Um grupo de estudantes de várias escolas quer entregar ao primeiro-ministro, esta sexta-feira, uma carta na qual exige que o Governo se comprometa com um plano para acabar com a queima de combustíveis fósseis até 2030. A iniciativa será acompanhada por uma concentração que tem como ponto de encontro a porta da residência oficial do chefe de Governo. Os estudantes querem reunir-se com o Governo e admitem continuar a insistir até que este encontro aconteça.
Esta sexta-feira, a partir das 10h estarão à porta do Palacete de São Bento vários estudantes de diferentes ciclos de estudos. Já estão confirmados alunos universitários da Faculdade de Ciências e Tecnologias; da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e da Nova Medical School (da Universidade Nova de Lisboa); e das faculdades de Direito, Letras e Ciências da Universidade de Lisboa. E ainda estudantes da escola secundária Camões e da básica Luís de Camões; da secundária Matias Aires; da Gil Vicente; da Maria Amália e da D. Filipa de Lencastre.
Os estudantes vão estar durante pelo menos 8 horas reunidos à porta da residência oficial de Luís Montenegro. Ao longo do dia, divididos por diferentes horas, estarão presentes pelo menos 50 pessoas, de forma a garantir que há sempre alguém no local, explica ao Observador Catarina Bio, porta-voz da Greve Climática Estudantil.
O objetivo desta iniciativa do movimento Fim ao Fóssil (organizada pela Greve Climática Estudantil de Lisboa), é entregar em mãos ao primeiro-ministro a Carta de Estudantes pelo Fim ao Fóssil até 2030. O documento — que começou a ser divulgado nas redes sociais em outubro — já conta com “cerca de 950 assinaturas”, mas “esperamos ter no mínimo mil até entregarmos” a carta ao primeiro-ministro, diz Catarina Bio.
O plano dos estudantes é simples: ser recebidos pelo primeiro-ministro e, nessa ocasião, entregarem o documento: “A carta será sempre entregue. Se o primeiro-ministro nos receber há dois porta-voz (uma estudante da FCSH e uma da secundária António Arroio) que vão reunir-se e entregar a carta. Em último caso, mesmo que não nos receba, que é algo escandaloso, poderemos sempre deixá-la na caixa de correio da residência.”
Se não conseguirem nem um minuto a sós com o líder do Governo, os estudantes admitem “voltar noutros dias” na expectativa de serem recebidos, disse Catarina Bio. De acordo com o movimento de estudantes, anteriormente o grupo já tinha solicitado um encontro com Luís Montenegro, mas até ao momento não tiveram qualquer resposta.
Não há futuro sem “corte drástico” de emissões de gases com efeito de estufa
Na carta que será entregue esta sexta-feira os estudantes comprometem-se ainda a paralisar as escolas durante duas semanas no próximo semestre caso o Governo não se comprometa com a reivindicação até ao final de abril de 2025. Os jovens recordam as marchas de 2019 em todo o mundo exigindo respostas dos governos à crise climática e a falta dessas respostas, recordam o recorde de emissões de combustíveis fósseis do ano passado, recordam que o verão passado foi o mais quente de sempre, os incêndios e as mortes.
“A menos que cortemos drasticamente as emissões de gases com efeito de estufa, não há possibilidade de termos o futuro para o qual estamos a estudar. Estamos assustadas, estamos com raiva e não vamos desistir do mundo que os governos estão a destruir”, dizem na carta, afirmando que os estudantes que nasceram já em catástrofe climática são a última geração que a pode parar.
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Para Catarina Bio, “os planos para a transição climática existem e as soluções existem, só não há vontade política”, diz ao Observador. Na base da argumentação da estudante estão os diferentes documentos que serão entregues ao Governo (além da carta assinada pelos estudantes): “Não vamos só entregar a carta. Vamos também entregar o relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), da ONU, que faz relatórios para os governos com o porquê e como devem cumprir os prazos para a transição e também a lista de todas as assinaturas e outros relatórios científicos que explicam como podem fazer este plano.”
2024 será o ano mais quente desde que há registos
O observatório europeu Copernicus anunciou esta segunda-feira que é já certo que 2024 será o ano mais quente desde que há registos e o primeiro a ultrapassar o limite de aquecimento fixado em 2015.
Depois do segundo novembro mais quente à superfície do planeta, “é de facto certo” que a temperatura média ao longo do ano “excederá em mais de 1,5 °C o nível pré-industrial”, disse o Serviço para as Alterações Climáticas (C3S) do Copernicus, no seu boletim mensal.
Copernicus diz que é certo que 2024 será ano mais quente desde que há registos
Em novembro, também a Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertou que 2024 se encaminha para ser o ano mais quente desde que há registos, com a temperatura média global junto à superfície ainda mais alta do que em 2023.
As atuais políticas das nações estão a levar o mundo para um aquecimento “catastrófico” de 3,1 °C ao longo do século, ou de 2,6 °C, mesmo que as promessas sejam cumpridas, de acordo com o Programa das Nações para o Meio Ambiente.
Atualizado às 16h31 de dia 10 de dezembro