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O general Joseph Aoun foi esta quinta-feira eleito o novo Presidente do Líbano, pondo fim a um vácuo de poder que durou mais de dois anos, desde o fim do mandato do último chefe de Estado.
Joseph Aoun foi eleito na segunda volta com 99 votos dos 128 deputados. Na primeira ronda o general conseguiu apenas 71 votos e o resto foram em branco ou anulados, uma mensagem de força do movimento xiita Hezbollah e aliados.
Entre as duas rondas, reuniu-se com o grupo xiita e aliados, o que pode sugerir que algum acordo foi feito para apaziguar o Hezbollah e levar finalmente à eleição.
O militar é chefe das forças armadas libanesas desde 2017. Durante o cargo, liderou a luta contra o Estado Islâmico na fronteira com a Síria, impedindo a entrada do grupo terrorista no Líbano, o que lhe valeu uma reputação respeitada por todo o país.
É também conhecido por fazer frente ao estabelecimento político, por exemplo, na luta pelo aumento salarial e qualidade de vida para os soldados que foram afetados fortemente pela crise económica.
Durante o último ano e meio de guerra, o general também foi elogiado pela gestão das tropas no sul do Líbano, atacado violentamente por Israel, e por ter ajudado a facilitar o acordo de cessar-fogo com Israel.
O general é visto como uma alternativa apartidária o que permitiu o desbloqueio do impasse de dois anos em que os dois lados da bancada cristã se recusaram a fazer cedências quanto aos seus candidatos (no sistema sectário libanês o presidente é sempre cristão).
Com a posição enfraquecida do Hezbollah devido à guerra, os partidos cristãos aliados ao grupo xiita viram-se forçados a fazer cedências, o que foi vital para a eleição de Aoun.
Aoun tem o apoio de potências ocidentais, como os Estados Unidos, França e ainda a Arábia Saudita. Nas semanas anteriores à eleição, diplomatas destes países reuniram em privado com o general e ainda com o presidente da Assembleia, Nabih Berri, líder do partido xiita Movimento Amal e aliado do Hezbollah.
Na sessão do parlamento libanês, marcaram presença figuras diplomáticas de peso, como o enviado francês Jean-Yves Le Drian, o embaixador saudita Walid Boukhari,e o enviado dos Estados Unidos, Amos Hochstein, que facilitou o acordo de cessar-fogo com Israel.
Apoiado pelo mundo ocidental, Aoun poderá recuperar relações internacionais há muito danificadas pela influência Iraniana, mas acima de tudo, receber o apoio financeiro internacional necessário para a reconstrução pós-guerra.
“Estamos a testemunhar o retorno da era dos cônsules e a eleição de um chefe de Estado desde o exterior”, criticou Gebran Bassil, líder do Movimento Patriótico Livre (partido cristão aliado ao Hezbollah), durante a sessão parlamentar.
Joseph Aoun enfrenta um dos períodos mais difíceis da história do Líbano. No sul terá a difícil tarefa de lidar com a invasão corrente por parte de Israel de várias partes do território.
Ao mesmo tempo, terá que liderar o exército libanês – cansado, mal pago e mal armado – para desarmar e retirar o Hezbollah da área, condições para a retirada dos israelitas.
Na economia, Aoun enfrenta oito mil milhões de euros de danos derivados da guerra, segundo o Banco Mundial.
Antes do início do conflito, o Líbano já passava uma das piores crises dos tempos modernos, com a queda dramática da moeda nacional, e a prisão do antigo governador do Banco Central Libanês acusado de esvaziar e desviar milhões de dólares. Em novembro o número de pessoas a viver em situação de pobreza ultrapassou os 70%.
O Fundo Monetário Internacional ofereceu ao Líbano um empréstimo de mais de três mil milhões de dólares, contingente numa lista de reformas das quais, ao fim de vários anos, poucas foram implementadas, devido ao que o FMI chamou falta de vontade política por parte das autoridades libanesas.
Paula Yacoubian, parlamentar dum grupo reformista, afirmou que “a oportunidade de hoje traz esperança aos libaneses que alguém com alguma composição possa ter a hipótese de fazer diferente”.
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Será um teste para Aoun levar o governo – descrito como um “esquema em pirâmide” – à implementação destas reformas fundamentais. Para muitos libaneses é quase nula a esperança de que Joseph Aoun seja diferente ou até capaz de fazer frente a esta elite política corrupta.
No entanto, a eleição de Joseph Aoun para a presidência do Líbano representa uma mudança simbólica relevante: um presidente que não está diretamente alinhado com o Hezbollah pela primeira vez em décadas.
Alguns consideram perigosa esta aproximação dos Estados Unidos, o maior aliado do mesmo Israel que invadiu o Líbano.
Para outros, esta mudança é vista como a única alternativa para que o Líbano se consiga reerguer novamente. Remendar esta divisão interna será outro dos desafios de Aoun.