Cerca de 200 mil clientes estão sem eletricidade nas províncias de Nampula e Cabo Delgado, norte de Moçambique, devido aos efeitos da passagem do ciclone Chido, divulgou esta tarde a elétrica estatal EDM.
A Eletricidade de Moçambique (EDM) explica, em comunicado, que a situação verifica-se desde a noite de sábado e afeta os distritos de Mecufi, Metuge, Macomia, Quissanga, Ilha do Ibo, Muidumbe, Mueda, Nangade, Palma, Mocímboa da Praia, Chiúre, Ancuabe, Montepuez, Namuno e Meluco, além da cidade capital de província, Pemba, em Cabo Delgado, bem como Eráti e Memba, em Nampula.
“Como consequência, estão sem energia cerca de 200 mil clientes”, diz a EDM.
“Apesar do mau tempo persistir, dificultando os acessos e as comunicações, os técnicos da EDM estão no terreno a realizar trabalhos de intervenção no equipamento danificado ou com anomalia para permitir o restabelecimento do fornecimento às zonas afetadas o mais breve possível”, garante a empresa.
O ciclone tropical intenso Chido, de escala 3 (1 a 5), atingiu a zona costeira do norte de Moçambique na noite de sábado para domingo, segundo o Centro Nacional Operativo de Emergência (CNOE), “enfraqueceu para tempestade tropical severa”, mas “continua a fustigar” aquelas duas províncias do norte, com “chuvas muito fores acima de 250 mm [milímetros]/24 horas, acompanhada de trovoadas e ventos com rajadas muito fortes”.
“Este cenário apresenta risco elevado risco de inundações urbanas e erosão nas cidades de Pemba, Nacala e Lichinga, assim como em áreas baixas e ribeirinhas das bacias dos rios Muaguide, Megaruma, Lúrio”, refere a informação do CNOE, consultada pela Lusa.
Os efeitos do ciclone Chido já se faziam sentir no norte de Moçambique esta manhã, sobretudo nas zonas costeiras, com cortes de eletricidade que limitam as comunicações, reportou a ONG ActionAid.
“A situação na cidade de Nampula permanece tranquila. Foram registadas chuvas e trovoadas, mas, neste momento, a chuva abrandou e, inclusivamente, parou. Ainda não foi possível estabelecer contacto com o distrito de Memba, onde se suspeita que o impacto tenha sido significativo”, lê-se num balanço feito esta manhã por aquela Organização Não-Governamental (ONG).
Segundo a ONG, em Cabo Delgado “já se registam danos, como desabamento de muros e telhados” e “prevê-se que as zonas costeiras estejam já a sofrer os efeitos mais severos do ciclone”.
“Vários bairros da província de Nampula estão sem energia elétrica, o que pode dificultar a recolha de informações. A falta de comunicação poderá estar relacionada com os efeitos do ciclone. Situação que se regista até mesmo na província de Cabo Delgado com destaque para os distritos de Pemba e Mecúfi”, refere ainda.
A companhia aérea LAM já cancelou hoje três voos com destino à região norte de Moçambique.
Equipas de apoio humanitário das Nações Unidas foram mobilizadas para Cabo Delgado, face à aproximação do ciclone.
As autoridades moçambicanas admitiram na quinta-feira que cerca de 2,5 milhões de pessoas poderão ser afetadas pelo ciclone Chido nas províncias de Nampula e Cabo Delgado, mas apontaram ainda as províncias da Zambézia e Tete, no centro, e Niassa, no norte, como algumas que poderão ser também afetadas pelo mau tempo.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril.
O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas dos ciclones Idai e Kenneth, dois dos maiores de sempre a atingir o país.
Já na primeira metade de 2023, as chuvas intensas e a passagem do ciclone Freddy provocaram 306 mortos, afetaram mais de 1,3 milhões de pessoas, destruíram 236 mil casas e 3.200 salas de aula, de acordo com dados oficiais do Governo.