O Presidente dos Estados Unidos admitiu esta quinta-feira a possibilidade de um conflito de grandes proporções com a Coreia do Norte, defendeu o “esforço” que está a ser feito pela China para ajudar a controlar a situação e deixou um recado aos seus aliados da Coreia do Sul: o sistema anti míssil é para pagar.

Se houve tema que esteve na campanha presidencial foi o das relações com a China. Donald Trump, então candidato, prometia uma posição dura, a mudança das regras do comércio entre as duas maiores potências e até que iria, logo no primeiro dia, dar ordens ao Tesouro para qualificar o regime chinês como um país manipulador da sua divisa.

Donald Trump chegou mesmo a criar um incidente diplomático quando quebrou um entendimento de quatro décadas e atendeu o telefonema de parabéns da Presidente de Taiwan, logo após ganhar as eleições. Mas os tempos mudam e, em entrevista à Reuters, Donald Trump mostra o quanto se tem adaptado.

Sobre a Coreia do Norte, país com o qual os EUA têm uma relação especialmente tensa, Donald Trump admite que a situação possa ter de ser resolvida pela força, apesar de preferir uma solução diplomática.

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“Existe a hipóteses de podermos acabar por ter um grande, grande conflito com a Coreia do Norte. Completamente”, disse o responsável numa entrevista à agência noticiosa. Quanto a hipótese diplomática, Trump não parece muito esperançado: “Adorava poder resolver as coisas pela via diplomática mas é muito difícil”.

Donald Trump deixou ainda uma nota curiosa sobre o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, lembrando que este tinha apenas 27 anos quando o seu pai, Kim Jong-il, morreu, acabando por herdar o regime. “não é fácil, especialmente naquela idade”.

“Não lhe estou a dar crédito ou a não dar crédito. Só estou a dizer que é muito difícil. Se é racional ou não, não tenho opinião. Espero que seja racional”, disse.

Neste impasse com a Coreia do Norte, Donald Trump parece contar com o Presidente da China. “Acredito que ele está a tentar profundamente. Certamente que não quer instabilidade e morte. Ele não quer ver isso acontecer. É um homem bom. É um homem muito bom e eu pude conhecê-lo muito bem”, disse o Presidente dos EUA, a propósito do encontro entre os dois líderes recentemente em Mar-a-Lago, a estância de luxo de Trump, Ainda assim, Donald Trump admite que Xi Jinping pode não ter capacidade para controlar os ímpetos de Kim Jong-un.

A boa relação com o Presidente da China, admite o próprio Trump, estará a deixar numa situação delicada alguns dos aliados dos EUA na região. Taiwan é um desses casos. Depois de ter aceitado a chamada da Presidente de Taiwan e colocado em causa a aceitação da política de que existe apenas uma China (e Taiwan é uma região chinesa), Trump diz agora que consultaria Xi Jinping antes de falar com a Presidente de Taiwan, e que não quer fazer nada para deixar o Presidente chinês numa situação delicada.

Já aos seus aliados da Coreia do Sul, Donald Trump tem uma mensagem mais dura, também em linha com os interesses da China. Trump diz que a Coreia do Sul tem de pagar o novo sistema anti míssil, o THAAD, que tem como objetivo proteger a Coreia do Sul de um potencial ataque norte-coreano.

Trump diz que avisou a Coreia do Sul, um dos seus principais aliados na região a par do Japão, que “seria apropriado se pagassem”, já que se trata de um sistema que custa mais mil milhões de dólares, deixando ainda críticas ao acordo comercial que os EUA têm com a Coreia do Sul, e a sua intenção de o renegociar ou simplesmente eliminar.

No entanto, a Coreia do Sul já disse que as palavras do Presidente dos EUA não fazem sentido no que diz respeito ao THAAD, até porque se trata de um sistema que é completamente operado pelas forças norte-americanas e que o acordo é que a Coreia do Sul ceda os terrenos para a instalação do sistema.

A China tem mostrado a sua forte oposição à instalação do sistema, por considerar que coloca em causa o efeito dissuasor do seu arsenal nuclear.

“Pensei que era mais fácil”

“Tenho mais trabalho que na minha vida passada. Pensei que era mais fácil”. A confissão é de Donald Trump que, mais uma vez, parece ter subestimado o trabalho que exige gerir a maior potência económica e militar do mundo.

Ao final de 100 dias na Presidência, Donald Trump diz que pensava que a sua vida passada como empresário do ramo imobiliário e apresentador de um reality-show era mais exigente do que ser Presidente dos Estados Unidos. Tal como no caso da Coreia do Norte, como do sistema de saúde norte-americano, Trump admite ter subestimado as complexidades do cargo que assumiu.

Donald Trump explicou ainda à Reuters que se sente fechado num casulo e que tem saudades de conduzir.