Ruben Amorim não tem tido medo de abordar o impensável. Na segunda-feira, depois da derrota com o Newcastle que foi a quarta consecutiva e a sexta em oito jogos, o treinador do Manchester United voltou a recordar que a possibilidade de despromoção existe, está em cima de mesa e tem de ser combatida. Ou seja, abordou um cenário impensável em Old Trafford.

“É embaraçoso falar em descida de divisão e isso também é culpa minha. Acho que a equipa não está a melhorar, acho que está um pouco perdida. É embaraçoso ser treinador do Manchester United e perder tantos jogos. Eu sou o responsável, não gosto de chegar aqui e dar desculpas, acho que as pessoas estão cansadas disso neste clube. Às vezes falo de descida de divisão por causa disso, acho que o Manchester United precisa de um choque”, explicou o treinador português, já que os red devils estão atualmente no 14.º lugar da Premier League, com 22 pontos, sete acima da zona de despromoção.

Ruben e um modo sobrevivência que não acaba: Manchester United perde com o Newcastle e soma quarta derrota seguida

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A derrota contra o Newcastle, porém, foi mais do que uma derrota. Para além de ter sido a quarta consecutiva e de ter acontecido em Old Trafford, Ruben Amorim protagonizou um momento de alguma capitulação ao substituir Joshua Zirzkee à passagem da meia-hora inicial. A abordagem do treinador português ao jogo foi criticada e a alegada “insistência” no sistema de três centrais também não tem sido bem vista.

“A maioria dos jogos são ganhos ou perdidos no meio-campo. Há poucas equipas que pedem a dois médios para medir forças com três quando não estão preparados para algo do género. Achei bizarro o facto de o Ruben Amorim ter decidido fazê-lo contra uma equipa tão atlética como o Newcastle”, escreveu Danny Murphy, antigo internacional inglês, na coluna de opinião que assina no jornal Daily Mail.

O ex-jogador do Tottenham utilizou mesmo a expressão “suicídio futebolístico” para falar sobre a interpretação de Ruben Amorim do jogo e defendeu que o 3x4x3 “resultou muito bem no Sporting, mas a Premier League é um sítio implacável”. Opiniões e contexto que tornam o mercado de janeiro numa autêntica indefinição para o Manchester United — entre a necessidade de contratar e a impossibilidade de o fazer devido ao fairplay financeiro, um cenário confirmado pelo treinador português na terça-feira.

“Não temos a possibilidade de contratar se não vendermos. Não posso chegar aqui e gastar muito dinheiro”, sublinhou, deixando a certeza de que os ingleses terão de vender ou libertar alguns jogadores para conseguirem reforçar o plantel já em janeiro. Nesse sentido, de acordo com o jornalista italiano Matteo Palmisano, já existe uma lista de potenciais dispensáveis ou excedentários.

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No topo da lista, por motivos óbvios, surge Marcus Rashford. O avançado inglês até regressou à convocatória contra o Newcastle, tendo estado no banco de suplentes, mas já deixou claro que quer rumar a outras paragens e também não será impedido de o fazer por Ruben Amorim. Depois, Joshua Zirkzee. O avançado neerlandês foi um dos protagonistas do mercado de verão, custando 45 milhões de euros ao Manchester United e motivando o interesse de AC Milan e Juventus, mas leva apenas dois golos desde o início da temporada.

Casemiro, de forma natural, também surge na lista de eventuais saídas. O médio brasileiro de 32 anos até tem tido utilização, com três golos em 22 jogos na atual temporada, mas ocupa uma fatia orçamental muito significativa no que toca ao salário e tem sido apontado como um dos principais responsáveis da falta de velocidade, ritmo e agressividade no meio-campo da equipa. Como destino mais do que provável, mais do que um clube, surge a Arábia Saudita.

A situação de Casemiro, na verdade, é muito semelhante à de Christian Eriksen. O médio dinamarquês tem contrato até ao final da temporada e o Manchester United pode olhar para o mercado de janeiro como a última oportunidade de realizar algum encaixe financeiro, até porque Eriksen também tem sido muito responsabilizado pelas exibições mais pobres e desinspiradas da equipa.

Victor Lindelof também é um caso óbvio, com apenas 339 minutos ao longo de nove jogos na atual temporada e contrato até ao final da temporada, e a lista termina com Antony, dono de uma situação mais complexa. O Manchester United pagou 95 milhões de euros pelo jogador brasileiro em 2022 e não pretende permitir uma saída que não ofereça algum tipo de retorno, ainda que saiba que será impossível não perder dinheiro com o negócio. Antony leva apenas 356 minutos em 12 jogos na atual temporada e Matteo Palmisano garante que não faz parte do projeto que está a ser desenhado por Ruben Amorim.