“Era uma vez um reino encantado, não muito longe daqui, onde todos os contos de encantar se tornam realidade.” O início desta apelativa história pode ler-se no site da Disneyland Paris, que promete diversão e alegria a todos quantos queiram visitar o mundo de algumas das mais famosas personagens do cinema, banda desenhada e televisão do mundo. O conto financeiro da Euro Disney não é, contudo, tão bonito. O próximo capítulo é um plano de recapitalização de mil milhões de euros, o fim da história ainda não é conhecido mas poderá passar pela absorção do parque de diversões europeu pela sua casa-mãe, a Walt Disney.

Problemas de dinheiro à parte, o reino Disney em Paris continua a ser um sítio encantado? Os dois filhos de Sandra Costa, ambos com 5 anos, foram conhecer esse mundo este ano pela primeira vez. “Escusado será dizer que adoraram a experiência, perguntam com frequência quando lá vamos voltar”, refere a mãe, para quem também foi a primeira vez no parque de diversões.

“Gostei imenso, já não tenho 5 anos mas o mundo da fantasia continua a encantar-me”, admite ao Observador.

Já João Miguel Tavares, pai de quatro crianças, tem mais dúvidas sobre o encanto do local. Já por duas ocasiões visitou o parque de diversões parisiense com os filhos. “O lado do marketing faz-se sentir ainda mais” hoje do que na primeira ida, considera. “Não se consegue ir a lado nenhum sem se esbarrar num Mickey” que esteja a fazer promoção a qualquer produto. Por já ter estado na Disneyland Paris uma vez, a segunda viagem já não teve a mesma magia. E para os filhos? “Eles gostaram mais da primeira vez”, responde João Miguel Tavares, logo contradito por uma das filhas, para quem ambas as visitas foram igualmente boas.

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“Aquilo está sempre cheio que nem um ovo, é um mundo lá dentro”, diz Tavares, pelo que, para si, “é difícil conceber” os problemas financeiros do parque. Que, aliás, estão longe de ser uma novidade. Desde a sua criação, em 1992, que as dificuldades foram sempre uma constante na gestão da Euro Disney, mas, só em 2014, as receitas terão já caído cerca de 3%, aumentando os prejuízos de 78 para 120 milhões de euros. “Eu sou uma grande fã do parque, apesar de não ser grande fã da Disney”, explica, por seu turno, Raquel Botelho, mãe de três crianças, um rapaz com seis anos e duas raparigas com quatro. “Já lá tinha estado três vezes em diferentes alturas da minha vida mas nunca com filhos”, diz Raquel.

“No final perguntei ao mais velho o que é que ele pensava que a Euro Disney era antes de lá ter ido e ele respondeu: ‘achei que era um parque com uns baloiços e escorregas mas isto é diferente de tudo e eu gostava de viver aqui'”.

Quem também adora o parque é Lina Santos, mãe de três meninas, que foi à Disneyland em junho do ano passado com duas delas. “A dúvida está em saber quem é que gostou mais: as crianças ou os pais”, brinca Lina, para quem “vale mesmo muito a pena levar as crianças” a conhecer o parque de diversões. “É fascinante! E é fascinante o todo: estar com os pais 24h [por dia], só a divertirmo-nos, e a comer todas as coisas que eles não deixam comer no resto do tempo, como hambúrgueres e hot dogs.” Que, lamenta, são as únicas coisas que se podem comer na Euro Disney: “A comida é realmente má e pouco variada”.

Um mundo de magia… e de contas para pagar

Se é aparentemente impossível encontrar alguém que não goste da Disneyland Paris, porque é que o parque está em situação económica complicada? Na verdade, é já o quarto resgate que é feito nos últimos 22 anos, sendo que a filial europeia é a única dos vários parques da Disney que dá prejuízo e que, aliás, nunca conseguiu atingir os objetivos de número de visitantes estabelecidos.

“O mundo dos parques de diversão deve ter muito que se lhe diga, as contas não devem ser muito fáceis de fazer, aquilo tem despesas gigantescas”, considera João Miguel Tavares, que até admite que, para adultos e para crianças que não tenham o fascínio pelo mundo Disney, haja outros parques – como o Portaventura, perto de Barcelona, em Espanha – mais atrativos.

Lina Santos partilha das críticas de João Miguel Tavares. Apesar de os preços de entrada serem “justos”, o parque, acusa, é “um sorvedouro de dinheiro”. Há “lojas de merchandising em cada esquina, [a] comida [é] caríssima, cobrarem para estarmos realmente com as personagens…”. Ignorados estes defeitos, a magia do rato Mickey e dos seus companheiros parece permanecer inalterada. Todas as pessoas com quem o Observador falou manifestam a intenção de voltar com os seus filhos. “A reação deles é incomparável a qualquer outra que já tenham tido, porque é de facto um mundo à parte”, resume Raquel Botelho.