Manuela Ferreira Leite considera ser “irresponsável” não tomar precauções em relação ao aumento extraordinário das pensões, medida proposta pelo PS. “Percebo que do ponto de vista político aquilo que os partidos da oposição pretendem é criar algum embaraço ao Governo“, afirma, considerando que, mesmo assim, “em política tudo tem limites”.
No programa Explicador, da Rádio Observador, a antiga líder do PSD critica a ideia de alguns partidos que consideram ser “possível tomar medidas que aparentemente são protetoras de classes mais desfavorecidas, mas que na realidade podem vir a prejudicar essas classes”, apontando para um “momento de provável viragem da situação económica internacional”. “Há uma imprevisibilidade muito elevada de qual vai ser a situação económica da Europa daqui a um ano ou dois. Não há estudos que resistam a uma previsão correta do impacto que vai ter determinada medida”, acrescenta.
Em debate com a social-democrata, José António Vieira da Silva considera, em oposição, que o PS teve “cautela” na proposta. “O PS fez as suas contas, do ponto de vista de qual era o impacto e qual o efeito nas pensões e qual o custo para dar o aumento — 265 milhões de euros — no primeiro ano. Esse custo é perfeitamente enquadrável nas contas”, afirmou o socialista. “Essa cautela existiu, a diferença que existe é entre algo que não é só um subsídio eventual e um aumento permanente”, considera, referindo-se ao bónus extraordinário aos pensionistas, a pagar em uma tranche, proposto pelo Executivo de Luís Montenegro.
Vieira da Silva alerta para o facto de os pensionistas não terem um “lobby que os defenda”. “São sujeitos a esta manobra discricionária que considero um recuo de várias décadas na política de pensões”, nota.
“Porque é que são os pensionistas os únicos a quem se diz que o apoio fica dependente de alguma coisa?”, questiona ainda, afirmado que confia mais numa política “que se baseie em decisões que tenham impacto previsível, até porque aumentos e subsídios [extraordinários] induzem uma perceção muito errada por parte dos pensionistas, que muitas vezes não tem literacia financeira suficiente para compreender um bónus único”.
“Se o Chega vota ou não a favor é um problema do Chega”
À Rádio Observador, o socialista nega que o PS e a restante oposição de esquerda tenha a pretensão de se substituir ao Governo. “Acho que há uma enorme falácia nessa questão, porque está sempre associada às maiorias que se formam e à crítica que se faz ao PS de aprovar medidas que terão o apoio parlamentar do Chega“, refere.
“Ninguém pode estar condicionado em relação a como votará outro partido, senão o PS, o Governo ou outro partido apenas podiam apresentar as medidas que sabiam que o Chega não estaria de acordo, o que é absurdo. Se o Chega vota ou não a favor é um problema do Chega”, defende Vieira da Silva.
O ex-ministro de governos PS considera ainda “incompreensível” o facto de “em algumas áreas se tomarem medidas estruturais sem nenhuma precaução, por exemplo baixando impostos, como o IRC”, em detrimento do aumento aos pensionistas.
Manuela Ferreira Leite discorda, referindo que ficou espantada ao ouvir o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, a fazer uma declaração “absolutamente imprópria” em relação à descida do IRC, de que se ganharia margem para o aumento das pensões se se descesse apenas 1% e não 2%, como proposto pelo Governo.
“Esqueceu-se de um pequeno pormenor, de que os efeitos das baixas de impostos são contrários aos que ele diz. Se baixarem impostos para as empresas seguramente melhorará a situação da Segurança Social”, argumenta a social-democrata, referindo que “não é possível distribuir rendimentos que não existem”.