Um tribunal turco decidiu esta quarta-feira proibir o acesso às páginas da internet que exibem a capa da mais recente edição do semanário francês satírico Charlie Hebdo. A informação é avançada pelo Hürriyet Daily News, o jornal diário publicado em inglês mais antigo da Turquia e por vários órgãos de comunicação social, como a CNN.
A posição assumida pelo tribunal turco surge na sequência de uma queixa motivada pelo facto de o jornal turco Cumhuriye ter publicado um artigo de quatro páginas sobre a nova edição do jornal satírico francês, que traz mais uma caricatura de Maomé. A decisão editorial criou grande polémica e mereceu duras críticas de alguns membros do Governo turco, que a descreveram como uma “provocação”.
Uma das vozes mais críticas para com o jornal turco foi Yalçın Akdoğan, o vice-primeiro-ministro da Turquia, que escreveu no Twitter:
“Os que desprezam os valores sagrados dos muçulmanos ao publicarem desenhos supostamente referentes ao nosso Profeta estão claramente a cometer uma provocação. O facto de aqueles que, de forma irresponsável, decidem fazer dos valores da sociedade um alvo, o expressarem publicamente através dos media ou da arte, não altera a natureza agressiva [dos seus comentários]”, escreveu Yalçın Akdoğan.
A decisão do tribunal turco e as declarações consequentes do vice-primeiro parecem, no entanto, contrariar a posição oficial assumida pelo Governo turco. É que no domingo, o líder do Executivo, Ahmet Davutoğlu – primeiro-ministro daquele país – participou na marcha pelos valores da República e pela liberdade de expressão. Uma iniciativa que juntou em Paris dezenas de líderes políticos e religiosos sob o lema “Je Suis Charlie”.
Também esta quarta-feira, a polícia parou camiões que saíram da gráfica do jornal turco e só os libertou após 40 minutos de buscas e depois de terem confirmado que a primeira página da edição do Charlie Hebdo desta semana não tinha sido impressa.
Já na terça-feira a polícia tinha estado na redação do Cumhuriyet para tentar travar a distribuição do Charlie Hebdo no país. Porém o jornal acabou por dedicar quatro páginas a esta edição, com a direção a dar garantias de que a primeira página, com a caricatura de Maomé, não seria divulgada.
“Enquanto preparávamos este suplemento, e mantendo os nossos princípios editoriais, tivemos em atenção as sensibilidades religiosas assim como a liberdade de religião na nossa sociedade”, disse o chefe de redação do Cumhuriyet, Utku Çakirözer, no Twitter. “Não incluímos a capa da revista depois de uma longa deliberação”, acrescentou. A religião muçulmana proíbe a representação dos profetas.