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Um almirante de braço dado com D. João II e "3 anos de transformação": última Revista da Armada do mandato só fala de Gouveia e Melo

No último mês de mandato de Gouveia e Melo, Revista da Armada é toda dedicada à "transformação" dos últimos anos. Almirante surge em imagem de braço dado com D. João II, mas Marinha diz que é alheio.

Contracapa da Revista da Armada onde Gouveia e Melo surge junto a D. João II
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Contracapa da Revista da Armada onde Gouveia e Melo surge junto a D. João II

Contracapa da Revista da Armada onde Gouveia e Melo surge junto a D. João II

Na última Revista da Armada do ano, e no último mês do mandato como Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional, Gouveia e Melo surge na contracapa, de braço dado com D. João II, e com a certeza de que o rei, conhecido como “o Príncipe Perfeito” e um dos grandes responsáveis pela exploração marítima, “não hesitaria em trocar ideias” com o almirante. Durante toda a revista é feito um balanço dos últimos anos de mandato, onde o almirante é referido muitas vezes e o próprio sublinha vitórias e aponta para o futuro. Há três anos, na despedida do anterior almirante, a contracapa nem sequer era personalizada.

A revista, edição do mês de dezembro, foi publicada já depois da notícia de que o almirante Gouveia tinha comunicado ao Conselho do Almirantado que está indisponível para continuar mais dois anos na chefia do Estado-Maior da Armada — numa altura em que surge em primeiro lugar nas sondagens para as eleições presidenciais de 2026 e quando a decisão foi vista como mais um passo na intenção de se candidatar a Belém.

Agora, a revista tem na capa a indicação que foram “três anos de transformação” — exatamente o tempo de mandato de Gouveia e Melo — e traz no interior uma mensagem do almirante, em jeito de balanço, onde escreve que “o Natal é sinónimo de família e de união, mas é, também, uma oportunidade para refletirmos sobre o caminho que percorremos, as dificuldades que sentimos e as vitórias que alcançámos”.

Além de um agradecimento extensível a todos (“militares, militarizados, civis e polícias marítimos”), deixa a garantia de que “muito foi realizado” e que tal deve ser motivo de orgulho, mas também explica pormenorizadamente os feitos conseguidos em várias dimensões, desde a “melhoria das condições dos militares” na qual destaca o aumento salarial e o suplemento de embarque, à “transição para a Marinha digital” que diz ser uma “evidência” e até a participação em operações em que, sublinha, a Marinha foi “essencial no combate ao tráfico de drogas, ao tráfico de pessoas e à imigração ilegal”.

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“Quando me aproximo da última faina, sinto-me tranquilo e confiante porque vou deixar o navio pronto, focado, útil, significativo e tecnologicamente mais preparado para enfrentar uma nova navegação”, escreve o almirante, crente de que “o futuro da Marinha é extremamente promissor” e “o rumo será mantido firme, com a máquina ‘a vante toda a força’”. Nas despedidas, deixa ainda uma mensagem para que se deixe “esteira” para que “as novas gerações” sigam.

Toda a edição da revista é uma espécie de resumo do mandato do almirante, numa visão generalizada sobre aquilo que foi conquistado no último mandato em várias dimensões, de tal forma que a expressão “três anos”, além de fazer capa, surge 20 vezes ao longo de toda a edição.

No final da revista, na contracapa, de braço dado com D. João II, conhecido como “o Príncipe Perfeito” e um dos grandes responsáveis pela exploração marítima portuguesa do século XV, o almirante Gouveia e Melo surge rodeado de figuras em jeito de novas tecnologias, nomeadamente drones — que representam uma das suas grandes conquistas na Marinha —, com uma bandeira nacional de fundo, um militar que o olha orgulhoso, de braços cruzados, ao lado daquele que parece Viriato, como uma representação do passado, e um rei que aparenta mostrar-lhe o caminho.

Na descrição em que se lê que “o mar é a nossa maior riqueza”, fala-se de “novos tempos, novas tecnologias, inovação e meios” como “a maior oportunidade” de nos distinguirmos. “E o mar, de novo, o nosso destino“, lê-se, numa comparação entre o passado dos descobrimentos e um futuro que pode estar para vir. “Se D. João II visse os drones, a Inteligência Artificial e a tecnologia que hoje temos disponível, certamente não hesitaria em trocar ideias com o Almirante CEMA e AMN sobre os novos desafios e a conquista económica do nosso mar, como o expoente do nosso desenvolvimento”, lê-se. A revista termina com uma frase final e uma nova comparação em que se acredita que passado e futuro voltarão a caminhar juntos: “O glorioso passado e presente, o sonho e a esperança que começou há muito tempo, continua neste Natal.”

Há exatamente três anos, no último mês de mandato do almirante anterior, António Maria Mendes Calado, a Revista da Armada tinha como manchete o centro de medicina subaquática e hiperbárica e dava destaque a temas como o planetário da marinha e o centenário do primeiro Estado-Maior da Armada. Havia também uma mensagem de Natal onde Mendes Calado fazia um balanço, mas do ano que estava a terminar e dos feitos conseguidos no mesmo.

No final da revista, contrariamente à contracapa de Gouveia e Melo com D. João II, havia um navio no oceano, um leme onde se vê um marinheiro não identificado e um Pai Natal, já que a revista também saiu em dezembro. Nem uma referência personalizada ao almirante da altura, que também estava a deixar funções dentro de poucos dias.

Na Marinha há quem fale em revista “propagandista”, ramo diz que almirante é “alheio” à ilustração

A última edição da revista — e do mandato de Gouveia e Melo aos comandos da Armada — também está a suscitar reações internas no ramo. Ao Observador, um oficial da Marina diz que “todo o conteúdo da revista é uma loa ao reinado” do Chefe de Estado-Maior da Armada e que está a ser olhada como um conteúdo “claramente propagandista” dos três anos do almirante, que assumiu funções em dezembro de 2021.

Mais do que isso, o mesmo oficial considera que os temas para a edição de dezembro da publicação foram selecionados de forma a promover apenas uma parte da realidade interna do ramo. “Cá dentro, sabe-se bem que muitas das coisas não são abordadas — há omissões relevantes.”

Ao Correio da Manhã, a Marinha garantiu que o almirante é alheio” à ilustração e que tanto a contracapa, como o cartoon “são uma colaboração recorrente e desinteressada do autor, que expressa, na sua nota descritiva, a ideia subjacente à ilustração”.

Nas redes sociais começaram a surgir reações à publicação. No Bloco de Esquerda, Fabian Figueiredo referiu que a publicação oficial da Marinha Portuguesa “não devia ser reduzida a panfleto de pré-campanha presidencial de Gouveia e Melo”, e o deputado do Livre Paulo Muacho questionou as intenções: “É a revista da Armada ou é já um folheto de pré-campanha”.

*Notícia atualizada às 22h00 com a reação da Marinha

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