Portugal teve uma maior percentagem de bactérias resistentes da espécie Klebsiella pneumoniae em 2016 do que em 2013. Este agravamento contraria a situação geral na Europa em que há uma estabilização da taxa de resistência desta bactéria que é muitas vezes responsável pelos surtos de infeção hospitalar. Os dados sobre a frequência de bactérias multirresistentes na Europa foi divulgado esta quarta-feira pelo Centro Europeu para a Prevenção e Controlo da Doença (ECDC, na sigla em inglês).

A nível nacional, houve não só uma maior percentagem de casos de Klebsiella pneumoniae resistentes a antibióticos de terceira linha, como também aos carbapenemos — antibióticos de última linha (usados quando todos os outros falham). Se estas bactérias se tornarem também resistentes ao antibiótico colistina (um antibiótico mais antigo, usado agora como último recurso), deixa de existir uma solução viável para o tratamento destes doentes. A nível europeu, a Roménia e a Grécia apresentam as situações mais preocupantes de resistência à colistina, mas Itália também precisa de ficar alerta.

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A resistência antimicrobiana, um grave problema de saúde pública, surge quando as bactérias desenvolvem resistência a um ou vários antibióticos, podendo chegar à situação extrema de nenhum antibiótico ser capaz de eliminar essa bactéria. Os hospitais são um dos locais onde estas bactérias se espalham com mais facilidade. Se não se conseguir controlar o aparecimento destas bactérias multirresistentes, podem estar comprometidos procedimentos comuns, como cirurgias ou partos, por deixarem de existir antibióticos eficazes para combater as infeções.

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O uso regrado de antimicrobianos, a prevenção das infeções hospitalares e as estratégias para controlar a propagação do surto são peças fundamentais para combater a disseminação de bactérias resistentes a um ou mais antibióticos.

O relatório inclui 30 países: os 28 países da União Europeia, mais Islândia e Noruega. Os dados foram compilados pela Rede de Vigilância para a Resistência Antimicrobiana na Europa (European Antimicrobial Resistance Surveillance Network), coordenada pelo ECDC. Este relatório mostra um padrão claro, a situação de resistência antimicrobiana é maior nos países do sul da Europa e da Europa de leste do que no norte da Europa.

E se os antibióticos deixarem de tratar infeções?

Os países que apresentam uma maior percentagem de situações de bactérias multirresistentes, em geral, são aqueles que também têm uma maior percentagem de bactérias resistentes aos antibióticos de última geração. São também estes países que têm mais dificuldade em combater a resistência antimicrobiana e que apresentaram, regra geral, pior desempenho do que em 2013.

A situação com a bactéria Klebsiella pneumoniae é particularmente preocupante porque, em um terço dos casos reportados, as bactérias mostraram-se resistentes a pelo menos um dos antibióticos de terceira ou de última linha. A resistência a mais do que um antibiótico deste tipo mostrou-se também comum. O único sinal de esperança é a estabilização do número de bactérias resistentes em alguns países da Europa.

Já no caso da bactéria Escherichia coli — que vive naturalmente no nosso corpo, mas que pode tornar-se um agente infeccioso grave — o percentagem de casos de resistência têm aumentado, de forma geral, na Europa. A resistência a antibióticos de terceira linha é comum, especialmente no sul e sudeste da Europa, mas, por enquanto, ainda não existem relatos significativos de resistência ao antibiótico de última linha — carbapenemos.

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Outro caso preocupante são as bactérias do grupo Acinetobacter, comuns em surtos hospitalares e muito difíceis de eliminar se se tiverem estabelecido. Dez dos 26 países que forneceram resultados sobre esta bactéria apresentam mais de 50% dos casos com resistência a mais do que um antibiótico. Portugal estava nesta situação em 2013, mas os dados de 2016 mostraram uma diminuição da frequência de casos multirresistentes.

O esforço dos Estados-membros da União Europeia no combate às bactérias Staphylococcus aureus resistentes a meticilina (MRSA, na sigla em inglês) têm mostrado resultados positivos. Mas o ECDC considera que há ainda muito trabalho a ser feito, visto que 10 dos 30 países considerados têm níveis de MRSA superiores a 25%, incluindo Portugal.

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Correção: o relatório refere-se a percentagem de bactérias resistentes no total de bactérias daquela espécie (e não número de casos). Assim, trata-se de frequência e não de incidência.