O separatista catalão Carles Puigdemont ameaçou, esta segunda-feira, retirar o apoio parlamentar ao primeiro-ministro de Espanha, o socialista Pedro Sánchez, e exigiu-lhe que se submeta a uma moção de confiança, algo que o líder do governo rejeitou fazer.
Puigdemont, antigo presidente do governo regional da Catalunha, lidera o Juntos pela Catalunha (JxCat), um dos sete partidos com que Sánchez negociou há um ano a viabilização do atual governo minoritário espanhol e de quem continua a depender para aprovar leis no parlamento.
“Sánchez continua a demonstrar hoje [esta segunda-feira] que não é de fiar”, disse Puigdemont, numa conferência de imprensa em Bruxelas, onde vive desde 2017 para escapar à justiça espanhola, depois de ter protagonizado naquele ano uma declaração unilateral de independência da Catalunha.
Coincidindo com as negociações em Espanha do Orçamento do Estado para 2025, Puigdemont fez, esta segunda-feira, um balanço do primeiro ano da atual legislatura e afirmou que Sánchez não cumpriu o que acordou com o JxCat.
Puigdemont deu como exemplo o reconhecimento do catalão como língua oficial nas instituições europeias ou a lei de amnistia para independentistas, que já está em vigor, mas que considerou estar incompleta.
O dirigente catalão acusou Sánchez de “falta de vontade política” para “tornar efetivos, de forma completa e ágil” os acordos assinados com o JxCat, pelo que não foi possível criar até agora “a base de confiança que se pretendia e que é necessária para encaminhar o resto da legislatura”.
Puigdemont pediu por isso a Sánchez para se submeter a uma moção de confiança no parlamento espanhol, uma iniciativa que só pode ter o próprio governo.
“As coisas não vão bem e chegou o momento em que ou há um ponto de inflexão ou deixamos ir”, afirmou.
Questionado sobre a possibilidade de o JxCat votar ao lado da direita e da extrema-direita espanhola uma moção de censura ao governo, que faria cair Sánchez, Puigemont afirmou que não é isso que está em causa.
“Estamos a propor uma moção de confiança porque aqueles que receberam a nossa confiança, sentimos que não a honraram”, afirmou.
Num encontro informal, esta segunda-feira, com jornalistas da imprensa estrangeira em Madrid, incluindo a agência Lusa, Pedro Sánchez rejeitou a possibilidade de se submeter a uma moção de confiança, considerando não ter “nem essa intenção nem necessidade”.
Sánchez reiterou que a atual legislatura chegará ao final (2027) e que o governo pretende entregar uma proposta de Orçamento do Estado para 2025 ao parlamento durante o primeiro trimestre do próximo ano.
O primeiro-ministro realçou que apesar de liderar um governo minoritário que foi investido com os votos de oito partidos, foram aprovadas no último ano duas dezenas de leis pelos deputados, incluindo uma reforma fiscal, que exigiu uma negociação difícil.
Espanha prolonga por mais três anos imposto extraordinário sobre a banca
Espanha não tem Orçamento do Estado há dois anos, mas Sánchez mostrou, esta segunda-feira, confiança nas negociações para a aprovação da proposta para 2025.
Sánchez realçou que está em causa a execução de fundos europeus significativos e que é nisto que os socialistas têm insistido perante os outros partidos que integram a atual geringonça parlamentar em Espanha.