O primeiro-ministro considera que “ninguém deve estar excluído” das presidenciais pela condição militar e disse ainda não estar escolhido o próximo chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), sem nunca se referir ao nome de Gouveia e Melo.

Na conferência que assinala o terceiro ano da CNN Portugal, o primeiro-ministro foi questionado se considera preocupante a possibilidade de voltar a ter um militar na Presidência da República, numa referência a notícias que dão conta de uma candidatura do atual CEMA, o almirante Henrique Gouveia e Melo.

“Não, por si só, não me parece que seja essa a questão. A questão que se vai colocar ao povo português é escolher a melhor personalidade para cumprir as competências constitucionais que estão determinadas para o exercício da mais alta magistratura do Estado, que é a Presidência da República, e ninguém deve estar excluído por ter determinada condição ou incluído por ter uma outra condição diferente”, afirmou Montenegro.

O primeiro-ministro defendeu que quem concluir estar em condições de concorrer a Belém deve ter “um perfeito conhecimento da realidade política, da realidade económica, da realidade social do país, do seu contexto a nível europeu e internacional” e voltou a defender que o PSD deve aguardar por candidatos dentro do partido, como refere a moção de estratégia com que se recandidatou à liderança dos sociais-democratas.

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“Temos dentro dos nossos militantes várias personalidades que têm perfil, que têm conhecimento, que têm aquilo que é essencial para nos próximos anos exercer a função de Presidente da República. Estou absolutamente convencido disso hoje, se calhar até estou mais hoje do que estava na altura em que redigi a moção”, disse.

Questionado se está escolhido o próximo Chefe de Estado-Maior da Armada, respondeu negativamente — mas sem confirmar ou desmentir que Gouveia e Melo já se excluiu de uma eventual recondução — e negou ter ficado chocado por ter visto o ministro da Defesa, Nuno Melo, reunir-se num bar com o almirante. “Esta semana nós vamos lançar o processo tendente à decisão de nomeação, que deverá estar concluída até 27 de dezembro”, afirmou.

Recorde-se que, tal como avançou o Observador, o almirante Henrique Gouveia e Melo não vai ser reconduzido como Chefe do Estado-Maior da Armada, o que significa que estará livre para, se assim o entender, protagonizar uma candidatura a Presidente da República. Segundo apurou o Observador junto de fonte conhecedora do processo, Gouveia e Melo comunicou “em definitivo” a Nuno Melo, ministro da Defesa, a sua indisponibilidade para continuar no cargo — Melo já terá, inclusivamente, informado Luís Montenegro.

Quando deixar o cargo, algo que acontece formalmente a 27 de dezembro, terá todas as condições para, se assim o entender, entrar na corrida à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa — ambição que nunca afastou por completo, que as sucessivas sondagens alimentam e que o ar dos tempos à direita parece reconfortar.

Este domingo, o líder social-democrata não deixou de sublinhar que tem uma estratégia definida para as eleições presidenciais desde o último Congresso do partido, que se realizou no final de outubro, em Braga — estratégia essa que foi legitimidada pelos militantes do PSD.

“Estou vinculado a uma moção estratégica que apresentei no último Congresso”, recordou Montenegro aos jornalistas. Nesse documento, o líder social-democrata traça o perfil do candidato presidencial que quer apoiar — e que excluiu objetivamente Gouveia e Melo.

“Há seguramente nos nossos quadros partidários, militantes com notoriedade e conhecimento profundo e transversal do país, das políticas públicas, das instituições democráticas e cívicas, da realidade geopolítica internacional, da nossa participação na Organização das Nações Unidas, na União Europeia, na Nato, na CPLP e em todas as plataformas internacionais em que intervimos”, escreveu o líder social-democrata no seu documento estratégico.

No início de outubro, em entrevista a Maria João Avillez, na SIC, Luís Montenegro deu um empurrão considerável à proto-candidatura de Marques Mendes, de quem é muito próximo, dizendo que o conselheiro de Estado e antigo líder do PSD “é um dos que encaixam melhor no perfil” traçado para as presidenciais. “Não é o único, mas é um dos que encaixam melhor”, fez questão de frisar.