Na primeira vez em que falou publicamente sobre o calendário do processo eleitoral, depois da destituição de Bashar al-Assad, Ahmed al-Sharaa — que lidera o governo de transição na Síria — admitiu que redigir uma nova Constituição pode demorar até três anos e pode ser necessário mais um ano para a realização de eleições no país.

Segundo Ahmed al-Sharaa, a Síria ainda tem de reconstruir o seu sistema legal e proceder a um recenseamento exaustivo da população para que possam realizar-se eleições legítimas, o que irá demorar. O líder do governo de transição antevê, também, que os sírios ainda possam ter de esperar um ano até verem mudanças significativas nos serviços públicos. As declarações foram feitas em entrevista à estação estatal saudita Al Arabiya, transmitida este domingo.

Ahmed al-Sharaa liderou o grupo de rebeldes que destituiu o governo de Bashar al-Assad. Desde então, têm sido levantadas questões sobre como irá governar um país que agrega diversas etnias. Segundo Sharaa, o grupo HTS (Hayat Tahrir al-Sham) — que já chegou a estar alinhado com o Estado Islâmico e Al-Qaeda e é considerado uma organização terrorista pelas Nações Unidas e vários países — será “dissolvido” numa conferência de diálogo nacional. Esse encontro será — na leitura da BBC — um teste à capacidade de a nova liderança unir o país como se propôs fazer depois de 13 anos de guerra civil.

Sobre as críticas que têm sido feitas à composição do governo de transição pela falta de diversidade, Ahmed al-Sharaa defendeu que era necessário garantir coerência nesta fase política crítica. “As nomeações atuais eram essenciais nesta altura e não se destinam a excluir ninguém”, afirmou. Rejeita, porém, a ideia de partilha do poder entre fações por considerar que tal poderia pôr em causa o processo de transição.

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Ainda no dossiê da política interna, confirmou que o governo de transição está em negociações com as Forças Democráticas Sírias, apoiadas pelos EUA e lideradas pelos curdos, para resolver a crise no nordeste da Síria com o objetivo de integrá-las nas forças armadas nacionais. “Não haverá divisão na Síria de forma nenhuma“, afirmou.

Sobre a eleição de Donald Trump, disse esperar que não siga “a política do seu antecessor”. E criticou as Nações Unidas por falta de ação na Síria. “Falharam em garantir a libertação de um único detido ou facilitar o regresso de um único refugiado”, apontou.

Já sobre a expectável saída das forças russas da Síria após anos a apoiar o regime de Bashar al-Assad, Ahmed al-Sharaa indica que o governo de transição não quer uma  saída da Rússia “numa forma que prejudique a sua relação com o país”.