O Presidente da República participa na quinta-feira na apresentação do programa do centenário do nascimento do antigo chefe de Estado Mário Soares e a Assembleia da República realiza em 6 de dezembro uma sessão solene de homenagem.

Estas são dois dos momentos mais relevantes que fazem parte do arranque do programa de comemorações do nascimento de Mário Soares, que decorrem até ao final de 2025 e que irão estender-se a vários pontos do país com exposições, edições literárias e iniciativas culturais.

Em 6 de dezembro, véspera do aniversário do fundador e primeiro líder do PS, que liderou como primeiro-ministro três governos constitucionais (1976/1978, 1978 e 1983/1985) e que foi Presidente da República entre 1986 e 1996, a Assembleia da República fará uma sessão solene de homenagem.

Para o dia seguinte, 7 de dezembro, quando se completam cem anos do seu nascimento, está a ser preparada uma cerimónia evocativa que reunirá na Fundação Calouste Gulbenkian Gulbenkian, em Lisboa, personalidades nacionais e internacionais, e será lançado o volume 3 da Coleção Obras de Mário Soares — “Escritos da Resistência”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

De acordo com as linhas gerais do programa, as comemorações deverão ser encerradas em dezembro de 2025, de novo na Fundação Calouste Gulbenkian, com a realização de uma conferência internacional.

Antes, já na próxima quinta-feira, na Escola Básica Maria Barroso, em Lisboa, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, participa na sessão de apresentação do programa das comemorações do nascimento de Mário Soares.

Coordenado por José Manuel dos Santos, escritor e antigo assessor de Mário Soares, fazem parte entre outros da organização das comemorações os filhos o antigo Presidente da República, Isabel e João Soares, as antigas ministras Maria de Lurdes Rodrigues e Isabel Alçada, e personalidades como José Pena do Amaral e Teresa Calçada.

A comissão organizadora pretende que as comemorações do centenário se centrem na atualidade do pensamento político de Mário Soares, sobretudo a partir da “identificação que fez das causas dos populismos, nas suas propostas para recuperar o prestígio da democracia, na sua capacidade de atrair os mais jovens”.

“As comemorações vão prolongar-se ao longo de um ano e serão totalmente viradas para o futuro, para a forma como o pensamento de Mário Soares — os seus valores e os seus ideais — dão boa resposta a tempos como os atuais em que as democracias correm vários perigos”, afirma José Manuel dos Santos numa nota divulgada pela Fundação Mário Soares e Maria Barroso.

Num texto introdutório sobre o tema da atualidade do pensamento político do antigo chefe de Estado e primeiro-ministro, José Manuel dos Santos, que foi um dos seus principais colaboradores ao longo de várias décadas, refere-se em particular aos últimos anos de vida de Mário Soares.

“Mário Soares, nos seus escritos incessantes e nas suas intervenções incansáveis, mostrou uma grande e ativa preocupação pela decadência moral e política das democracias e pelo declínio da Europa, com o risco já presente de se tornar irrelevante no mundo, e dos Estados Unidos. Identificou, com um notável poder de antevisão, os perigos e as ameaças que cercam os regimes democráticos”, sustenta.

Segundo José Manuel dos Santos, o fundador e primeiro líder do PS “denunciou as desigualdades sociais que não param de se agravar, provocando a descrença nas instituições políticas e abrindo caminho aos populismos”, assim como “acusou a desordem internacional criadora de um mundo de instabilidade e de insegurança causadoras de desastres humanitários e ambientais, de crises económicas e sociais, de conflitos e de guerras simultâneas e sucessivas”.

“Mário Soares não se eximia a apontar os erros, as abdicações, os oportunismos, os aproveitamentos, os negócios fraudulentos da economia de casino e as situações intoleráveis de especulação e de apropriação do interesse geral pelos interesses particulares. Não se dispensava de pôr em evidência a captura do poder político pelo poder económico e financeiro global. Não se cansava, sobretudo, de, lembrando as lições da história, denunciar a perda de valores e aquele niilismo ético que cria um clima de vale tudo e de salve-se quem puder”, aponta.

Para José Manuel dos Santos, “os males que Soares denunciou têm aumentado e não aconteceram a grande mudança ética e a imperiosa transformação política que ele considerava fundamentais para salvar as democracias da sua degradação ou mesmo da sua destruição”.

“É, por isso, que as comemorações do seu centenário, tornando clara a atualidade do seu exemplo de uma vida dedicada ao combate pela liberdade, e transmitindo uma mensagem dirigida às novas gerações, ainda se tornam mais necessárias, valiosas e fundamentais”, conclui.

