A Assembleia do Livre aprovou uma moção de apoio à posição da direção do partido sobre as presidenciais norte-americanas e chumbou um documento que contestava o apelo ao voto na democrata Kamala Harris.
Numa reunião que decorreu na madrugada de quarta-feira, a Assembleia do Livre — órgão máximo entre congressos — debateu duas moções sobre um tema que recentemente tem gerado alguma discórdia interna.
Em causa está a recente subscrição pelo Livre de um comunicado dos Verdes Europeus – família europeia da qual o partido faz parte – emitido no passado dia 1 de novembro.
Este comunicado apelava à candidata do Partido Verde dos Estados Unidos da América, Jill Stein, para que se retirasse da corrida e apoiasse a democrata Kamala Harris – que acabou por perder as eleições presidenciais norte-americanas para o republicano Donald Trump.
Em debate na reunião da Assembleia do Livre estiveram dois documentos, aos quais a Lusa teve acesso: um que contestava a subscrição pelo partido do comunicado dos Verdes Europeus e criticava a direção, acusando-a de ter avançado com uma “decisão unilateral”, e outro que apoiava o Grupo de Contacto.
De acordo com fonte oficial do partido, o documento de apoio à direção contou com 37 votos a favor, um contra e sete abstenções. Este documento foi apresentado por quinze dirigentes, entre eles, a coordenadora deste órgão máximo, Patrícia Gonçalves, e o chefe de gabinete do partido na Assembleia da República e deputado municipal em Oeiras, Tomás Cardoso Pereira.
A Assembleia do Livre deliberou que o partido deve continuar “a posicionar-se ao lado de candidatos democratas que travam combates eleitorais contra fascistas e antidemocratas, à semelhança do que aconteceu recentemente nos Estados Unidos da América, na Geórgia e na Moldova”.
O órgão máximo do partido classifica Trump como “um fascista do século XXI” e defende que apesar de algumas “decisões erradas” por parte da administração Biden/Harris — “nomeadamente e em particular ao não denunciar de forma clara o genocídio em Gaza” –, “tanto em relação à Palestina como a qualquer outro assunto de política externa ou interna dos EUA, comparar Trump a Harris é um exercício sem sentido”.
“Harris enfrentava o regresso do fascismo à Casa Branca e, quando assim é, mesmo perante as muitas divergências que se tenha quanto às suas posições e da administração a que pertenceu, a obrigação primordial de todos os democratas e progressistas é não ceder ao sectarismo, pôr as divergências de lado e partir para a luta contra o fascismo e em defesa da democracia”, lê-se no texto.
Ao aprovar esta moção, a Assembleia do Livre deliberou ainda que este órgão se deve dedicar a “debates sobre como travar o avanço do fascismo, dos regimes autoritários e do retrocesso na ambição ecologista, na Europa e no mundo, e à construção de alternativas progressistas, ecologistas e agregadoras” e comprometeu-se a marcar uma reunião “exclusivamente dedicada a como travar o avanço do fascismo e dos regimes autoritários na Europa e no mundo”.
Na moção chumbada, que contou com oito votos a favor, 31 contra e cinco abstenções, seis membros da Assembleia alegavam que a subscrição deste comunicado foi feita “sem consulta prévia dos seus membros e apoiantes, que foram informados desta tomada de posição por fontes externas ao Livre, tornando este processo pouco transparente e causando desconforto entre os seus filiados”.
O texto, em formato de moção de rejeição, queria que a Assembleia do Livre condenasse o comunicado dos Verdes Europeus, por conter “um apoio explícito à candidatura de Kamala Harris pelo Partido Democrata, que se baseia na manutenção do ‘status quo’ da acumulação de capital nos muito ricos e no imperialismo global dos Estados Unidos, cruzando várias linhas vermelhas em valores e posições políticas fundacionais do Livre”.