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A força aérea ucraniana acusou a Rússia de ter lançado um míssil balístico intercontinental contra a região de Dnipro, na Ucrânia. Fontes ocidentais admitiram que o míssil pode não ter sido do tipo intercontinental, mas Volodymyr Zelensky respondeu que “todas as características apontam para que seja. Vladimir Putin reagiu horas depois: o míssil testado é de alcance intermédio e o teste foi “bem-sucedido”.

A história foi tendo vários desenvolvimentos ao longo desta quinta-feira, que começou com as forças ucranianas a anunciarem o lançamento contra “fábricas e infraestruturas críticas” na cidade de Dnipro, no centro da Ucrânia, de um míssil balístico intercontinental, um aerobalístico e sete mísseis de cruzeiro. As defesas ucranianas conseguiram abater seis dos sete mísseis de cruzeiro, mas não intercetaram o míssil aerobalístico (Kinzhal) nem o míssil balístico intercontinental, que são dois dos mais sofisticados do arsenal russo. Segundo a Força Aérea ucraniana, os mísseis não disparados não causaram danos “substanciais”.

Algumas horas depois do alegado ataque com um míssil balístico intercontinental, fontes ocidentais puseram em causa, em declarações à Sky News e à ABC, que algum dos mísseis lançados tenha sido de tipo intercontinental. De acordo com as fontes ouvidas pelos dois meios de comunicação, tratou-se de um ataque com recurso a mísseis balísticos, mas nenhum intercontinental. À ABC News, as duas fontes dos EUA indicaram que o míssil era, afinal, um míssil balístico de alcance intermédio (IRBM, na sigla em inglês). Vladimir Putin viria, horas depois, a confirmar esta tese.

Mísseis britânicos de longo alcance disparados pela primeira vez pela Ucrânia contra a Rússia

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Putin demorou horas a reagir

Às fontes ocidentais que desmentiram Kiev, Volodymyr Zelensky respondeu que “todas as características”, incluindo a velocidade e a altitude, eram as de um míssil balístico intercontinental. Em todo o caso, disse estar em curso uma investigação.  No Telegram, o Presidente ucraniano acusou a Rússia de estar a usar “mísseis novos” e a usar a Ucrânia como um “campo de treino”.

Zelensky apelidou a Rússia como o “vizinho louco” que “mais uma vez mostrou o que realmente é e como despreza a dignidade, a liberdade e as vidas da população em geral”. E disse mesmo que Putin também mostrou estar “assustado”.

De Moscovo a reação demorou. Primeiro, o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, recusou ainda durante a manhã comentar o alegado lançamento do primeiro míssil balístico intercontinental. “Neste momento, não tenho nada a dizer sobre esse tópico”, respondeu Peskov a um pedido de comentário aos militares russos.

A mesma posição foi tomada pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, mas num episódio caricato. A CNN Internacional conta que Zakharova atendeu o telefone enquanto respondia às perguntas dos jornalistas numa conferência de imprensa. Do outro lado, alguém — que a CNN não consegue identificar — a instruiu a não comentar o ataque na região ucraniana de Dnipropetrovsk.

Porta-voz do MNE russo foi proibida de comentar ataque com míssil na Ucrânia durante conferência de imprensa

A confirmação viria, horas depois, pela voz de Vladimir Putin, que num discurso televisivo à nação adiantou que o país testou um novo míssil de alcance intermédio (que está entre o médio e o intercontinental) contra uma infraestrutura militar da Ucrânia em resposta ao recente ataque ucraniano com armas de longo alcance ocidentais, dias antes. Foi usado, na Ucrânia, um sistema de mísseis hipersónicos “Oreshnik”. 

Putin, também segundo a AP, avisou que Moscovo pode voltar a usar este tipo de míssil contra os países que permitiram a Kiev usar mísseis ocidentais para atingir a Rússia. “Em resposta à utilização de armamento de longo alcance americano e britânico, as forças armadas russas realizaram um ataque combinado a uma das instalações de um complexo militar-industrial ucraniano”, disse Putin, citado pela BBC.

“Em condições de combate, foi efetuado um teste de um dos mais recentes sistemas de mísseis russos de alcance intermédio. Neste caso, com uma versão hipersónica não nuclear de um míssil balístico”, acrescentou Vladimir Putin, antes de dizer que o teste foi “bem-sucedido”. “O objetivo foi atingido”, frisou, segundo a BBC.

