Se o NOS Primavera Sound fosse um restaurante de luxo — ou, como se diz na gíria, um fine dining –, é possível que os críticos de gastronomia lhe torcessem o nariz. O cardápio de concertos é longo e obriga a muitas escolhas e isso na gastronomia tende a ser visto com maus olhos. Dizem os especialistas que é impossível ter menus longos sem que se perca qualidade nos pratos, sem que se consiga garantir que todos os ingredientes são frescos, sem que o cliente fique baralhado entre tanta escolha.

Um festival de música com tantos palcos (neste caso, seis) também acarreta uma boa dose de frustração, em especial para os fãs mais ecléticos, ansiosos por assistir ao maior número de concertos possível. Até porque, ao contrário do que se aponta aos estabelecimentos de restauração, aqui a qualidade não sai prejudicada pela quantidade de escolhas possíveis, este ano mais concentradas, é certo, em artistas de hip hop, R&B e música eletrónica.

O indie-rock está menos predominante nas propostas musicais desta sétima edição, a decorrer entre 7 e 9 de junho, como é hábito no Parque da Cidade do Porto. Isto apesar de se contarem entre os cabeças Nick Cave, Father John Misty e Lorde. Sinal dos tempos? Talvez seja antes a consolidação da identidade do NOS Primavera Sound, espécie de “versão gourmet” do Primavera Sound catalão, como assume, aliás, a organização do festival nascido em Barcelona. Uma identidade que o distingue da concorrência.

Entre esta quinta-feira, dia 7, e sábado, dia 9, haverá quatro palcos com programação regular durante o fim de tarde e noite (palcos Seat, Super Bock, Pitchfork e NOS) e três em que se ouvirá música durante a madrugada (Primavera Bits, Radio Primavera Sound e o já citado Pitchfork). O Observador fez uma seleção dos cinco concertos a não perder esta quinta-feira, no arranque do festival.

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Waxahatchee

Palco NOS, 18h20

O nome é difícil de pronunciar (lê-se wács-aiatchee) mas a música é bem boa de se ouvir num fim de tarde soalheiro. Waxahatchee começou por ser um projeto a solo da cantora e guitarrista de Birmingham, cidade do estado do Alabama, Katie Crutchfield. Oito anos e quatro álbuns depois, é agora uma banda liderada pela norte-americana. Herdeira do melhor college-rock e indie-rock, Katie faz a música que Avril Lavigne faria se o seu skater boy fosse suburbano e gostasse de ouvir Nirvana com os amigos. Um bálsamo para os fãs de guitarras.

Father John Misty

Palco Seat, 20h25

Ele é o grande pregador da canção pop contemporânea, o lumbersexual que deve receber mais olhares lascivos da plateia por concerto. Ele é Randy Newman quando quer (“Bored in the USA”), místico quando lhe apetece (“Funtimes in Babylon” e os cogumelos que lhe fizeram descobrir a persona musical), Elton John satírico quando quer conquistar o mundo (Pure Comedy), melancómico, hoje convertido à procura da sinceridade. God’s Favourite Customer, álbum que acaba de editar, merece todos os elogios. E tornará o concerto ainda mais especial, depois de uma atuação há seis meses no Coliseu de Lisboa.

Lorde

Palco NOS, 22h

A indústria pop tem razões que a razão desconhece. Depois de um disco sensação editado aos 17 anos, Pure Heroin, a neozelandesa Lorde ganhou recentemente o reconhecimento da crítica e de algum público mais adulto com composições mais trabalhadas. Meldorama, o novo álbum, não deixa de ser pop juvenil mas é pop mais apurada e delicada, na fronteira entre o universo indie e o júbilo de estádios. Talvez seja da idade. Apesar do reconhecimento que a presença num festival alternativo prova, o apelo de massas parece ter diminuído. Espera-se um concerto emocional e algumas lágrimas em rostos adolescentes, barbudos e não barbudos.

Tyler the Creator

Palco Seat, 23h20

Se o hip-hop é o género musical mais popular desta década, Tyler the Creator é um dos rappers que acrescenta diversidade ao movimento. Começou em 2011, com o álbum Goblin, mas foi ao quarto disco que deixou de ser uma promessa para se tornar num certeza. Flower Boy, editado no ano passado, é o álbum em que Tyler the Creator alia ao seu registo semipsicótico (a que alguns chamam rap horrorcore) uma musicalidade rica e abrangente nos géneros de que se apropria, do jazz aos coros neo-soul. Meio enfant terrible, meio menino bonito, o ex-membro do coletivo Odd Future mistura rimas ácidas com momentos íntimos. “Ando a beijar rapazes brancos desde 2004”, assumia no último disco. É uma estreia em Portugal e é a não perder.

Jamie XX

Palco Seat, 00h25

O membro dos The XX conta com várias passagens por Portugal, seja a solo (como se apresentará no NOS Primavera Sound) seja com a banda britânica. Tanto que em julho voltará para atuar com os The XX no Super Bock Super Rock. Jamie não edita um álbum a solo desde In Colour, de 2015, e podem chamar-lhe geek porque ele estudou a fundo a matéria da canção eletrónica. Será o primeiro a transformar o Parque da Cidade numa grande discoteca a céu aberto. Menos presente em palcos portugueses, e atuando num horário tardio só para os mais resistentes (começa às 3h), o set do alemão Daniel Plessow é imperdível para os fãs de música de dança. Conhecido pelo nome artístico Motor City Drum Ensemble, Plessow mistura funk, house, disco, techno e mais uma catrefada de géneros com um bom gosto quase ímpar.