O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, demarcou-se da manifestação prevista para este sábado em protesto contra a operação da PSP na Rua do Benformoso, na Mouraria, em Lisboa, considerando que é apadrinhada por “radicais populistas” e “wokistas de esquerda”.

Numa mensagem publicada na sua página no Facebook, o autarca eleito pelo PS anunciou que não vai participar na iniciativa e defendeu que está a ocorrer uma instrumentalização da comunidade imigrante, temendo que a manifestação possa derivar num “ataque à polícia”.

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“A manifestação convocada para sábado próximo, a pretexto do ocorrido no Benformoso, pode até ter como promotores pessoas que estimo e convictas da sua importância, porém está também apadrinhada por muitos radicais populistas, “wokistas de esquerda”, que instrumentalizando a comunidade dos imigrantes visados na operação policial – para quem até aqui pouco têm manifestado preocupação ou solidariedade social – procurarão transformar a manifestação num ataque à polícia, em particular contra a PSP. E com isso não posso concordar”, afirmou.

Segundo Miguel Coelho, esse cenário é “perigoso e só favorecerá a extrema-direita”, pelo que manifestou a sua discordância em relação ao timing do protesto e ao “objetivo (pouco) ‘escondido’ de ataque à polícia”.

Apesar de reiterar críticas à intervenção policial “inaceitável” realizada no passado dia 19 de dezembro, da qual surgiram imagens de dezenas de pessoas encostadas à parede, e à primeira reação do primeiro-ministro, Luís Montenegro, à operação da PSP, Miguel Coelho também admite que falta policiamento nas ruas.

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“Temos na Mouraria zonas de insegurança, quase sempre relacionadas com a venda/consumo de droga e de álcool na rua, sobretudo durante a noite. Por isso pedi, e volto a pedir, mais policiamento, sobretudo de proximidade – patrulhas apeadas, postos de atendimento, visibilidade – de dia, mas sobretudo à noite, que é quando os comportamentos indesejáveis mais ocorrem”, frisou.

Como soluções, o presidente da Junta de freguesia de Santa Maria Maior expressou a disponibilidade para ceder espaços da Junta para instalar “mini-esquadras” e postos de atendimento, além de pedir mais iluminação, videovigilância, guardas-noturnos, proibição de venda de álcool para a rua após as 21h00 e diminuição do horário dos bares

Miguel Coelho visou ainda o presidente da Câmara Municipal de Lisboa nas críticas, ao notar que Carlos Moedas tem “muitas responsabilidades” na situação e que “fala, fala, fala… mas não faz nada”.

“A criminalidade é transversal a todas as raças, etnias, credos e grupos sociais. Não é um problema de imigração. Precisamos de uma PSP prestigiada, defensora da Constituição, próxima dos cidadãos, com autoridade e mais protegida legalmente dos insultos, ameaças e agressões que diariamente são feitas aos seus agentes. E mais bem pagos”, concluiu.

A manifestação está agendada para sábado, a partir das 15h00, e começa na Alameda, descendo a Avenida Almirante Reis até ao Martim Moniz. Além da queixa e de um outro movimento de cidadãos, que já juntaram mais de mil assinaturas, existe ainda um outro apelo público à participação na iniciativa e que conta, por exemplo, entre os subscritores com o ex-ministro das Finanças e antigo presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, ou o antigo presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues.

Já esta semana foi entregue uma queixa à Provedora de Justiça sobre a operação policial, na qual os promotores pedem a Maria Lúcia Amaral para averiguar e apurar a legitimidade e proporcionalidade da atuação policial na Rua do Benformoso.

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A operação feita pela PSP no Martim Moniz e na Mouraria a 19 de dezembro resultou em duas detenções: uma em flagrante delito por posse de arma proibida e posse de produto estupefaciente; outra através de mandado de detenção emitido pela Autoridade Judiciária —  o homem é suspeito da concretização de pelo menos 8 crimes de roubo, segundo a polícia.

Foram ainda apreendidos 435 euros, que se suspeita ser dinheiro proveniente de atividades ilícitas, sete bastões (de madeira e de ferro), 17 envelopes com fotos tipo passe, 3.435 euros em numerário, um passaporte e diversos documentos por suspeita a auxílio a imigração ilegal, 581,37 gramas de haxixe, uma faca com mais 10 centímetros de lâmina e um telemóvel que constava como furtado.