Um atirador de 26 anos, Redouane Lakdim, sequestrou esta manhã várias pessoas num supermercado de Trèbes, perto de Carcassonne, no sudoeste de França, a 700 km de Paris. O sequestro terminou ao início da tarde, resultando em três mortos e 16 feridos. Entre as vítimas mortais pensava-se inicialmente estar um português, notícia entretanto desmentida pela família. O secretário de Estado das Comunicados, José Luis Carneiro, já apresentou as suas desculpas pela confusão que atribuiu a erros de comunicação entre as várias entidades.

Lakdim era conhecido das autoridades e sabe-se agora que já tinha sido detido várias vezes. Em 2011, foi condenado a um mês de pena suspensa por porte de armas e em 2015 passou um mês na cadeia por tráfico de estupefacientes. Entre 2016 e 2017 foi vigiado pelos serviços de inteligência franceses mas não havia indícios de que houvesse uma passagem efectiva a atos de agressão. A explicação foi dada pelo procurador do Ministério Público, François Molins, às 19h30 (hora local, 18h30 hora de Lisboa), altura em que também anunciou ter sido detido um cúmplice.

A detenção deste segundo indivíduo — uma mulher cuja identidade não foi revelada — terá ocorrido uma hora antes da conferência de imprensa e, segundo Molins, ela era “íntima” de Lakdim, partilhando com ele vários aspetos da vida. O procurador anunciou também que esta mulher está ligada a uma célula terrorista.

[Veja no vídeo como um militar salvou os reféns e se tornou no novo herói de França]

A imprensa francesa dava, minutos antes da conferência, conta de uma rusga ao bairro onde vivia o atirador.

Durante a conferência, Molins confirmou muitas das informações que foram sendo divulgadas ao longo do dia a conta-gotas. Entre elas, a notícia de que o sequestrador foi abatido pelas autoridades.

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Ao início da tarde, o ministro francês do Interior, Gérad Collomb, fez saber que o atacante era um jovem de Carcassone, conhecido das autoridades, mas por pequena delinquência. “Pensámos que não havia radicalização”, disse o ministro. Sabe-se também que Redouane Lakdim nasceu em Marrocos e vivia com os pais e as irmãs em Carcassonne. Era um frequentador assíduo da mesquita da zona e era visto pelos vizinhos como um rapaz simpático.

O ataque já foi, no entanto, reivindicado pelo auto-proclamado Estado Islâmico. A agência de notícias Amaq avançou que o ataque desta manhã foi levado a cabo “por um soldado do Estado Islâmico”.

Na conferência de imprensa depois de terminado o sequestro, o ministro explicou que Lakdim agiu sozinho e que começou por roubar um carro em Carcassone: feriu o condutor — que agora se sabe que era português — e matou o passageiro com um tiro na cabeça. Depois, ao volante desse carro, a uma distância de 15 minutos do supermercado, disparou seis vezes sobre um grupo de quatro polícias que regressava do jogging. Um polícia foi ferido a tiro no ombro mas está estável e fora de perigo. O carro foi mais tarde encontrado no parque de estacionamento do supermercado.

O homem, que afirmou agir em nome do grupo terrorista Estado Islâmico, entrou no supermercado cerca das 11h00 (10h00 em Lisboa) e foram ouvidos tiro. O ministro confirmou que Lakdim foi morto na sequência da intervenção das forças de segurança para terminarem com o sequestro no supermercado.

A Reuters avançou que o atirador libertou todos os reféns e ficou dentro do estabelecimento com um coronel de 45 anos que se ofereceu como “moeda de troca”. Este agente da autoridade e outros dois polícias acabaram por ser feridos durante a investida das autoridades. O canal de televisão francês BFM TV indicou que o sequestrador exigiu a libertação de Salah Abdeslam, o único sobrevivente dos terroristas envolvidos nos ataques do Estado Islâmico em Paris, em novembro de 2015, que fizeram 130 mortos.

O primeiro-ministro francês declarou, durante a manhã, que tudo levava a crer que se tratava “de um ato terrorista”. Édouard Philippe cancelou a agenda enquanto Emmanuel Macron, o presidente francês, falou a partir de Bruxelas, fazendo declarações semelhantes: na sua opinião parecia, de facto, tratar-se de um “ataque terrorista”. No Twitter, garantiu aos habitantes de Trèbes a “total solidariedade e mobilização dos serviços do Estado”.

Horas mais tarde, por volta das 17h00 (hora local, 16h00 em Lisboa), Macron e Edouard Philippe chegaram ao Ministério do Interior francês para fazerem um ponto da situação.

Foi pouco depois desse encontro que o Presidente da República francês fez uma curta declaração, durante a qual actualizou o número de feridos, de 5 para 16, dois deles em estado grave. “O nosso país sofreu um ataque terrorista islâmico. Peço aos nossos concidadãos que estejam cientes da ameaça terrorista.”

A seguir, dirigiu uma palavra ao homem que trocou de lugar com um dos reféns e que acabou por ser ferido, estando em estado grave. “Ele salvou vidas e honrou a sua arma e o nosso país. Ele está a lutar contra a morte, e todos os nossos pensamentos estão com ele e com a sua família”, disse Emmanuel Macron.

Quase em simultâneo, o ministro do Interior, Gérad Collomb, deslocava-se ao hospital de Carcassonne para visitar as vítimas do ataque. No final, as suas palavras — tal como as de Macron — foram especialmente dirigidas ao polícia-herói, cuja identidade já foi divulgada. “Ele merece o reconhecimento da Nação.”

Arnaud Beltrame é o nome do polícia-herói.

Os relatos das testemunhas oculares

A imprensa francesa cita um cliente do supermercado que conseguiu fugir e relatou esse momento: “Um homem gritou e disparou várias vezes, eu vi a porta de uma arca frigorífica, chamei as pessoas para se esconderem. Éramos dez e ficámos lá uma hora, ouvimos mais tiros e saímos pela porta de emergência atrás dele”.

Para esta operação foram mobilizados três helicópteros da polícia militar, 80 bombeiros e várias equipas de emergência médica. O homem estaria armado com facas, pistolas e granadas e gritou “Allah Akbar” (Alá é grande) ao entrar no supermercado.

O ministro do Interior francês esteve no local mal soube do ataque e pediu, através das redes sociais, que não se propagassem fake news.