2 de dezembro 2001. A Enron anunciava a insolvência, uma queda com estrondo às mãos de uma fraude contabilística. À época inscreveu-se como a maior falência da história. A Enron prestava serviços de energia. Foi há 23 anos.

2 de dezembro 2024. Exatamente no mesmo dia da queda um anúncio na rede X anunciava o renascer da Enron. Uma conta que, segundo a Newsweek, foi lançada em maio de 2024 e que tem o visto azul que indica um nome certificado no ex-Twitter.

“Estamos de volta. Podemos falar?”, clamava a mensagem na rede X esta segunda-feira, 2 de dezembro, e que lançou a dúvida. Seria mesmo o regresso da Enron, empresa de energia, que hoje em dia é sempre ligada a uma fraude contabilística?

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“O mundo está a mudar mais rápido do que nunca. Consegue senti-lo? Crescimento, transformação, renascimento. No mundo atual a única constante é a mudança., Aprende a adaptar-te, perdoa para permitir que a mudança aconteça no mundo e connosco. Percebemos isto melhor do que ninguém e estamos aqui para liderar pelo exemplo”. É aqui que surge a bandeira da Enron há muito esquecida. “Eu sou Enron. Nós somos Enron”, dizem os protagonistas do anúncio, para no final um logótipo da Enron feito de pessoas dá imagem à frase “estamos de volta”. “Podemos falar”, conclui o vídeo que mostra o novo site da empresa.

Mas o reaparecimento da Enron não chegou apenas pela mensagem na rede X. O site Enron.com voltou à vida. E um comunicado, nessa página de internet, lançou o mote: “com uma visão arrojada, a Enron aproveitará a tecnologia de ponta, a criatividade humana e o espírito de adaptação para enfrentar os desafios críticos da sustentabilidade energética, acessibilidade e preços acessíveis”. E não faz as coisas por menos. “A Enron Corporation anuncia o seu relançamento como uma companhia dedicada a resolver a crise de energia global”, não indicando, no entanto, o que pretende fazer para prosseguir com estes objetivos. “O mundo está pronto para crescimento, transformação e renascimento. A Enron está pronta para liderar”, conclui ainda o comunicado, que fala de soluções sustentáveis, energia renovável, armazenagem de energia, sistemas de distribuição de eletricidade avançados, tecnologia descentralizada.

O Observador enviou um email com pedidos de mais informações para o contacto que surge no site da empresa, tendo recebido como resposta que “teremos mais para partilhar em breve. Neste momento não temos qualquer comentário adicional ao comunicado”, indica a resposta que chegou de uma agência de comunicação, Stu Loeser.

Momentos depois de ter sido divulgado o vídeo na rede X acumularam-se as especulações de que este relançamento estaria associado a um novo negócio para a Enron, ligado a criptoativos. Mas, a Newsweek que fez um fact check ao ressurgimento da Enron, garante que não há qualquer evidência dessa ligação, acrescentando ter sido apagado um tweet da conta da Enron a dizer que “não temos qualquer token ou moeda (ainda). Fiquem ligados, mostraremos mais em breve”. Mais tarde, acrescenta a mesma notícia, a empresa dissociou-se desse tipo de projetos. Um tweet apagado ao qual a empresa ainda respondeu que qualquer imitação da Enron é um esquema e pediu para ninguém clicar em ligações de sites.

Nesse fact check, a Newsweek conclui que não há qualquer evidência de que a empresa estará de novo a lançar a atividade, quer na área das criptomoedas, quer na energia, pelo que se fica pela conclusão de que se trata de uma sátira, uma vez que nos termos e condições disponíveis no site se indica que pela Primeira Emenda [da Constituição americana] a paródia e a arte performativa são protegidas.

Segundo notícias divulgadas nos Estados Unidos, houve, também, anúncios em jornais locais e publicidade em outdoors em Houston, a cidade natal da Enron.

O logótipo da Enron, vermelho, verde e azul, foi comprado pela empresa de Arkansas College Company LLC em junho por um dólar, a mesma empresa que, segundo a CNN, foi fundada por Connor Gaydos (que no LinkedIn se intitula CEO da Enron) que, com Peter McIndoe, criou o movimento “os pássaros não são reais”, uma teoria conspirativa satírica que alegava, em 2017, que os pássaros não são mais que drones de vigilância do Governo. Houve manifestações e merchadising assentes numa mentira (ou numa sátira, consoante os pontos de vista). Deu um livro.

Agora, vamos ver o que dá. A empresa, que no site até tem uma área de recrutamento e uma loja para adquirir desde t-shirts (a 40 dólares) com o logótipo da Enron até garrafas para água (28 dólares), promete mais informações a 10 de dezembro. O cronómetro vai fazendo a contagem decrescente: “Em seis dias, temos algo de muito especial para vos mostrar”.