Uma lista com os nomes de 17 membros do comité executivo do PSOE foi apresentada na tarde desta quarta-feira na sede nacional dos socialistas espanhóis, informando que todos se demitiam daquele órgão, em protesto contra o secretário-geral, Pedro Sánchez. Neste momento, está a ser discutido se esta demissão em bloco pode ou não provocar uma demissão do líder do PSOE do seu cargo, consoante os estatutos do partido.

Este é o mais recente episódio da crise interna dentro dos socialistas espanhóis e que cada vez mais ameaça a liderança de Pedro Sánchez, responsável pelos dois piores resultados eleitorais de sempre do PSOE (com 90 deputados em dezembro de 2015 e 85 em junho deste ano) e também pela decisão de não permitir um Governo ao Partido Popular de Mariano Rajoy, vencedor das duas idas às urnas sem maioria absoluta.

“Metade mais um” é o que cada um quiser

De acordo com os estatutos do PSOE, ratificados em setembro de 2015, no caso de haver uma demissão da “metade e mais um” dos 38 membros do comité executivo, a cúpula do partido “deverá convocar um congresso extraordinário para a eleição de uma nova Comissão Executiva Federal”. Na prática, avança a imprensa espanhola, o que aconteceria seria a perda de poderes da direção de Pedro Sánchez (que se preparava para convocar eleições primárias para 23 de outubro), obrigando à convocação de um congresso extraordinário. Até ao congresso, entraria em funções uma direção de gestão.

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Apesar de ter começado com 38 membros, atualmente, o comité executivo conta com 35 pessoas — outros dois elementos já se tinham demitido previamente, por razões distintas das que foram hoje apresentadas pelo bloco de 17, e outro faleceu.

Os estatutos do PSOE não são claros quanto a especificar se a demissão de “metade mais um” dos membros do comité executivo diz respeito ao número atual daqueles que integram aquele órgão (35) ou se diz, antes, respeito ao número original de membros (38).

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Desde que Pedro Sánchez lidera o PSOE, os socialistas espanhóis tiveram os dois piores resultados eleitorais da sua história

Neste momento, cada parte usa os números a seu favor, sendo ainda incerto qual será o desfecho da tomada de posição desta tarde. Os partidários de Sánchez — cada vez menos — argumentam que os 17 que se demitem hoje estão aquém de ser a “metade mais um” dos iniciais 38 membros do comité executivo e que as outras duas demissões nada tiveram a ver com as razões hoje apresentadas. Por outro lado, aqueles que se opõem à atual direção — cada vez mais, sobretudo após novo desaire eleitoral, nas regionais da Galiza e do País Basco realizadas a 25 de setembro — preferem fazer uma leitura mais literal dos estatutos, apontando que com as demissões de hoje, o órgão está reduzido a menos da sua metade.

Número dois de Sánchez fala em “ato muito grave”

Em reação, o número dois do partido, o Secretário de Organização, Cesar Luena, disse esta tarde: “O líder do PSOE continua a ser o seu secretário-geral, que é Pedro Sánchez”. “Alguns e algumas instigaram estas demissões, alguns e algumas, para evitar um congresso e que os militantes falem, com a intenção de haja uma [direção] de gestão, sem explicar apoios ou alianças fora do partido”, referiu, caracterizando a ação desta tare como um “ato muito grave” com o objetivo de “deturpar a legitimidade dos órgãos do PSOE”.

Já nesta quarta-feira, mas antes da demissão em bloco de 17 membros do comité executivo, Pedro Sánchez disse ao El Diario que os eventuais demissionários estariam a “substituir o voto dos militantes”, em referência às eleições primárias que poderão ainda ser convocadas neste sábado para 23 de outubro.

Pedro Sánchez tinha uma entrevista agendada para a noite de quarta-feira na Telecinco, que entretanto desmarcou.