O presidente executivo da Galp apresentou a demissão depois de ser conhecida uma investigação da comissão de ética a uma relação com uma diretora da empresa.
Filipe Silva alega razões familiares para esta decisão que foi aceite pelo conselho de administração liderado por Paula Amorim. A renúncia ao cargo tem efeitos imediatos e a empresa irá anunciar uma nova liderança executiva nos próximos dias, refere um comunicado enviado à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários.
Paula Amorim assegura aos acionistas que a comissão executiva da Galp “continua nas mãos de uma equipa altamente qualificada que vai assegurar a execução e implementação da estratégia da companhia”. A família de Américo Amorim é a maior acionista da Galp.
Filipe Silva demite-se antes de ser conhecido o resultado da investigação da comissão de ética da Galp perante uma denúncia anónima que reportava a existência de uma relação entre o presidente executivo da empresa e uma diretora que estaria na sua dependência hierárquica. A investigação, sabe o Observador, vai continuar, mas ainda pode demorar algum tempo. Até porque, a saída do presidente executivo retira pressão à necessidade de rapidez na obtenção de resultados sobre a conduta do gestor e até pode levar a que não sejam divulgadas as conclusões.
Comissão de ética da Galp recebe denúncia anónima sobre alegado conflito de interesses de CEO
De acordo com declarações do gestor ao jornal Eco que deu a notícia da investigação interna, esta relação não foi comunicada aos órgãos competentes da Galp, incorrendo num potencial conflito de interesses que pode contrariar o disposto no código de conduta da empresa.
Filipe Silva foi já ouvido pela comissão de ética a quem compete decidir se houve violação das regras de conduta da empresa e propor uma solução para o problema. O código de conduta prevê em casos limite a perda de mandato ou a rescisão de vínculo laboral.
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Depois de proposta uma solução pela comissão de ética que é independente dos órgãos diretivos da Galp caberá ao conselho fiscal da empresa implementar eventuais medidas corretivas. No entanto, a saída do presidente executivo evitará a necessidade de adotar medidas que ponham fim a um eventual conflito de interesses, uma vez que o mesmo deixou de existir. De acordo com informação recolhida pelo Observador, a diretora da Galp envolvida nesta averiguação continua em funções.
A demissão do cargo de presidente executivo acontece dois anos antes de Filipe Silva terminar o mandato. E é mais uma saída antecipada de um presidente executivo da empresa, a terceira em pouco mais de quatro anos.
Carlos Gomes da Silva foi afastado do cargo ante de completar o mandato no final de 2020. Filipe Silva substituiu Andy Brown, o gestor britânico que trabalhou durante anos na Shell e que esteve à frente da Galp durante dois anos, tendo anunciado a saída no final de 2022. Silva foi nomeado presidente executivo em janeiro de 2023, completando o mandato anterior e foi reconduzido num novo mandato em 2024 que só terminaria em 2026. Antes de ser presidente executivo, Filipe Silva foi administrador financeiro da Galp durante dez anos. Antes de entrar para os quadros da petrolífera passou pelo Deutsche Bank e pelo Finantia.
No mesmo comunicado, a presidente não executiva da Galp destaca o contributo de Filipe Silva para a companhia nos 12 anos em que aí trabalhou, “um período durante o qual a sua dedicação foi importante para o crescimento da Galp”.