É certo que por trás de um grande vinho há uma grande adega e que aos enólogos recai o poder e a responsabilidade da escolha das uvas e restante processo de produção. Mas visto da prateleira de uma loja, há um pergunta que se impõe: o que faz um bom vinho? Preçário à parte, na lista dos elogios ficam os aromas e os sabores, mas também o corpo e a longevidade. Para facilitar a escolha de quem quer verdadeiramente surpreender à mesa, consultámos um jornalista especializado, um informático transformado em amante de vinhos e o escanção do costume. Prepare o bloco de notas ou, então, afine a memória visual — é que há dez rótulos a decorar e a acrescentar à lista das coisas a fazer antes de morrer.
João Paulo Martins
Jornalista de vinhos e autor do guia Vinhos de Portugal.
Nome do vinho: 1931 Niepoort Garrafeira Porto
Região: Douro
Produtor: Niepoort Vinhos
Preço: 1.190 euros
Castas: misturadas
Porque é que é bom: “Os Garrafeira são vinhos originais que mais nenhuma empresa de vinho do Porto produz”, começa por dizer João Paulo Martins, garantindo que os néctares em questão envelhecem em casco uma média de sete anos para, depois, serem colocados em garrafões de vidro — datados do século XVIII e com uma capacidade variável entre os 10 e os 12 litros –, onde permanecem várias décadas. “São, assim, o melhor compromisso possível entre um vinho com boa cor, a mostrar ainda juventude, e a evolução que só o tempo permite.” Desde então, a casa Niepoort tem feito outras edições mas, na opinião do jornalista, o de 1931 “permanece no pódio dos vinhos míticos”.
Nome do vinho: 2004 Barca Velha
Região: Douro
Produtor: Sogrape Vinhos
Preço: 399 euros
Castas: Touriga Franca e Touriga Nacional, entre outras
Porque é que é bom: “O Barca Velha é o mais mítico vinho de consumo português”, garante o especialista. Nascido na já longínqua colheita de 1952, começou a ser produzido uma média de três vezes por década, sobretudo depois dos anos 1980. Argumenta o jornalista que, infelizmente, quem o compra nem sempre o bebe logo, sendo que o “vinho é usualmente guardado demasiado tempo em cave”. Diz ainda João Paulo Martins que, se consumido agora, “encontramos um tinto de grande riqueza e polimento, puro luxo vínico”.
Nome do vinho: 1984 Dão Porta dos Cavaleiros Colheita Selecionada (rótulo cortiça)
Região: Dão
Produtor: Caves de São João
Preço: 22,60 euros
Castas: Malvasia Fina, Encruzado e Bica, entre outras
Porque é que é bom: Nas palavras do jornalista, este é o “verdadeiro hino aos vinhos brancos velhos”. Tido como “um vinho que resistiu impecavelmente ao tempo por força da enorme acidez que apresenta” e capaz de demonstrar duas coisas: que o país não é exclusivamente de tintos e que os brancos, além da excelente qualidade, resistem muito bem à cave. Fica ainda a ressalva: “Muitos destes vinhos tinham origem em adegas cooperativas.”
Nome do vinho: 2004 Espumante Murganheira Cuvée Reserva Especial
Região: Távora-Varosa
Produtor: Caves da Murganheira
Preço: a partir de 13,90 euros
Castas: Tinta Roriz
Porque é que é bom: “Este espumante branco feito de uvas tintas esteve 10 anos em cave fria e húmida, com o vinho a estagiar sobre as borras. Isso faz toda a diferença já que é esse tempo (longo) que lhe transmite toda a finura e delicadeza que apresenta. Não é um espumante para se beber apressadamente ou distraído — precisa de bons copos, temperatura adequada e calma, muita calma ambiente para que se possa perceber a arte que lhe está subjacente.”
André Ribeirinho
Um dos fundadores da rede social de vinhos Adegga e responsável pelos Adegga WineMarkets.
Nome: 1963 Quinta do Noval Nacional
Região: Douro
Produtor: Quinta do Noval
Preço: cerca de 5.000 euros
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinto Cão, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Tinta Amarela e Sousão
Porque é que é bom: O elogio é rasgado quando André Ribeirinho escreve que o vinho representa a “expressão máxima do prazer no mundo do vinho”, referindo-se a uma das melhores provas que alguma vez fez na Quinta do Noval. O ano de 1963, acrescenta, já foi considerado um dos melhores de sempre para o Vinho do Porto, sendo que este néctar em particular é proveniente de uma vinha que sobreviveu à filoxera, a praga que, vinda dos Estados Unidos, dizimou quase todas as vinhas da Europa. É, pois, “um vinho mágico produzido em quantidades extremamente limitadas e só alguns anos em cada década”.
Nome: 1969 Colares Viúva Gomes Tinto
Região: Colares
Produtor: Adega Viúva Gomes
Preço: 45 euros
Castas: Ramisco
Porque é que é bom: Beber este vinho é beber um pedaço de história por menos de 50 euros, defende Ribeirinho, não só porque as garrafas desta região duram “muitos anos”, mas também porque Colares — a segunda região demarcada mais antiga do país — “tem uma dimensão muito pequena e difícil de trabalhar”. Mais, a casta Ramisco existe apenas em Colares e cresce em solos de areia (raros no mundo).
Nome do vinho: Soalheiro Alvarinho 2001
Região: Vinhos Verdes
Produtor: Quinta do Soalheiro
Preço: 10 euros
Castas: Alvarinho
Porque é que é bom: Em relação à escolha mais em conta desta lista, André Ribeirinho diz simplesmente: “É um grande exemplo de que os vinhos brancos envelhecem bem” e “é um dos mais reconhecidos vinhos de uma das mais populares regiões de Portugal”.
Sérgio Antunes
Escanção, consultor de vinhos e formador.
Nome do vinho: Mãe Manuela 40 anos Malvasia
Região: Madeira
Produtor: Vinhos Barbeito
Preço: 290 euros
Castas: Malvasia
Porque é que é bom: O vinho foi feito por um enólogo em homenagem à sua mãe, além de ser proveniente de um lote especial”, diz o escanção. “Os vinhos da Madeira estão cheios de história — o tratado de independência dos EUA foi celebrado com este néctar — são raros, elegantes e com uma grande durabilidade.”
Nome do vinho: Trilogia Moscatel de Setúbal
Região: Península de Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Preço: 130 euros
Castas: Moscatel de Setúbal
Porque é que é bom: O Moscatel de Setúbal, tido como um dos patrimónios mais preciosos da família Soares Franco, foi construído e enriquecido desde 1834. De modo a celebrar a viragem do século e o novo milénio, a José Maria da Fonseca criou uma edição rara que resulta da combinação de três grandes colheitas do século XX: 1900, 1934 e 1965. E é precisamente a combinação de “três dos melhores anos dos vinhos Moscatel” que lhe confere “personalidade, persistência e raridade”.
Nome do vinho: Chateau Mouton Rothschild 1986
Região: Médoc, Bordeaux, França
Produtor: Château Mouton Rothschild
Preço: a partir de 700 euros
Castas: Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Petit Verdot
Porque é que é bom: “Já passaram três ou quatro anos mas ainda me recordo como se fosse hoje. É um vinho com aromas complexos e evolutivos — com notas de tabaco, amoras silvestres e pinho, entre outros –, e com um sabor delicado e profundo, com grande intensidade na boca. Um vinho muito complexo, mas extremamente elegante, que me marcou por ser um dos grandes vinhos reconhecidos de França e por ser o meu primeiro.”