A Esquerda no Parlamento Europeu (PE) condenou esta terça-feira a “falta de transparência” de acordos feitos “nos bastidores” entre o centro-direita, socialistas e liberais e para encerrar as negociações da próxima Comissão Europeia.

De acordo com uma resolução que a Esquerda no PE quer apresentar para votação durante a sessão plenária desta semana, na cidade francesa de Estrasburgo, os 46 eurodeputados daquela bancada criticam a totalidade do processo de constituição do próximo executivo comunitário.

No documento, a Esquerda insurge-se contra a “farsa do processo de escrutínio das declarações de interesses” dos comissários indigitados, que “continua a ser feita à porta fechada de maneira expedita e superficial”.

Os eurodeputados daquele grupo político, incluindo os portugueses Catarina Martins (Bloco de Esquerda) e João Oliveira (PCP), “deploram a falta de transparência e os adiamentos das reuniões de avaliação”, que deixou a ideia de que “há uma vontade para fazer negociações políticas opacas em detrimento da responsabilização democrática”.

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A Esquerda “condena que, como consequência de um acordo feito nos bastidores, os candidatos claramente sem qualificações para o seu portefólio tenham recebido validação sem um escrutínio significativo”.

Na semana passada, o Partido Popular Europeu (PPE), a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D) e o Renovar a Europa (liberais), assinaram um acordo e comprometeram-se com uma “abordagem construtiva” no próximo ciclo institucional da União Europeia (UE), face “aos desafios colocados”, permitindo provar a nova Comissão Europeia.

A resolução da Esquerda não tem efeito prático e não pode impedir a votação e eventual aprovação do colégio de comissários de Ursula von der Leyen para os próximos cinco anos.

No entanto, a Esquerda quer vincar a sua posição contra a maneira como o processo foi conduzido e exige à Comissão Europeia e ao Parlamento Europeu que encetem as reformas necessárias para eliminar o que diz ser a opacidade e uma degradação cada vez maior deste processo.

Os eurodeputados desta bancada do hemiciclo também criticaram o que disseram ser uma cada vez maior alienação do Parlamento Europeu no seu papel de escrutínio e de escolha da Comissão Europeia.

O Parlamento Europeu vai votar na quarta-feira a composição do próximo colégio de comissários, que deverá ser aprovada depois do acordo entre aquelas três forças políticas.

Pouco mais de dois meses depois da apresentação por parte da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, dos comissários indigitados e de audições a cada um dos candidatos, os eurodeputados são chamados a pronunciar-se sobre o próximo executivo comunitário, condição necessária para iniciar funções no dia 01 de dezembro.

Depois do acordo político alcançado na semana passada, está previsto um debate durante a manhã de quarta-feira, em Estrasburgo, e ao início da tarde realizar-se-á o derradeiro voto dos eurodeputados sobre o novo colégio de comissários, sendo necessária uma maioria simples para o novo executivo comunitário da presidente reeleita no cargo entrar em funções por um período de cinco anos.

Após a líder da instituição ter visto a sua reeleição aprovada em julho passado, esteve desde então a formar equipa com intensas negociações nas últimas semanas entre as três maiores forças partidárias da assembleia europeia para um acordo político sobre os sete nomes pendentes de um total de 26, para o qual foram cruciais várias cedências.

Com aprovação garantida estava já a comissária indigitada por Portugal, Maria Luís Albuquerque, a quem foi atribuída a pasta dos Serviços Financeiros e União de Poupança e Investimento.

Após as eleições europeias de maio passado, o PPE (integra o PSD e o CDS-PP) manteve-se como a maior força política no Parlamento Europeu, com 188 eleitos, seguido do S&D (abrange o PS português), com 136 assentos. Ao contrário da legislatura anterior, o Renovar a Europa (inclui a Iniciativa Liberal) deixou de ser a terceira força política e caiu para a quinta posição, com 77 eurodeputados.

Em terceiro lugar está agora o recém-criado grupo Patriotas pela Europa (extrema-direita, inclui o Chega), com 84 eleitos, seguido dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), com 78 deputados.

Seguem-se os Verdes (53), a Esquerda e o grupo Europa das Nações Soberanas (extrema-direita,com 25 eleitos).