Siga aqui o nosso artigo em direto sobre Moçambique
Venâncio Mondlane já chegou a Maputo e sai do aeroporto com uma coroa de flores e uma bíblia na mão. Em declarações aos jornalistas diz que voltou para “acabar com a narrativa de que diálogo não tinha participação do Venâncio porque ele estava fora do país” porque está ausente: “Estou aqui presente, em carne e osso, para dizer que se querem negociar e dialogar comigo, estou presente.”
À saída do aeroporto, Mondlane dia ainda que o seu regresso ao país acontece também porque o regime criou “uma estratégia de genocídio silencioso” e que as pessoas mortas estão a ser “atiradas para valas comuns”. “Não posso estar ao fresco, bem protegido, quando o próprio povo que está no suporte da minha candidatura está a ser massacrado”. Diz que vai visitar as valas comuns e “monitorizar o processo”.
Aos jornalistas diz ainda estar “disponível” para se submeter à justiça e provar quem são os “culpados pelos crimes hediondos que estão a ser cometidos”. Compromete-se a “fazer a luta”, agora a partir do país: “Quero fazer a luta dentro deste país e vou até às últimas consequências.” Nesta altura, na Presidência da República, estão a decorrer reuniões com os partidos e Venâncio [que não foi convocado] diz que isso “é bom”.
Questionado sobre se está disposto a assumir resultados eleitorais, Venâncio Mondlane responde que “a única função” que está “disponivel para assumir é defender o povo”: “Não fiz esta luta toda para ser chefe e ter benefícios financeiros ou materiais. Mesmo que esse diálogo leve a que pessoas do nosso grupo integrem o governo, nunca serei eu a fazê-lo. Não vou fazer parte de nenhum executivo que provenha destes resultados manipulados e burlescos.”
Não houve “nenhum acordo político” para o seu regresso a Maputo, garante o candidato presidencial que reclama vitória nas eleições de outubro. Mondlane diz que foi uma “decisão unilateral” e reafirma que não saiu de Moçambique por “ter medo”: “Vim para fazer história, mas não cargos, nem funções nem ter regalias.”
O avião que transportava Venâncio Mondlane aterrou no aeroporto de Maputo já depois das 8h30 mas chegavam relatos e vídeos de gás lacrimogéneo lançado pela polícia nas imediações. O candidato presidencial moçambicano que tem estado em parte incerta há mais de dois meses tinha à sua espera muitos manifestantes a gritar “Venâncio”.
Imagens foram mostrando grupos de pessoas a dirigirem-se ao aeroporto no meio da chuva mas uma mensagem do assessor do candidato presidencial dizia que a concentração e passeata não se iniciaria aí mas na Praça dos Heróis, onde está muita gente e onde há relatos de gás lacrimogéneo também.
TV Sucesso, que esteve a transmitir em direto, alertava para a presença de atiradores nos telhados junto ao aeroporto fortemente armado e sobrevoado por um helicóptero.
Mas o pior viria a acontecer longe do aeroporto. Depois de simular uma tomada de posse, fazendo um juramento sobre a Bíblia, Mondlane, protegido pela sua segurança privada entrou num carro branco e foi percorrer as ruas de Maputo. Não para a Praça dos Heróis, como agendado, mas para o mercado da Estrela Vermelha. E foi aí que um manifestante foi baleado na cabeça, durante o cortejo pacífico, acabando por morrer.
Duas outras mortes registaram-se também em Mavala, levando a população a insurgir-se. Alguns bloquearam estradas com contentores do lixo ou camiões e outros gritaram para as câmaras da TV Sucesso: “Estão a matar-nos porque não votámos na Frelimo?”
Vídeo. Polícia dispara contra a população no regresso de Venâncio Mondlane a Moçambique