeroporto de Valência, 30 toneladas de sacos de areia “foram fundamentais” para evitar danos materiais, em l’Horta Sud, disse o autarca Guillerme Luján. A medida preventiva foi financiada com recursos próprios do concelho e foi vista como uma prioridade depois de, nas cheias de 29 de outubro, as proteções colocadas terem sido abalroadas “pela força do tsunami”, disse Luján.

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Ao todo, até às 17h00 de quarta-feira, foram feitos 4.306 pedidos de ajuda direta às autoridades. A grande maioria, 76%, referem-se a danos em habitações e pertences, mas 53 dos pedidos foram feitos por danos pessoais. Não existem registos de feridos, mas o Ministério da Saúde criou um número de telefone para pacientes que não tenham acesso às farmácias e aos seus tratamentos essenciais.

Em Málaga, após a precipitação intensa levar a uma acumulação de 150 litros de água por metro quadrado, no centro da cidade, a intensidade das chuvas reduziu durante a noite — com relatos de ruas onde o nível da água estava acima dos veículos —, de acordo com o El País. Para esta quinta-feira, vão manter-se algumas medidas preventivas como a suspensão das aulas, em Málaga e Granada, e restrições ao trânsito de transporte públicos e privados, que, para além destas últimas, se vai aplicar também em Valência.

A tempestade motivou a suspensão da ligação de alta velocidade proveniente de Madrid, assim como outras ligações ferroviárias e rodoviárias, na região da Andaluzia. Houve universidades, estações de metro e centros comerciais inundados e o Hospital Clínico de Málaga ativou um plano de emergência devido às inundações, tendo limitado o atendimento ao serviço de urgências, segundo informam no X. No aeroporto, pelo menos um voo foi cancelado e outros cinco que tinham como destino a cidade tiveram de ser desviados para Sevilha, durante a manhã desta quarta-feira, informa a Aena.

A Aemet, agência estatal de meteorologia espanhola, tinha colocado sob aviso vermelho duas províncias da Andulzia e província em Tarragona, na Catalunha, devido à precipitação intensa, pelo que a população foi tomando medidas preventivas. Na Andaluzia, o aviso máximo vigora até à meia-noite e até às 22h, em Tarragona. Quase todas as regiões litorais do país se encontram sob aviso amarelo.

Entretanto, a Aemet atualizou, a partir das 18h18, o alerta de chuvas intensas para a Comunidade Valenciana e lançou um aviso vermelho  em vigor durante quarta e quinta-feira.

Duas semanas de diferença, o que distingue as duas DANA?

A DANA (ou Depressão Isolada em Níveis Altos), também conhecido como gota fria, que assolou Valência há duas semanas e a que atinge Málaga agora são o mesmo fenómeno meteorológico, com origem no Golfo de Cádiz, alimentando pelos ventos húmidos do Mediterrâneo, explica a meteorologista do eltiempo.es, Mar Gómez, ao El Mundo. No entanto, apesar da proximidade no tempo e na semelhança na formação e nos efeitos, tratam-se de “duas gotas frias  independentes“.

A grande diferença entre esta gota fria e a anterior, em Valência, é a evolução dos dois fenómenos, destaca a especialista. Enquanto a DANA de Valência durou quase uma semana, esta vai evoluir rapidamente para uma tempestade fria (BFA), um fenómeno menos agressivo. Terça-feira terá sido o dia mais difícil, em Málaga, e, a partir da noite desta quarta-feira, a tempestade segue para o litoral de Valência, onde ainda se fazem sentir as consequências do desastre ambiental do final de outubro. Isto faz com que aumentem as preocupações em Valência, apesar da menor gravidade da tempestade. Por este motivo, Valência também se encontra sob aviso vermelho, a par de Málaga e Tarragona.

Na transição para BFA, a tempestade desmultiplica-se em várias frentes, mais previsíveis, mas que vão levar chuvas fortes e temperaturas baixas às regiões de Castilla-La Mancha, Madrid e Extremadura, ao longo do dia de quinta-feira. Na sexta-feira e fim de semana, a situação deve estabilizar em Espanha — na mesma altura em que a tempestade chega a Portugal, com chuva e frio.

Quatro distritos com aviso amarelo por causa da chuva

A dimensão dos estragos na primeira DANA deixou as pessoas mais alerta para a segunda, que atingiu Málaga, ainda que sejam dois fenómenos separados. “[A gota fria de Valência] ajudou a que todos sejamos mais conscientes sobre o que isto implica e a criar melhor processos” para prevenir danos e vítimas, argumentou Mar Gómez.