Programa especial dedicado às gerações mais novas

O programa do centenário das comemorações de Mário Soares, que arranca formalmente em dezembro, pretende dedicar especial atenção às gerações mais novas, com o lançamento de literatura infantil, ações pedagógicas nas escolas e exposições.

“Pretende-se que estas comemorações do centenário do nascimento de Mário Soares sejam muito viradas para as gerações mais novas. São as que menos conhecem a História, mas são aquelas que podem garantir a longevidade da mensagem de Mário Soares”, afirmou à agência Lusa José Manuel dos Santos, coordenador do programa das comemorações.

Já na quinta-feira, será lançada uma biografia infantil, intitulada “Mário Soares: No caminho da liberdade”. Um livro da autoria de Luísa Ducla Soares, com ilustração de Susana Carvalhinhos, sobre o percurso de vida e os valores de Mário Soares. Luísa Ducla Soares, viúva do fundador do PS, professor universitário e antigo ministro socialista Mário Sottomayor Cardia, é considerada uma das mais consagradas autoras de literatura infantil em Portugal.

De acordo com o programa, que se liga também às celebrações dos 50 anos do 25 de Abril e dos 100 anos do nascimento de Maria de Jesus Barroso, está previsto o lançamento de um dossiê pedagógico sobre a vida de Mário Soares, com sugestões para análise de textos e para debate em contexto educativo — uma iniciativa com o apoio da Porto Editora.

Com o apoio da rede de bibliotecas escolares, pretende-se também desenvolver um programa de atividades pedagógicas sugeridas aos docentes de todos os níveis educativos para estimular atividades centradas na biografia e nos valores de Mário Soares.

Outras iniciativas já planeadas estão centradas no arquivo do antigo Presidente da República, como a “Desarquivar a democracia” — esta com presença digital através do Instagram e sobretudo destinada a alunos do 3º ciclo e do ensino secundário — ou a exposição “Mário Soares: 100 anos”.

Esta exposição, que estará patente entre o final deste ano e 2025, de acordo com os organizadores, pretende dar a conhecer “a vida de Mário Soares, o seu pensamento, interesses e valores, a sua luta e ação pela liberdade e pela democracia, o seu legado nacional e internacional”, tendo sido concebida para ser instalada em espaços educativos, como escolas, bibliotecas, universidades e outros equipamentos culturais.

O objetivo dos promotores é que circule por todo o país e que permita dar a conhecer a vida do antigo Presidente da República, o seu pensamento, interesses e valores, a sua luta e ação pela liberdade e pela democracia, o seu legado nacional e internacional.

Já em relação a iniciativas culturais dedicadas a todas as gerações, a comissão organizadora destaca a exposição “O sal da democracia: Mário Soares e a cultura”, que estará patente entre dezembro deste ano e maio de 2025 na Casa de Serralves, no Porto.

Segundo a organização, é uma “exposição que apresenta um cruzamento entre a coleção de arte e outras obras e documentos que marcaram o pensamento e a ação de Mário Soares (de autores da sua preferência, de amigos e dele próprio), revelando a sua personalidade humana, política e cultural”.

Já a partir de setembro de 2025, até fevereiro de 2026, será lançada a exposição “Os mundos de Soares”, no Pavilhão de Portugal, em Lisboa. Além desta exposição com foco na biografia e legados do antigo chefe de Estado, está também prevista, a partir de fevereiro de 2025, na Santa Casa da Misericórdia do Porto, uma mostra de fotografias da autoria de Luís Vasconcelos.

Igualmente no próximo ano, no espaço da Fundação Mário Soares e Maria Barroso, será promovida mais uma exposição, esta intitulada “Mário Soares, Portugal, que revolução?”.

“Esta exposição que mostra, através de fotografias, os grandes acontecimentos que marcaram a Revolução portuguesa de 1974-1975 e o papel essencial de Mário Soares na luta pela instauração de um regime democrático, representativo e pluralista”, refere-se numa nota da comissão organizadora das comemorações.

No dia 25 de abril de 2025, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, realiza-se o “Encontro de Centenários”, uma sessão que irá conjugar as comemorações de Mário Soares com o centenário do nascimento de Maria Barroso, que se celebra em 2 de maio.

Ainda de acordo com a organização, em outubro de 2025, na Universidade de Coimbra, decorrerá o “Congresso Internacional Mário Soares: Uma Vida Entre Séculos”. Uma iniciativa irá reunir a comunidade académica e científica para analisar, debater e refletir sobre a vida, ação e obra de Mário Soares e de Maria Barroso.