A dirigente da Frente Nacional (FN), Marine Le Pen, vai encontrar-se esta quarta-feira com outros partidos de extrema-direita e eurocéticos para tentar criar um bloco no Parlamento Europeu (PE).

Atualmente há sete grupos políticos oficiais no PE. Apesar de serem presença no Parlamento há alguns anos, os partidos de extrema-direita nunca conseguiram reunir-se num bloco. Se conseguissem fazê-lo agora (a data-limite para o início da nova legislatura é o dia 23 de junho), poderiam receber mais de 2 milhões e meio de euros, ter tempo de antena e gozariam de um papel mais significativo a nível legislativo.

No entanto, a tarefa não será fácil, uma vez que Le Pen precisa de reunir 25 deputados de sete países diferentes para concretizar esse objetivo. A vitória histórica da FN nas eleições europeias, onde o partido de Le Pen alcançou 25% dos votos, permitiu à extrema-direita francesa eleger 24 deputados. O mais difícil será mesmo reunir os outros seis países necessários.

Marine Le Pen já garantiu que não fará aliança com os partidos ainda mais à direita do que a FN, como o Jobbik na Hungria e a Aurora Dourada na Grécia, que são geralmente associados ao anti-semitismo e ao racismo e recorrem muitas vezes a simbologia nazi. Le Pen descartou também um possível encontro com Udo Voigt, deputado eleito pelo partido neonazi NPD.

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Como explica o Guardian, Marine Le Pen passou os últimos anos a tentar limpar a imagem da Frente Nacional, vista como um refúgio de simpatizantes nazis. O pai de Marine, Jean-Marie Le Pen, fundador da FN, disse uma vez que o Holocausto era apenas um detalhe na história da II Guerra Mundial.

Mas ainda há quem associe a Frente Nacional às declarações de Le Pen pai. Antes de serem conhecidos os resultados das eleições, surgiram alguns rumores de que o UKIP de Nigel Farage podia ser tentado a juntar-se ao bloco de extrema-direita. Mas, tal como disse Riccardo Marchi, investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS), ao Observador, Farage é pró-Israel e continua a ver a Frente Nacional de Le Pen como um partido nacionalista anti-semita.

A especialista em Europa da France 24, Caroline de Camaret, disse que o UKIP era um “partido diferente”. Segundo Camaret, os eurocéticos ingleses “não querem apenas sair do euro, pois o Reino Unido não pertence ao euro, mas querem sair da União Europeia”. Também por isso não quererá juntar-se à FN.

Na terça-feira, Marine Le Pen mostrou-se confiante na criação do bloco: “Há um grupo de movimentos que, na minha opinião, estão interessados em fazer parte de uma força política cujo objetivo pode ser o de prevenir qualquer avanço em direção ao federalismo europeu”.

A Liga Norte italiana prepara-se para abandonar o grupo Europa da Liberdade e da Democracia (ELD) – o bloco de direita e eurocético liderado por Nigel Farage – e juntar-se a Le Pen. “Vou estar com Marine Le Pen em Bruxelas na quarta-feira e vamos fazer um balanço destas eleições. Vamos trabalhar numa agenda comum e numa equipa. As nossas primeiras batalhas serão contra o euro e a imigração”, disse Matteo Salvini, líder da Liga Norte, citado pelo EUobserver.

A reunião entre os italianos e Le Pen não será a única a ocorrer esta semana. O Partido da Liberdade holandês, de Geert Wilder, o Partido da Liberdade Austriaco, o Interesse Flamengo belga e os Democratas Suecos (SD) irão discutir como transformar a Aliança Europeia para a Liberdade de Le Pen num grupo parlamentar oficial.

Mas o bloco de Farage quer continuar a existir e para isso espera compensar a saída da Liga Norte com novos membros recrutados entre os 60 novos eurodeputados anti-UE. Pode ser esse o caso do Congresso da Nova Direita da Polónia. De acordo com o El País, Farage leva vantagem sobre Le Pen e conta com o apoio do Partido Libertário Checo, do grego Anel e do lituano Ordem e Justiça.

Segundo o EUobserver, o Partido Popular Dinamarquês poderá retirar os quatro deputados deste bloco. Também de saída podem estar os dois deputados do partido Verdadeiros Finlandeses.

Quer os finlandeses, quer os dinamarqueses, podem juntar-se ao grupo de Europeus Conservadores e Reformistas (ECR). Seja como for, não apoiarão a FN. A Alternativa para a Alemanha, os Gregos Independentes e o Pessoas Vulgares e Personalidades Independentes – ambos eslovacos – podem juntar-se também aos conservadores.

Os deputados eleitos por partidos nazis – um alemão do NPD, três gregos da Aurora Dourada e três húngaros do Jobbik – não vão integrar nenhum destes blocos.