Putin explicou que o complexo atingido é “um dos maiores complexos industriais conhecidos desde a era soviética” e que fabrica mísseis e outro tipo de armamento. O líder russo defendeu que o uso de mísseis de longo alcance norte-americanos e britânicos fez com que o conflito regional ganhasse contornos de um conflito global.

Por seu turno, o porta-voz do Kremlin afirmou  que Moscovo alertou os Estados Unidos 30 minutos antes de ter disparado o míssil. “O aviso foi enviado automaticamente 30 minutos antes do lançamento”, disse Dmitri Peskov, citado pelas agências noticiosas russas, acrescentando que Moscovo mantém uma “comunicação constante” com os Estados Unidos sobre a questão das armas nucleares.

Os EUA e o Reino Unido vieram confirmar o uso pela Rússia de um novo tipo míssil balístico, num ato que interpretam como uma tentativa de intimidação. Um alto responsável do Governo norte-americano, citado pelas agências internacionais, afirmou tratar-se de um “míssil de médio alcance” disparado contra a cidade de Dnipro e não de um míssil intercontinental, como foi inicialmente avançado pelas autoridades ucranianas. Segundo Washington, este “míssil balístico experimental de médio alcance” foi disparado pela Rússia com o objetivo de “intimidar a Ucrânia e os países que a apoiam”. Contudo, para o Governo norte-americano, esta estratégia de Moscovo “não vai mudar a situação neste conflito”.

Segundo um porta-voz do chefe de Governo britânico, Keir Starmer, a Rússia utilizou “pela primeira vez” na Ucrânia “um míssil balístico com um alcance de vários milhares de quilómetros”. “Isto é obviamente muito preocupante e constitui um novo exemplo do comportamento irresponsável da Rússia, que apenas reforça a nossa determinação em apoiar a Ucrânia durante o tempo que for necessário”, comentou o porta-voz do primeiro-ministro do Reino Unido. Londres não clarificou se o míssil disparado era “intercontinental”, como foi reivindicado por Kiev.

Ucrânia ativa mecanismos internacionais sobre nova arma russa

Antes do anúncio de Vladimir Putin, a Ucrânia anunciou que vai ativar mecanismos na ONU, na NATO e na OSCE sobre a utilização de um novo tipo de arma intercontinental russa e pediu ações internacionais imediatas e sistemas de defesa antiaérea.

“O Ministério dos Negócios Estrangeiros já tomou uma série de medidas políticas e diplomáticas, incluindo contactar os nossos parceiros para os informar sobre o que aconteceu e o que sabemos neste momento”, indicou à imprensa o porta-voz da diplomacia de Kiev, Georhii Tykhyi, citado pela agência Ukrinform, a propósito da alegada utilização pela Rússia de um míssil intercontinental, esta quinta-feira em Dnipro, no centro do país.

O porta-voz informou que a Ucrânia “já está a ativar mecanismos da ONU e mecanismos da NATO” e planeia ainda envolver a OSCE (Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa).

Tykhyi acrescentou que, além dos apelos e notas formais, a Ucrânia espera a convocação de formatos separados para “acordar o mundo e chamar a atenção” para esta escalada russa do conflito.

“Se a utilização de um míssil balístico intercontinental se confirmar, acreditamos que será possível afirmar que a Rússia se degradou ao nível da Coreia do Norte, que lança regularmente tais mísseis, assustando os seus vizinhos e aterrorizando o mundo”, observou.

Segundo a Ukrinform, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano instou a comunidade global e todos os líderes que respeitam a Carta da ONU a responderem imediatamente ao uso deste novo tipo de arma pela Rússia, sem esperar por conclusões detalhadas de especialistas, e a mostrarem a rejeição destas ações.

“Além de declarações, precisamos de ações concretas por parte dos nossos parceiros e aliados para proteger vidas humanas, fortalecendo especificamente o escudo aéreo sobre a Ucrânia, dotando a Ucrânia de sistemas capazes de intercetar este tipo de mísseis. Estes sistemas existem no mundo, e é tempo de os transferir para a Ucrânia”, apelou Tykhyi.